PEV propõe inquérito nacional sobre desperdício alimentar

Projecto de lei defede que iniciativa só deve realizar-se após a pandemia de covid-19.

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Os Verdes querem saber a dimensão do desperdício alimentar em Portugal Miguel Manso

Os deputados do Partido Ecologista Os Verdes (PEV) propõem a realização de um inquérito nacional ao desperdício alimentar com vista a recolher dados sobre o nível de perdas em todas as fases da cadeia alimentar. O projecto de lei é anunciado esta terça-feira, em que se assinala, pela primeira vez por designação das Nações Unidas, o dia internacional da consciencialização sobre perdas e desperdício alimentar.

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Os deputados do Partido Ecologista Os Verdes (PEV) propõem a realização de um inquérito nacional ao desperdício alimentar com vista a recolher dados sobre o nível de perdas em todas as fases da cadeia alimentar. O projecto de lei é anunciado esta terça-feira, em que se assinala, pela primeira vez por designação das Nações Unidas, o dia internacional da consciencialização sobre perdas e desperdício alimentar.

O inquérito deverá englobar “alimentos destinados ao consumo humano que acabaram por ser inutilizados em quantidade ou em qualidade” e ter em conta que “estas perdas alimentares se dão em todas as fases da cadeia alimentar (na produção, no processamento, no armazenamento, no embalamento, no transporte, na disponibilização nos pontos de venda e no consumo)”, de acordo com um comunicado do PEV.

Os deputados ecologistas consideram que “o primeiro passo necessário para combater as perdas alimentares é ter consciência de que o problema existe” e que “o segundo passo é perceber com rigor qual a sua dimensão e quais as suas causas”.

O projecto de lei não impõe prazos para a realização do inquérito por considerar que se deve decorrer “quando a vida da generalidade dos portugueses estiver normalizada” face à crise da pandemia até porque o projecto envolve “meios humanos de grande dimensão”. No entanto, o PEV defende que, até existirem condições para a iniciativa avançar no terreno, se deve preparar todo o processo.

O dia internacional da consciencialização sobre perdas e desperdício alimentar é também assinalado pela JSD com o lançamento de um vídeo de sensibilização sobre o tema. “Não só o desperdício alimentar tem enormes custos ambientais e económicos mas, acima de tudo, tem custos sociais inadmissíveis numa sociedade moderna. Consideramos que a estratégia nacional para o desperdício alimentar carece de metas ambiciosas e divulgação da sua execução”, segundo o líder da JSD Alexandre Poço.

Em comunicado, a JSD defende a mudança de comportamentos de produtores, retalhistas e consumidores. “Muitas vezes, a sensibilidade está na articulação entre os retalhistas e as instituições de solidariedade social. Para as instituições seria muito importante a doação de bens alimentares que já não serão vendidos, mas, por vezes, faltam-lhes os meios técnicos e/ou humanos para a sua recolha, em segurança, nos horários praticados pelas superfícies comerciais. É crucial trabalharmos para diminuir este desencontro, fazendo chegar bens que têm condições de consumo a quem mais precisa. Enquanto sociedade, temos o dever de não deixar ninguém para trás”, afirma Alexandre Poço, que é também deputado.

Criado movimento contra o desperdício

A propósito deste dia internacional, foi anunciado também a criação do movimento “unidos contra o desperdício”, uma iniciativa da sociedade civil portuguesa fundada por várias entidades congregadas na Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares.

Em comunicado, o movimento apresenta-se como “cívico e nacional, congregador e agregador, que une a sociedade num combate activo e positivo ao desperdício alimentar”, contando com o apoio do secretário-geral, António Guterres, mas também do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

“A realidade do desperdício é um contra-senso do ponto de vista económico, ambiental e social e tem merecido a atenção de muitos agentes de vários sectores que agora se reúnem para, de forma activa, chamar a atenção para uma questão que só poderá ser minorada com a vontade de todos”, defende o movimento num comunicado citado pela Lusa.

Segundo os dados recolhidos por esta iniciativa, “o desperdício de alimentos é responsável pela emissão de gases de efeito de estufa equivalente à rede global dos transportes terrestres, contribuindo para o aquecimento global”.

“Se este desperdício fosse aproveitado, seria suficiente para alimentar dois mil milhões de pessoas. Daria para dar de comer duas vezes a todos aqueles e aquelas que passam fome em todo o mundo”, sublinha.

Por outro lado, destaca que só na Europa há 88 milhões de toneladas de alimentos que são desaproveitados todos os anos, “com um custo estimado de 143 milhões de euros”.

“Em Portugal, embora não existam dados oficiais, estima-se que 1 milhão de toneladas de alimentos são deitados para o lixo, que dariam para alimentar as 360 mil pessoas com carências alimentares no nosso país”, aponta.

O objectivo deste movimento é “facilitar o aproveitamento de excedentes, tornando habitual a luta contra o desperdício alimentar, incentivar a doação de sobras, bem como promover um consumo responsável”, lê-se no comunicado.

O movimento junta empresas, instituições, sector público e privado e “várias gerações em torno do objectivo único de lutar contra o desperdício alimentar”, já que se trata de uma realidade com dimensão mundial que todos os anos afecta um terço da produção alimentar de todo o mundo, segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).

Como membros fundadores estão a Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), a Associação Portuguesa de Logística (Aplog), a Câmara Municipal de Lisboa no âmbito da Lisboa Capital Verde Europeia 2020 (CML), a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), a Confederação Empresarial de Portugal (CIP), a Comissão Nacional de Combate ao Desperdício Alimentar (CNCDA), a Dariacordar/Zero Desperdício, a Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares (FPBA) e a Refood.