Não somos iguais, nunca, nunca

O teu queixo fica mesmo sincronizado com o meu, nem tenho de me pôr em pontas dos pés como durante tantos anos foi hábito. Está tudo certo contigo ao nível da estatura.

Foto
Oleg Ivanov/Unsplash

Perguntei com a maior das latas pelo teu quarto. Depois de três copos de vinho branco, já me sentia no ponto para te atacar. Estava alegre e descontraída, e tu também não foste de modas, não te ficaste atrás no avanço. Em vez de me indicares por palavras, tapaste-me a boca com a tua e ergueste-me em braços, como uma grua, transportando-me até ao quarto. Tens força braçal, é verdade, mas nunca tinha estado com uma pessoa tão baixinha. O teu queixo fica mesmo sincronizado com o meu, nem tenho de me pôr em pontas dos pés como durante tantos anos foi hábito. Está tudo certo contigo ao nível da estatura; e tu a achares que te estava a criticar, respondeste com o cliché de que na horizontal somos todos iguais. Mas não. Não somos iguais, nunca, nunca.

Fizeste o teste no hospital para me vires conhecer. Foi tão elegante da tua parte, enviaste-me uma fotografia e tudo, onde se lia que o sacana do vírus não estava identificado no teu corpo. O documento bem explicadinho, podia ler-se o teu nome completo, a hora, a data e o analista que te tinha sacado as amostras. Podias ter dito para eu aguentar os cavalinhos ou alegar justiça e pedir-me que fizesse também eu exames. Mas sabias que eu tinha medo e que não tenho as tuas facilidades, que nunca teria vindo sem a certeza de que estavas limpa, e para ti, sendo médica, é fácil fazeres o teste. Acho eu, não sei bem, só sei que trataste de tudo sem te queixares.

Entrámos no teu quarto e, pela primeira vez na vida, tomei conta de tudo: tirei-te as calças e as cuecas pretas, e nem sequer me despi, icei-te a camisa macia cinzenta clara — talvez de seda, lá macia era —, porque aquilo que eu mais queria era ver-te as mamas, tocar-lhes com as mãos e com a boca. Por isso, assim que as vi não resisti nem três segundos, lancei-me aos teus mamilos erectos com a ânsia de saber há quantos anos andava a perder aquilo. E foi tão bom, nem imaginas como foi bom pôr a minha cara nas tuas mamas, e depois no teu sexo que já estava encharcado antes de lhe chegar com a língua. E era a primeira vez que eu fazia aquilo, a primeira vez que eu podia fazê-lo pelo tempo que quisesse. E tu a dizeres que as vaginas eram todas diferentes, que já tinhas visto muitas no trabalho, que não há vaginas iguais, nunca, nunca. E eu, no meio das tuas pernas, realizei o que andava a perder, que fazer aquilo era parte de mim.

Eu sentia-me eu, ali, inebriada pelo teu sabor e cheiro, e até me vieram as lágrimas aos olhos. Reconheci nos teus lábios entreabertos de prazer a expressão passiva que já foi a minha, e foi improferível ver-te gozar daquela maneira e saber que era eu a responsável por isso. Depois, puxaste-me o cabelo com tanta força quando te vieste e eu não sabia o que fazer, estavas a magoar-me, porra, aquilo doeu mesmo, mas eu perdoei-te logo a seguir porque me abraçaste como um amante de longa data, apesar de só nos termos encontrado há tão poucas horas.

Estive quase a adormecer, mas eu não partilho o sono com quem conheço mal. É uma coisa antiga minha. E voltei para minha casa, num misto de triunfo e de fracasso, com todos os meus fantasmas sentados nos bancos livres do carro. Todos os amores que se perderam iam comigo naquela viagem, a lembrar-me que o fim do mundo também ali chegaria um dia. Ou não. Esforço-me por acreditar que nós não somos iguais, nunca, nunca.

Sugerir correcção