Ministro da Defesa aguarda auditoria a obras no hospital de Belém e admite consequências

João Gomes Cravinho já havia assinalado que houve “um desvio muito significativo em relação à estimativa inicial” das obras do hospital.

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João Gomes Cravinho, ministro da Defesa Nacional LUSA/TIAGO PETINGA

O ministro de Defesa Nacional adiantou nesta quarta-feira, no Parlamento, que pediu à Inspecção-Geral de Defesa Nacional uma auditoria à derrapagem do custo da requalificação do antigo Hospital Militar de Belém e admitiu que poderá ter consequências. O ministro João Gomes Cravinho foi ouvido na Comissão de Defesa Nacional na Assembleia da República, por requerimento do BE e PSD.

“Solicitei a 24 de Julho uma auditoria à Inspecção-Geral da Defesa Nacional [IGDN]”, anunciou aos deputados, indicando que, face aos resultados, serão tiradas as “devidas consequências”. Apesar de não ter referido em que data está prevista a entrega da auditoria, o ministro da Defesa disse que se encontra “na fase final”.

“Se, perante este cenário, eu envio matéria para a IGDN, é porque há perguntas para as quais eu não tenho resposta, e quero ter essa resposta”, para esclarecer o Parlamento e “outras entidades que possam estar interessadas”, acrescentou o governante.

João Gomes Cravinho assinalou que houve “um desvio muito significativo em relação à estimativa inicial”, que “tinha sido de 750 mil euros mais IVA”, mas indicou que existiu “um aumento da área intervencionada” e a obra foi feita “em tempo recorde”.

Antes, o ministro da Defesa salientou uma “grande satisfação pela qualidade da obra”, pois permitiu ter “uma infra-estrutura renovada” que estava “devoluta há quase uma década”, e que “será aproveitada em benefício dos portugueses”.

Assim, “há uma valorização do activo que é superior ao que inicialmente estava previsto”, destacou, classificando o antigo hospital militar como “um equipamento relevante” e um “activo de especial importância”, que será “devidamente valorizado pelas Forças Armadas”. Por isso, defendeu que “é dinheiro que não se perde”, pois é “uma resposta nova” que pode ser oferecida.

“Estamos confiantes de que tomámos uma decisão correcta ao apostar no hospital”, frisou João Gomes Cravinho, indicando que neste momento a unidade alberga “25 pessoas” num total de “130 que por lá passaram” no âmbito da resposta à pandemia de covid-19.

O ministro da Defesa garantiu igualmente que estão a decorrer “negociações para aumentar a disponibilidade de camas para responder a eventuais necessidades no futuro” colocadas pela covid-19, pelo que o hospital “ainda vai ser muito útil nos tempos mais próximos”.

“No futuro mais longínquo mantém-se a ideia de destinar a infra-estrutura a cuidados continuados”, assinalou, indicando que o hospital “ficará sob responsabilidade do Hospital das Forças Armadas, que estabelecerá um acordo”.

O ministro disse ainda que “é preciso fazer a negociação devida, com a Santa Casa da Misericórdia e com a Câmara Municipal de Lisboa”, e que “ainda não tem linha de tempo definida”, porque o hospital se manterá integrado na resposta à covid-19 “enquanto for necessário”.

Nas intervenções, os partidos criticaram a “derrapagem brutal” do custo da obra e mostraram-se preocupados com o desvio de verbas de outros sectores para esta requalificação.

Em meados de Agosto, a Associação Salgueiro Maia anunciou que o antigo Hospital Militar de Belém vai ser baptizado com o nome do capitão de Abril, e que o equipamento será cedido por 25 anos à Câmara Municipal de Lisboa (CML).

“A engenharia procedimental tripartida prevista será a cedência temporária reversível do Ministério da Defesa Nacional (MDN) à CML, por um período de cerca de 25 anos, eventualmente renovável, integrando-a na parceria que já se encontra ‘agilizada’ com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) de transformar aquela infra-estrutura numa grande unidade de cuidados continuados integrados (UCCI)”, lê-se em comunicado da Associação Salgueiro Maia.

Na mesma altura, o Diário de Notícias noticiou que aquela unidade hospitalar teve a reabilitação de “três dos cinco pisos para reforço do Serviço Nacional de Saúde no internamento de doentes com covid-19, embora aqui apenas os de gravidade ligeira ou assintomáticos”.

Segundo aquela publicação, o custo total da intervenção foi de 2,6 milhões de euros, mais de três vezes os 750 mil inicialmente estimados.

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