Venda da SAD do Boavista dependerá da aprovação dos sócios do clube

O clube “axadrezado” tem um acordo fechado com o multimilionário luxemburguês Gérard Lopez para a alienação da maioria do capital da SAD. Daniel Ramos deverá manter-se como treinador.

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Gérard López deverá assumir o controlo da SAD do Boavista Reuters

O acordo entre as duas partes está definido e, se não surgir nenhum percalço de última hora, o multimilionário luxemburguês Gérard Lopez será anunciado em breve como accionista maioritário da SAD do Boavista. O negócio entre o dono do Lille, que no passado já tinha tentado assumir o controlo de clubes portugueses, e os “axadrezados” deverá ter, no entanto, que merecer a aprovação dos sócios boavisteiros em Assembleia Geral Extraordinária. Com a entrada de Lopez no Boavista, Luís Campos terá um papel de relevo na estrutura do clube portuense, que deverá manter Daniel Ramos como treinador – o técnico é agenciado por Nelson Almeida, que tem ligações próximas ao presidente do Lille.

Do lado do Boavista, num comunicado enviado à agência Lusa, é assumido que existe “um acordo que prevê a exclusividade negocial da maioria do capital social da SAD com o grupo liderado por Gérard Lopez”, algo visto pelos “axadrezados” com “bons olhos” pelo “bom trabalho levado a cabo pelo grupo em questão no Lille”, mas a última palavra será dos associados boavisteiros.

Apesar de os estatutos do clube preverem há cerca de uma dezena de anos que a maioria da SAD seja alienada sem consulta prévia dos sócios, a direcção presidida por Vítor Murta deverá convocar após a formalização do acordo uma Assembleia Geral Extraordinária onde irá explicar o projecto, colocando-o depois à aprovação dos associados.

A concretizar-se o casamento entre Gérard Lopez e Boavista, o multimilionário luxemburguês garantirá à terceira tentativa o controlo de um clube português. Em 2016, o empresário esteve muito perto de garantir 60% da SAD do Gil Vicente a troco de seis milhões de euros, mas o negócio com o clube de Barcelos caiu por terra, alegadamente por não terem sido apresentadas as garantias bancárias exigidas pelo clube gilista.

No início deste ano, a porta de entrada de Lopez em Portugal era por Setúbal, mas a tentativa também fracassou. Acompanhado de Luís Campos, o seu braço direito no Lille, o milionário esteve ao lado de Vítor Hugo Valente numa acção de campanha do antigo presidente do V. Setúbal, mas apesar da promessa de colocar os sadinos a lutarem “por objectivos mais altos”, Vítor Hugo Valente falhou a reeleição, deitando por terra a entrada do investidor luxemburguês no clube da I Liga.

Apesar do fracasso, Gérard Lopez não desistiu de Portugal e, mais uma vez com Luís Campos como peça fundamental no processo, voltou-se novamente para o Norte do país, onde encontrou a receptividade do Boavista. O clube do Porto andava à procura de um investidor e, em 2007, esteve muito perto de ser adquirido pela Red Bull – o negócio esfumou-se por divergência entre a multinacional austríaca e João Loureiro, na altura presidente dos boavisteiros.

Treze anos mais tarde, com Vítor Murta na presidência, tudo indica que o controlo da SAD boavisteira deixará definitivamente de estar na posse do clube, que detém actualmente 54% do capital social, e o futuro dos “axadrezados” ficará nas mãos de um milionário discreto, mas com uma ligação ao desporto de longa data.

Um milionário caminho do Bessa

Licenciado em Sistemas Integrados de Gestão e em Gestão Operacional pela Universidade de Miami com uma pós-graduação em Artes Asiáticas, Gérard Lopez, de 48 anos, começou a fazer fortuna nos anos 90 com a Mangrove Capital Partners, uma sociedade de capital de risco sediada no Luxemburgo e dedicada a investir em empresas que apresentem soluções inovadoras – foi um dos primeiros investidores no software de comunicação pela Internet Skype.

A ligação de Lopez ao futebol começou em 2007 pelo clube da cidade onde nasceu – o CS Fola Esch -, mas dois anos mais tarde os investimentos do empresário viram-se para a Fórmula 1, onde comprou a Lotus, contando com o apoio de multinacionais como a Microsoft, Coca-Cola e Unilever. Apesar de ter mantido uma posição minoritária na escudaria, Lopez vendeu a maioria das acções da Lotus em 2015, apostando forte no seu desporto preferido: no final de 2016, comprou 95% do Lille, anunciando o objectivo de colocar o clube no “top-6” do campeonato francês. Os resultados superaram as expectativas e, nas duas últimas temporadas, o clube gerido por Gérard Lopez e Luís Campos concluiu a “Ligue 1” em 2.º e 4.º lugar.

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