Farense desinibido assusta Benfica na Luz

“Encarnados” sofreram e muito perante os algarvios, que repartiram o jogo do princípio ao fim. Triunfo deixa as “águias” na liderança isolada da Liga.

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LUSA/JOSE SENA GOULAO

Quando perguntaram a Jorge Jesus, na antevisão da 3.ª jornada, que Farense esperava no Estádio da Luz, o técnico apostou num adversário mais virado para atrair o Benfica e activar as transições. Enganou-se. Os algarvios mostraram neste domingo, em Lisboa, uma faceta desinibida, personalizada, autoritária, até, e venderam cara a derrota (3-2), até ao derradeiro segundo. Apesar das dificuldades, os “encarnados” ganharam mesmo e isolaram-se na liderança do campeonato. 

Cedo se percebeu que o Farense tinha entrado em campo para discutir o jogo. A atacar em 4x3x3 e a defender em 4x5x1, com uma ocupação rigorosa dos espaços no corredor central, a equipa orientada por Sérgio Vieira foi capaz de anular o jogo entre linhas do Benfica e de minar a qualidade das decisões individuais do adversário.

A questão que se impunha, nessa altura, era até quando seria o Farense capaz de manter a abordagem. Até quando aguentaria fisicamente um plano de jogo tão ambicioso quanto exigente, que partia da projecção dos laterais (Alex Pinto à direita e Fábio Nunes à esquerda) para condicionar as acções de Everton e Rafa, e contava com um trio no miolo disciplinado e trabalhador.

A iniciativa dos algarvios, regressados nesta época ao escalão principal, reduziu os lances de perigo do Benfica praticamente a transições ofensivas. E foi numa delas que chegou ao golo, aos 15’: Rafa recuperou a bola na linha do meio-campo, arrancou e assistiu Pizzi, que na passada inaugurou o marcador.

Poderia ter sido um momento desbloqueador para as “águias” e de algum bloqueio mental para os visitantes, mas aconteceu o inverso. O Farense insistiu em manter a iniciativa e assustou o rival num par de lances (especialmente um cabeceamento de Stojiljkovic) antes do intervalo.

Esperava-se uma redefinição do plano de jogo de Jorge Jesus nos balneários, que devolvesse o controlo ao Benfica. Porém, foi mesmo o Farense a entrar mais afoito, a variar com qualidade o centro do jogo e a obrigar o adversário a bascular — e muitas vezes a desorganizar-se.

Essa audácia deu frutos aos 54’, um minuto depois de Vlachodimos ter travado um penálti de Ryan Gauld (por duas vezes, já que o guarda-redes tinha cometido uma infracção no primeiro). No canto daí resultante, Jonathan Lucca ganhou a Otamendi e cabeceou para o empate. 

Claramente por cima do jogo, os algarvios ainda voltaram a introduzir a bola na baliza “encarnada”, por Fabrício Isidoro, mas Ryan Gauld estava adiantado no momento em que fez a assistência e esse susto parece ter despertado um pouco a auto-estima do Benfica, que operou três alterações de uma assentada. 

Uma delas resolveu o encontro. Seferovic substituiu um Waldschmidt sem qualquer preponderância na partida e recolocou os “encarnados” em vantagem aos 78’, depois de uma rápida incursão de Grimaldo pelo corredor esquerdo, culminada com um cruzamento teleguiado.  

Obrigado a arriscar mais, o Farense redobrou a exposição a transições e foi numa delas que o avançado suíço bisou (87’), com o contributo de Darwin, que, à falta de golos, somou a quarta assistência nesta época. 

A perder por 3-1, Sérgio Vieira lançou um médio (Bura) e um avançado (Pedro Henrique), mas seria outro dos jogadores saídos do banco a reduzir, já aos 90+5’. Otamendi facilitou no corredor central, quando era o último homem, e deixou Patrick isolado, com o cabo-verdiano a aproveitar a benesse. 

Não chegou para o Farense pontuar pela primeira vez (tem três derrotas em três jogos), mas chegou para assustar um candidato ao título e para provar que o leque de equipas portuguesas a praticarem um futebol audaz está a aumentar. Basta olhar para os números: 55%-45% em posse de bola, 15-12 em remates, 7-7 em cantos.

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