Americanos negros morrem mais em confrontos policiais com tasers

Muitos polícias americanos não recebem formação adequada e os tasers são utilizados frequentemente de forma indevida.

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Demonstração da polícia de Mongomery de uma arma "taser" Gary Cameron / Reuters

Os confrontos entre a polícia e os manifestantes nos Estados Unidos têm sido uma constante nas últimas semanas. Além do recurso a balas de borracha ou gás lacrimogéneo, tem sido utilizada uma arma com potencial para matar: o taser, que provoca electrochoques. Quando esta arma é usada, os negros constituem a maior percentagem daqueles que morrem, de acordo com uma análise realizada pela Reuters.

A agência noticiosa analisou 1081 casos, até ao final de 2018, de pessoas que morreram depois de terem sido atingidas por um taser disparado pela polícia. Pelo menos 32% das pessoas que morreram eram negras e 29% brancas. Os afro-americanos representam 14% da população dos Estados Unidos e os brancos não-hispânicos são 60%.

“Estas disparidades raciais em mortes por taser são horríveis, mas não são surpreendentes”, diz Carl Takei, advogado da União Americana das Liberdades Civis, à Reuters. “A violência policial é uma das principais causas de morte de negros na América, em grande parte porque o policiamento excessivo dessas comunidades resulta em contactos policiais desnecessários e no uso desnecessário da força”, considera Takei.

Em 13% das mortes referidas em relatórios ou autópsias como envolvendo pessoas de etnia hispânica, a Reuters não conseguiu identificar a raça. Nos restantes 26% dos casos, a raça da pessoa que morreu também era desconhecida.

O taser tem sido amplamente utilizado nos Estados Unidos desde 2000, enquanto alternativa menos letal às armas de fogo. Cerca de 94% das cerca de 18 mil polícias americanas utilizam tasers, de acordo com a Reuters.

A utilização deste tipo de arma voltou à discussão após a morte de Rayshard Brooks, afro-americano de 27 anos que foi morto pela polícia em Atlanta, na sexta-feira. O agente disparou sobre Brooks depois de este ter fugido com o taser do polícia. O advogado da família de Brooks, L. Chris Stewart, disse que normalmente a polícia argumenta, em tribunal, que o taser não é uma arma letal.

No entanto, em 2017, a Reuters identificou mais de mil casos, desde 2000, de pessoas que morreram depois de a polícia ter usado este tipo de dispositivo, normalmente combinado com outros tipos de uso da força.

A maioria dos investigadores defende que as mortes são raras quando os tasers são utilizados correctamente, mas a investigação da agência noticiosa concluiu que muitos polícias não recebem a formação adequada e que as armas são utilizadas frequentemente de forma indevida.

Um dos exemplos dessa utilização desadequada ocorreu a 30 de Maio, durante os protestos devido à morte de George Floyd, afro-americano morto pela polícia em Mineápolis. Dois estudantes ficaram presos no trânsito devido às manifestações em Atlanta e foram atingidos pelos tasers da polícia. Os peritos explicam que estas armas não devem ser utilizadas em pessoas que estão a conduzir ou que se encontram imobilizadas, como acontece dentro de um carro.

A chefe da polícia de Atlanta, Erika Shields, pediu desculpa pelo sucedido. “O nosso comportamento enquanto agência e enquanto indivíduos foi inaceitável”, afirmou Shields, que entretanto se demitiu do cargo. Seis agentes envolvidos foram acusados de uso excessivo da força e quatro deles foram despedidos.

De acordo com a Reuters, as mortes que envolvem o uso de tasers são pouco escrutinadas. Nenhuma agência governamental acompanha a frequência com que são utilizadas essas armas ou em quantas situações se tornam fatais. Além disso, nos Estados Unidos não existem normas uniformes a nível nacional que regulem o recurso a tasers por parte da polícia.

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