Economia alemã encolhe 9,7% no segundo trimestre

Défice orçamental da Alemanha no primeiro semestre de 2020 atingiu os 3,2% do PIB.

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Fabrizio Bensch

A Alemanha viu o Produto Interno Bruto (PIB) cair 9,7% no segundo trimestre do ano, em comparação com os primeiros três meses de 2020. Os dados foram divulgados esta terça-feira pelo Instituto Federal de Estatística do país (Destatis).

Segundo o gabinete de estatística, esta queda é muito superior à da crise financeira de 2008/2009, em que o PIB diminui 4,7% no primeiro trimestre de 2009. É também a maior queda desde 1970, ano em que o Destatis iniciou estas análises. Ainda assim, a queda é inferior à que se esperava em Julho (de 10,1%).

Além disso, a resposta da Alemanha à pandemia resultou num défice orçamental de 3,2% do PIB no primeiro semestre do ano, em comparação com o mesmo período em 2019. A despesa pública cresceu 9,3% nos primeiros seis meses de 2020. O conjunto das administrações centrais, regionais e locais, mais o fundo de segurança social, gastaram nesse período 51,6 mil milhões de euros a mais do que o valor arrecadado.

Analistas ouvidos pelo jornal El País vaticinam que é a intensidade da segunda vaga de covid-19 que irá determinar o crescimento da economia alemã.

A economia da Alemanha é muito influenciada pela relação com o exterior, segundo o jornal espanhol. Assim, o contexto está marcado por incertezas como Brexit, tensões entre EUA e China e, obviamente, a própria crise mundial provocada pela pandemia. Segundo o instituto de estatística, a Alemanha sofreu uma queda de 20,3% nas exportações no segundo trimestre e de 16% nas importações.

Já o consumo interno caiu 10,9% entre Abril e Junho, face ao primeiro trimestre. Segundo Carsten Nickel, analista ouvido pelo El País, a procura interna tem sido uma ajuda para a economia alemã, mas tudo pode mudar caso se entre novamente num confinamento.

Claus Michelsen, chefe do departamento de previsão económica e política do Instituto Alemão de Investigação Económica, explicou, de acordo com o jornal espanhol, que a procura interna está agora a recuperar no Verão, bem como alguns sectores afectados pelo confinamento. No entanto, indicou que a procura externa não está à crescer tanto quanto esperado. “Receamos que a baixa procura por parte da zona euro e dos Estados Unidos dificulte a recuperação e, acima de tudo, receamos uma segunda vaga”, disse.

Em Junho as exportações aumentaram 14,9% face a Maio deste ano, mas em comparação com Junho de 2019 caíram 9,4%. As exportações para países da União Europeia diminuíram 7,4% e para os EUA 20,7%, face ao período homologo. Porém, as exportações para a China cresceram 15,4% no mesmo mês.

O jornal espanhol explica que algumas empresas alemãs aguentaram-se nesta crise graças à redução do horário de trabalho – política alemã para evitar o desemprego, mas que reduz o rendimento da população. “Se as empresas fecharem, o desemprego será inevitável”, disse Michelsen. Os dados publicados esta terça-feira indicam que se registou já o declínio mais forte no emprego desde a reunificação alemã.

O El País informa ainda que a crise abriu o debate na Alemanha sobre a implementação de um dia de trabalho de quatro horas. Em Agosto, um sindicato alemão já propôs o estabelecimento da semana de quatro dias com o objectivo de se manter o maior número de empregos depois da pandemia. O ministro alemão do Trabalho, Hubertus Heil, disse que a ideia não está fechada, mas que “a redução do tempo de trabalho, com compensação salarial, pode ser uma medida adequada”.

Economia alemã “a caminho da recuperação”

O instituto económico alemão Ifo acredita que a economia do país está “a caminho da recuperação” tendo em conta uma melhoria do ambiente empresarial, de acordo com um comunicado divulgado esta terça-feira.

Assim, segundo a instituição, os empresários alemães estão com mais confiança, sendo que o índice de confiança empresarial do Ifo cresceu de 90,4 em Julho para 92,6 em Agosto. “As empresas avaliam a sua situação actual de forma marcadamente mais positiva do que no mês passado” e as suas “expectativas também foram um pouco mais optimistas”, indicou o Ifo.

Na indústria, o ambiente empresarial melhorou “consideravelmente”, com a avaliação das empresas a subir ainda mais do que em outros sectores, ainda que muitas companhias considerem a sua situação actual “fraca”. A expectativa para os próximos meses era também mais optimista, com as carteiras de encomendas a crescerem novamente, indicou o Ifo.

Nos serviços, o índice também registou um crescimento “forte”. As empresas desta área estão “mais contentes” com a sua situação actual e esperam mais melhorias nos próximos seis meses.

Já no comércio, a tendência de crescimento “esbateu-se”, de acordo com o Ifo, que disse que, apesar de as empresas estarem mais satisfeitas com a sua situação, o pessimismo em relação aos próximos meses mantém-se, sendo que no segmento grossista o indicador acabou mesmo por recuar.

Na área da construção, o índice de ambiente empresarial continua a melhorar, mantêm as expectativas pessimistas, mas com uma ligeira melhoria face ao mês passado.

Este indicador é baseado em cerca de 9000 respostas mensais de negócios em várias áreas de actividade.

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