As viagens de Jehnny Beth para o lado do mal

Belíssima estreia a solo da vocalista das Savages, To Love Is to Live é um álbum em que a intimidade existe sempre em tensão e que não esconde os momentos de repulsa que a humanidade lhe provoca.

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Johnny Hostile

A vida das Savages era (é?) simples: fechavam-se na sala de ensaios e açoitavam os instrumentos com uma crueza que electrizava não apenas as canções mas também, mais tarde, o seu público. Os temas do grupo formado em Londres existiam naquele ponto de intensidade em que tudo parece frágil e precário, num qualquer estádio-limite em que as costuras da normalidade ficam repentinamente expostas e as fundações do mundo à nossa volta abanam e ameaçam ruir a qualquer momento. Num concerto das Savages, a sensação era permanentemente a de ser-se abalroado por uma engrenagem musical feita de uma selvajaria que remetia para aquilo que ouvíramos 30 anos antes com os Birthday Party. Do primeiro ao último segundo, acreditava-se que a ordem mundial que conhecemos estaria a rachar à nossa frente e bastaria um mínimo empurrão com o dedo mindinho para que começasse a derrocada de qualquer sistema de valores podre que cada espectador soubesse projectar naquele guião de tensão e claustrofobia.

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