A covid-19 deu-nos outro balão de oxigénio

Resistir não é necessariamente recuperar. Será o sucesso ou insucesso do plano de recuperação que irá ditar o resultado. Aí se perceberá o que valemos como país.

Assim como esta vaga de infecções pela covid-19 é um prolongamento da anterior, o estado de contingência que vivemos de novo é um prolongamento do estado de excepção em que nos descobrimos em Março passado. Andamos desde então a tentar evitar a ruptura dos serviços de saúde, das empresas, enfim, da economia.

O que o Estado tem para nos oferecer são medidas que ajudam a prolongar um balão de oxigénio periclitante, que nos salve do descalabro. As medidas aprovadas esta quinta-feira em Conselho de Ministros são sensíveis a essa necessidade de compasso de espera em que a pandemia depositou o país e a maioria do globo.

O prolongamento das moratórias para que as empresas reforcem a sua liquidez ou a diferenciação dos apoios em função dos sectores, desde que estas empresas não distribuam dividendos, lucros, reembolsem créditos a sócios ou adquiram acções ou quotas próprias, são decisões éticas que estão para além de qualquer querela partidária ou ideológica em vésperas de discussão orçamental.

Era sensato que a banca fizesse o mesmo com os créditos à habitação, como fez em Março passado, para que grande parte da população também pudesse reforçar a sua liquidez e a sua situação actual se prolongasse sem interrupção, porque é disso que se trata.

O facto de termos atingido os níveis mais elevados de poupança neste século, depois do discurso sobre a irresponsabilidade de “vivermos acima das nossas possibilidades”, não se deverá apenas ao confinamento de quem trabalha à distância ou ao fecho de serviços. Há nessa poupança uma prudência responsável, que só tem uma causa: a incerteza, a todos os níveis, quanto ao futuro do emprego, da economia e, já agora, da saúde.

Estas medidas são contributos para a resiliência, como agora se diz, mas só garantem o prolongamento, e não o resultado mais favorável no final do jogo. Acresce que o jogo está mais emaranhado do que nunca e o consenso de Março já se esboroou. Marcelo quer um Orçamento aprovado à esquerda e esta, para quem a “geringonça” é melindrosa, diz que o PS quer é entender-se à direita. À direita, todos ralham e ninguém se entende. Resistir não é necessariamente recuperar. Será o sucesso ou insucesso do plano de recuperação que irá ditar o resultado. Aí se perceberá o que valemos como país.

Sugerir correcção