Não houve recusa de apoio médico no lar do Barreiro, garante ARS de Lisboa e Vale do Tejo

Presidente da União das Misericórdias Portuguesas afirmou que médicos do centro de saúde do Barreiro teriam recusado acompanhar residentes no lar de idosos da Santa Casa de Misericórdia local.

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LUSA/JOSE COELHO

A Administração Regional de Saúde (ARS) de Lisboa e Vale do Tejo garante que os residentes no lar de idosos São João (da Santa Casa da Misericórdia do Barreiro), onde um surto de covid-19 infectou mais de meia centena de utentes e funcionários e provocou quatro mortes, foram acompanhados presencialmente por um médico e uma enfermeira do Agrupamento dos Centros de Saúde (ACES) Arco Ribeirinho “nos dias solicitados” pela provedora da instituição, contrariando a acusação do presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), Manuel Lemos. 

O desmentido surge um dia depois de Manuel Lemos ter dito que “médicos do centro de saúde do Barreiro” se terão “recusado a dar apoio” neste lar de idosos. Declarações que fez à saída de de uma reunião com o bastonário da Ordem dos Médicos convocada na segunda-feira na sequência da polémica gerada pela auditoria no lar de idosos de Reguengos de Monsaraz. Adiantando que “foi a provedora da Santa Casa de Misericórdia do Barreiro” que lhe “comunicou a situação na semana passada” e que não foram explicitadas as razões para a alegada recusa, Manuel Lemos enfatizou: “Nós não queremos ser acusados do crime de omissão de auxílio.”

“Não houve recusa" de “apoio médico”, assegurou esta terça-feira a ARS de Lisboa e Vale do Tejo. “Um médico do ACES Arco Ribeirinho [a que pertence o centro de saúde do Barreiro] disponibilizou-se, após contacto da direcção” do agrupamento de centros de saúde, a “prestar cuidados de saúde aos doentes do Lar de S. José, conforme solicitado telefonicamente pela” provedora da Santa Casa da Misericórdia do Barreiro, especifica a ARS de Lisboa e Vale do Tejo em resposta enviada ao PÚBLICO. Trata-se, aliás, de um um médico que “colabora habitualmente” com a Santa Casa da Misericórdia do Barreiro.

Sublinhando que os doentes estão actualmente estáveis, assintomáticos e a aguardar “a realização de teste de cura”, sem necessitarem de cuidados médicos, a ARS acrescenta que todos os que tiveram e têm condições” para ficar no lar continuam a ser “acompanhados diariamente pelas equipas de saúde do ACES Arco Ribeirinho, através de contacto não presencial” e monitorizados na plataforma informática criada para o efeito (Trace Covid).

O secretário regional do Sindicato Independente dos Médicos em Lisboa e Vale do Tejo exigiu, entretanto, que a provedora da Santa Casa da Misericórdia do Barreiro pedisse publicamente desculpa pelas “falsas" declarações e pelo “ataque” que dirigiu aos médicos.

Na segunda-feira, Manuel Lemos explicou aos jornalistas que pediu a reunião com Miguel Guimarães para lhe fazer um apelo —  o de “sensibilizar” os profissionais para que “não deixem as pessoas sem médicos nos lares das misericórdias”. E isto porque a alternativa seria “transferi-los para os hospitais” onde correm maiores riscos.

Por lei, os lares de idosos não são obrigados a ter médicos, apenas enfermeiros – um por cada 40 utentes, ou um por cada 20, no caso de estes serem idosos com dependências, explica Sérgio Branco, presidente da Secção Regional do Sul da Ordem dos Enfermeiros. ​Mas em 24 de Abril passado a ministra da Saúde determinou, por despacho, que os doentes com covid-19 residentes em lares e cuja situação clínica não exija internamento hospitalar passavam a ser acompanhados diariamente pelos médicos de família e pelos enfermeiros dos respectivos agrupamentos de centros de saúde, em articulação com os hospitais da sua área de referência.

Foi por causa desta “confusão toda sobre a presença dos médicos nos lares de idosos” que Manuel Lemos achou melhor ter “uma conversa institucional” com o bastonário da Ordem dos Médicos. O presidente da UMP lembrou que o compromisso que o Estado assinou com o sector social para 2019/2020 diz “claramente que incumbe ao Ministério da Saúde assegurar a presença de médicos de família nas estruturas residenciais para idosos”. “Está lá, preto no branco. E nós avisámos logo no início da pandemia que alguns médicos estavam a desertar.”

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