À espera do dinheiro europeu, Loures e Odivelas planeiam metro de superfície

Projecto fará parte do Plano de Recuperação e Resiliência que o Governo vai apresentar à Comissão Europeia. Bernardino Soares acredita que o transporte será atractivo para os residentes do concelho e para quem se desloque da região Oeste.

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Francisco Romao Pereira

“Água mole em pedra dura” pode em breve tornar-se o ditado favorito dos lourenses. Depois de anos a insistir na necessidade de levar o transporte ferroviário ao concelho, a Câmara de Loures vai na quarta-feira dar um primeiro passo para que isso se torne realidade, aprovando um protocolo com a Câmara de Odivelas e o Metro de Lisboa para a criação de um metro ligeiro de superfície.

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“Água mole em pedra dura” pode em breve tornar-se o ditado favorito dos lourenses. Depois de anos a insistir na necessidade de levar o transporte ferroviário ao concelho, a Câmara de Loures vai na quarta-feira dar um primeiro passo para que isso se torne realidade, aprovando um protocolo com a Câmara de Odivelas e o Metro de Lisboa para a criação de um metro ligeiro de superfície.

A futura linha de transporte deverá ter 12,4 quilómetros e dois braços, um a funcionar entre a estação de Odivelas e o Hospital Beatriz Ângelo; outro entre Odivelas e o Infantado. O traçado está a ser estudado pelo Metro de Lisboa desde o fim do ano passado e corresponde sensivelmente ao que foi anunciado em 2009, quando a então secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, aprovou um plano de expansão que não chegou a sair do papel.

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A diferença é que agora a opção recai sobre um metro de superfície, semelhante aos do Porto e de Almada, e não num subterrâneo, como existe em Lisboa, pois isso requeria gastar mais dinheiro e mais tempo de obras. O presidente da Câmara de Loures diz que se prevê um investimento “entre 250 a 300 milhões de euros” e que o projecto é para concretizar nos próximos anos, embora não se comprometa com prazos.

O financiamento para a obra deverá vir, em grande parte, do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) que o primeiro-ministro apresentou na semana passada ao lado da presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, e que tem 2026 como horizonte temporal. Isto significa que, a confirmar-se a injecção de dinheiro europeu, esta linha de metro poderá estar construída antes mesmo da linha de eléctrico entre o Jamor e Sacavém que os autarcas de Oeiras, Lisboa e Loures anunciaram há algumas semanas – cujo financiamento deverá vir do próximo quadro comunitário de apoio, com prazo para terminar em 2030.

Antes de tudo isso, porém, há ainda muitos passos pela frente. O Governo quer submeter a versão final do PRR a Bruxelas no princípio de 2021 e tem de esperar pela aprovação dos projectos que lhe garanta a tranche necessária. Entretanto, de acordo com o protocolo que vai ser celebrado entre Loures, Odivelas e o Metro, cabe à empresa pública de transporte “desenvolver os estudos prévios”, fazer a “avaliação da viabilidade” e a “concepção do projecto” de modo a que no prazo de 14 meses seja possível avançar para a fase seguinte, a da construção.

“Isto é daquelas coisas absolutamente consensuais”, diz o autarca de Loures, Bernardino Soares, que nos últimos anos se desdobrou em iniciativas para convencer o Governo da “urgência” de investir nos transportes públicos para o município. Bernardino faz notar que Loures é a única sede de concelho da zona norte da Área Metropolitana de Lisboa sem ligação ferroviária à capital e afirma que a solução agora encontrada é virtuosa. “Parece-nos que esta implantação no terreno abre boas perspectivas de apanhar centenas de milhares de pessoas que vivem nas imediações e também as pessoas que vêm da região Oeste.”

Embora ainda não esteja totalmente decidido qual será o material circulante, o autarca de Loures afirma que a solução em estudo é diferente dos eléctricos articulados usados pela Carris, em Lisboa, na carreira 15E, que não têm grande capacidade para transporte de massa. O futuro metro poderá circular em composições de três carruagens com espaço para 720 passageiros em simultâneo, o que para Bernardino Soares “é uma capacidade bastante significativa”, embora fique aquém do volume de pessoas actualmente transportado pelo Metro de Lisboa. Um comboio de seis carruagens tem espaço para cerca de 1000 passageiros.

Este “é um projecto indispensável para uma rede metropolitana que seja coerente”, conclui o presidente da câmara. A confirmarem-se todos os projectos anunciados nos últimos meses, até ao fim desta década o metro poderá estender-se, por túnel ou à superfície, entre o Jamor e Sacavém, entre o Infantado e o Cais do Sodré. Tudo depende do dinheiro da Europa.