Discutir com escritores em Ovar (sem cercas…)

Cinco dias de livros, actividades e discussões. Mesmo com máscaras, o contacto entre leitores e escritores continua a ser o principal pretexto para o Festival Literário de Ovar.

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Gonçalo M. Tavares NFS - Nuno Ferreira Santos

A 6.ª edição do Festival Literário de Ovar começou na quarta-feira à noite, no Centro de Arte, e prossegue até domingo, dia 13, em vários equipamentos municipais da cidade. “Custou, mas vai [acontecer]”, escrevia na véspera do arranque, na sua página de Facebook, Carlos Nuno Granja, o principal responsável pelo encontro, que é promovido pela Câmara Municipal de Ovar e que este ano se descentraliza um pouco mais pelo concelho.

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A 6.ª edição do Festival Literário de Ovar começou na quarta-feira à noite, no Centro de Arte, e prossegue até domingo, dia 13, em vários equipamentos municipais da cidade. “Custou, mas vai [acontecer]”, escrevia na véspera do arranque, na sua página de Facebook, Carlos Nuno Granja, o principal responsável pelo encontro, que é promovido pela Câmara Municipal de Ovar e que este ano se descentraliza um pouco mais pelo concelho.

Nomes de escritores e poetas como Cláudia Andrade, Gonçalo M. Tavares, Francisco Moita Flores, João Rasteiro, Sara F. Costa, Luís Filipe Sarmento, entre outros, juntam-se a Pedro Lamares, Lauro António, Emanuela Nicoli, Vítor de Sousa, Elsa Serra ou ao Teatro de Marionetas de Mandrágora, numa festa que alia a leitura ao espectáculo e não esquece os mais novos.

Depois da cerca sanitária, a possibilidade de se prosseguir com eventos agendados (mesmo com máscara e distanciamento) dá alento à comunidade: “Precisamos de desconfinar, com responsabilidade é certo, mas ganhando confiança para o futuro incerto que tem avançado no tempo. A cultura tem sido fulcral para a recuperação emocional da comunidade. Assim, não pode falhar na sua função de dar ânimo e fôlego”, diz o professor bibliotecário ao PÚBLICO, via email.

Sem cercas… elitistas

Carlos Nuno Granja lembra que “desde a primeira edição o festival pretende aproximar os leitores dos escritores, permitindo a valorização do livro como elemento de união entre duas pessoas que não se conhecendo têm muito em comum”. 

À pergunta sobre se o Festival Literário de Ovar (FLO) tem cercas… elitistas, o também escritor e livreiro responde: “Nunca teve. Tem de ter critério porque tudo na vida o tem. Mas o FLO, desde o seu início, quer envolver todos e ver a sua comunidade envolvida. Este projecto nasceu e sentiu bastantes dificuldades em afirmar-se, precisamente porque sobrevive na periferia, não está sequer numa cidade de grande densidade urbana. Seria perfeito que pudesse dar resposta a todos, mas isso é impossível. O facto de sempre se ter realizado até este ano no exterior é sinónimo de proximidade, de ser um evento para todos os leitores.”

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Carlos Nuno Granja dr

Um dos dias mais intensos da programação será o de sábado, com a manhã dedicada às crianças na Biblioteca Municipal: Espaço para Literatura Infantil, às 11h, e Sessão de Contos, às 12h.

Às 16h, é tempo de rumar ao Centro Cívico de Cortegaça para um encontro com António Carlos Cortez e Ângela Almeida, com moderação de Isabel Nery. Haverá ainda tempo para o lançamento do livro Ao Rubro, de Luís Filipe Sarmento, que comemora 45 anos de vida literária. À mesma hora, o Teatro de Marionetas de Mandrágora estará em Esmoriz a apresentar A Casa dos Ventos.

À noite, 21h, a Escola de Artes e Ofícios acolhe a apresentação do livro Poética Não Oficial, Poesia Contemporânea Chinesa e será palco de uma conversa com Cláudia Andrade e Sara F. Costa, moderada por Cristina Marques. Elsa Serra fechará a sessão com Contar Histórias.

O organizador explica-nos ainda a dinâmica informal e descontraída do festival: “Não podemos ter mil escritores connosco ao mesmo tempo. Fazemos escolhas, que podem ser mais ou menos acertadas. A verdade é que adoramos a informalidade, o ambiente familiar e sermos genuínos no que fazemos. Gostamos de ser alternativa. Agora, reconhecemos a imperfeição e seguimos uma linha orientadora que só quem não faz cultura neste país e no mundo é que tem dificuldade em entender.”

Dar a conhecer autores emergentes

Nas palavras do presidente da Câmara de Ovar, Salvador Malheiro, “é num período ainda atípico, e de grandes condicionalismos, que o FLO está de regresso a Ovar, garantindo, obviamente, o cumprimento de todas as orientações e normas da DGS, de forma a salvaguardar a saúde pública de todos os intervenientes. A literatura desempenha um papel incontornável no desenvolvimento e crescimento do ser humano e, numa altura em que nos vemos privados de realizar uma série de actividades, são muitos mais os que procuram refúgio, conforto e distracção nas páginas de um livro. Aqui daremos a conhecer grandes nomes da literatura nacional, mas também autores emergentes, ampliando o leque de escolhas dos leitores”.

As sessões do FLO são gratuitas, mas nesta edição é obrigatória a inscrição e levantamento de ingressos, para se poder gerir a lotação dos espaços e respeitar as regras de distanciamento e higienização da Direcção-Geral da Saúde. As reservas podem ser feitas no Centro de Arte de Ovar ou através do email do município caovar@cm-ovar.pt.

Nesta sexta-feira, Gonçalo M. Tavares irá, à noite (21h30), à Escola de Artes e Ofícios para uma conversa moderada por Bruno Henriques (“E quando a vida é verdadeira só a vontade importa”), depois de ter orientado a oficina Escrita e Imaginação na Biblioteca Municipal (16h), a partir dos livros Atlas do Corpo e da Imaginação e Breves Notas sobre Literatura. O debate terminará com um recital de poesia com Vítor de Sousa (voz) e Emanuela Nicoli (harpa).

No último dia do encontro, domingo, além de mais uma manhã dedicada à literatura infantil e aos contos, na biblioteca, está agendada uma homenagem a Amália Rodrigues, no Centro de Arte de Ovar (15h30), com Miguel Carvalho e o cineasta Lauro António, com moderação de Marcelo Teixeira. Em seguida, Dina Sachse orientará uma oficina de ilustração.

Por último, a encerrar os cinco dias de encontros entre leitores e autores, Pedro Lamares e Rui David apresentarão, às 18h30, Como se Desenha Uma Casa, a partir do livro de poemas de Manuel António Pina.

A 17 de Abril, no final da cerca sanitária de Ovar, Carlos Nuno Granja escrevia no artigo “Fechado dentro do cerco de Ovar”, divulgado no PÚBLICO: “Em Ovar, vamos resistir e vamos levantar a cidade, as nossas freguesias, o nosso concelho. Vamos comprar nas nossas lojas, fazer rejuvenescer o nosso comércio, mostrar a fibra vareira, retomar as nossas vidas com mais solidariedade, com mais partilha, com mais amizade.”

Já começaram.