Lares de idosos – a pirâmide tomba pela base!

Sete meses volvidos do primeiro caso de covid-19 em Portugal, o Governo finalmente ficou a perceber que o número de “auxiliares” existentes não só no SNS, mas também nos Lares de Idosos e Cuidados Continuados, é manifestamente insuficiente, assim como as suas condições de trabalho são especialmente censuráveis.

Contactou 670 pessoas para o Lar de Reguengos e conseguiu mobilizar apenas 35 pessoas”, afirmou Ana Mendes Godinho numa audição parlamentar conjunta com a ministra da Saúde, acrescentando que “há muitas situações em que só conseguimos a mobilização de voluntários, porque mais ninguém quer ir trabalhar durante um momento de surto”.

Sete meses volvidos do primeiro caso de covid-19 no nosso país, o Governo finalmente (?) ficou a perceber que o número de “auxiliares” existentes não só no SNS, mas também nos Lares de Idosos e Cuidados Continuados, é manifestamente insuficiente, assim como as suas condições de trabalho são especialmente censuráveis; algo que estes profissionais e o SITAS têm vindo a denunciar ao longo dos anos.

Estes constrangimentos elencados pela sr.ª ministra Ana Mendes Godinho revelam a dura constatação daquilo que os mais de 65.000 profissionais sentem diariamente e que culmina com a vergonhosa retribuição de um salário mínimo no final de cada mês.

Qualquer cidadão consegue entender a dificuldade que a tutela tem e continuará a ter com este tipo de politicas para recrutar e fixar estes profissionais. Atendendo às necessidades que todos sobejamente reconhecemos, das 670 pessoas contactadas para o Lar de Reguengos apenas 5,2% aceitaram, um pequeno reflexo da realidade de todo o País.

Qual o cidadão que, por 635€ mensais, está disposto a:

  • Trabalhar 15 horas seguidas?
  • Não ter folgas e férias!
  • Estar 15 dias afastado da sua família, a viver no seu local de trabalho!
  • Sofrer alterações constantes ao seu horário de trabalho.
  • Ser constantemente desrespeitado e vitima de assédio moral, por outras profissões, chefias e patronato.
  • Não ter uma carreira, que reconheça o seu valor profissional, e que regulamente a sua atividade.

São estes os motivos que justificam a dificuldade da contratação e manutenção destes profissionais, e não o “medo” da doença, como afirma a sr.ª ministra da Saúde, Marta Temido.

A reflexão da tutela sobre tudo isto é, segundo a Dr.ª Marta Temido, de uma grande aprendizagem; no entanto, a alteração das politicas tarda em surgir. É hora de a sr.ª ministra e da tutela darem ouvidos a quem está no terreno, e ir ao encontro das suas aspirações, sob pena de hipotecar ainda mais a saúde e o conforto da nossa população mais vulnerável.

O SITAS tem demonstrado a todos os agentes políticos o que estes profissionais ambicionam, e apenas por desprezo e falta de vontade se chegou a este ponto. Não se espere que seja apenas com a criação de “linhas telefónicas” que se vai resolver o problema; são precisas pessoas motivadas e devidamente formadas para cuidar dos nossos idosos, sob pena de se recrutar a esmo pessoas sem formação, sem vocação, e que facilmente podem vir a contribuir para a degradação da qualidade de vida dos nossos idosos. Não podemos aceitar que não se exijam competências e conhecimentos próprios a quem vai cuidar de vidas humanas. É urgente que se regulamente de uma vez por todas não só o acesso à profissão e a sua prática, mas também, na aprovação da oferta formativa existente no mercado, não é aceitável que uma formação para cuidar de pessoas seja feita exclusivamente online – esta é uma das profissões que precisa de garantir uma formação prática muito forte.

Posto isto, a solução passa por demonstrar inequivocamente o apreço que a sociedade tem por estes mais de 65.000 profissionais, regulamentando a sua profissão, facultando um plano formativo condigno, e retribuindo o seu trabalho com um vencimento decente, à semelhança do que acontece na restante União Europeia onde, a título de exemplo, estes profissionais recebem, respetivamente, 1720€ no Reino Unido, 1625€ em França, 1149€ em Espanha e 2507€ na Alemanha, em início de carreira e todos bem acima do salário mínimo dos respetivos países. A tutela deve olhar para estes números e sentir vergonha pelos 635€ que paga a estes profissionais!

Fica claro que o problema do recrutamento não está no medo que a sr.ª ministra insiste em dar como justificação, mas sim na forma como se tem tratado estes profissionais. Ou corajosamente se tomam decisões de mudança ou, finda a pandemia, tratou-se apenas de um ato de ilusionismo para com estes profissionais e todos os portugueses.

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