O PCP e a “estigmatização” da Festa do Avante!

Os que, à esquerda, à direita ou ao centro acham um erro colossal organizar uma festa aberta à presença de 33 mil pessoas não podem ser vistos como mentores de uma “campanha que visa condicionar a actividade do PCP, o exercício de liberdades”.

A esperteza do PCP para transformar um evento com duas horas de comício e dias inteiros de música num acontecimento político com uma faceta lúdica (quando sabemos que é o contrário) causa espanto ou irritação. Mas ainda mais espantoso e irritante é a soberba com que o partido acusa de tentativa de “estigmatização” todos os que suspeitam desta habilidade para contornar as regras prudenciais de saúde pública. Os que, à esquerda, à direita ou ao centro acham um erro colossal organizar uma festa aberta à presença de 33 mil pessoas não podem ser vistos como mentores de uma “campanha que visa condicionar a actividade do PCP, o exercício de liberdades” ou a “defesa dos interesses dos trabalhadores e do povo”. Não pode haver zelo com a covid-19 para uns e condescendência para outros.

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A esperteza do PCP para transformar um evento com duas horas de comício e dias inteiros de música num acontecimento político com uma faceta lúdica (quando sabemos que é o contrário) causa espanto ou irritação. Mas ainda mais espantoso e irritante é a soberba com que o partido acusa de tentativa de “estigmatização” todos os que suspeitam desta habilidade para contornar as regras prudenciais de saúde pública. Os que, à esquerda, à direita ou ao centro acham um erro colossal organizar uma festa aberta à presença de 33 mil pessoas não podem ser vistos como mentores de uma “campanha que visa condicionar a actividade do PCP, o exercício de liberdades” ou a “defesa dos interesses dos trabalhadores e do povo”. Não pode haver zelo com a covid-19 para uns e condescendência para outros.

Que o PCP deprecie o seu capital de credibilidade e se coloque no papel de videirinho que sabe dar a volta às restrições que proibiram concertos, jogos de futebol ou festas populares pelo país fora é uma coisa; que queira agora colocar os que criticam essa opção numa frente unida para limitar os seus direitos políticos é uma coisa diferente. No primeiro caso, o PCP terá de responder aos seus militantes e simpatizantes, correndo o risco de, como hoje bem faz notar João Miguel Tavares, dar prendas aos seus adversários; no segundo, o PCP tem de aceitar a crítica no plano da situação extraordinária e perigosa que estamos a viver e abdicar do queixume e do papel de vítima tão falso quanto ridículo.

De resto, vale a pena fazer notar o empenho com que o PCP tenta dar resposta aos que protestam contra um cenário de concentração de milhares de pessoas na festa. A redução para um terço da lotação do espaço, o limite de novos palcos ou a lista minuciosa de medidas de segurança que o partido se tem esforçado por comunicar não são uma resposta à “estigmatização” política, mas aos receios do contágio pelo coronavírus. Mesmo sabendo que a eficiência da organização, a disciplina e devoção dos militantes ou a capacidade de fazer cumprir regras do PCP serão capazes de mitigar os perigos, todos sabemos que o partido teria mil alternativas de fazer o seu trabalho político sem o risco da festa que propõe.

Com a DGS, o Governo e as autoridades de mãos atadas pela suposta natureza política da festa, o PCP vai levar mesmo a sua teimosia avante. Não venha agora dizer que os protestos contra essa óbvia ameaça à saúde pública são uma campanha da reacção, do capitalismo ou dos inimigos do povo. Se querem ser irresponsáveis, assumam-no.