Estudo propõe novo eixo ferroviário pelo Vale do Sousa e reactivação da Linha do Tâmega até Amarante

A futura ferrovia colocaria Paços de Ferreira a 35 minutos do Porto, Lousada a 43 e Felgueiras a 51. A construção do traçado até Felgueiras, no valor de 77,8 milhões de euros, representa a maior parcela do investimento.

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PAULO PIMENTA

Mais do que um simples ramal de Valongo a Felgueiras, ao longo do Vale do Sousa, a comunidade de municípios desta região quer que a nova linha continue até Amarante e daí até à Livração (concelho de Marco de Canaveses), entroncando novamente na Linha do Douro. Uma linha circular que responderia não só às deslocações pendulares entre a região e o Porto, mas também à mobilidade interna de uma região em franco crescimento económico.

O estudo encomendado pela CIM do Tâmega e Sousa à empresa Trenmo – Engenharia SA, e a que o PÚBLICO teve acesso, propõe que este investimento – avaliado em 290 milhões de euros – se realize em duas fases: primeiro de Valongo a Felgueiras (181 milhões) e depois até Amarante (109 milhões).

A futura ferrovia colocaria Paços de Ferreira a 35 minutos do Porto, Lousada a 43 e Felgueiras a 51. O estudo prevê que a linha seja uma via única electrificada e se desenvolva ao longo do Vale do Sousa acompanhando o relevo do terreno, o que explica o valor relativamente baixo do investimento.

Um estudo preliminar de 2018 apontava para um investimento entre os 200 e os 300 milhões de euros considerando uma via dupla, mas entendeu-se agora que uma via única seria suficiente ao longo dos 35,5 quilómetros entre Valongo e Felgueiras, mais os 17,6 quilómetros da segunda fase, entre Felgueiras e Amarante.

A construção do traçado até Felgueiras, no valor de 77,8 milhões de euros, representa a maior parcela do investimento, seguida da componente “viadutos e pontes” (40,6 milhões) e da construção de estações subterrâneas (30 milhões) pois, embora a trajectória da linha procure as zonas mais fáceis, entendeu-se que era importante a inserção nas cidades ser próxima do seu centro, por forma a servir o máximo de pessoas. Curiosamente, as expropriações têm um valor anormalmente baixo, estimado em 437 mil euros.

Na segunda fase, entre Felgueiras e Amarante, o valor maior é também para o traçado (37,9 milhões), seguido igualmente de 30 milhões de euros para as estações subterrâneas.

E que estações terão as futuras linhas? O projecto prevê que, saindo da Linha do Douro em Valongo, o comboio pare em Gandra, Lordelo, Paços de Ferreira, Freamunde, Lousada e Felgueiras. Na segunda fase, prosseguirá para Lixa, Hospital (de Amarante) e Amarante.

O estudo não incide sobre os 13 quilómetros da ligação Amarante-Livração, que aproveitaria parte da antiga linha de via estreita do Tâmega e que, reconvertida em via larga custaria, segundo a IP, 37,5 milhões de euros.

A Trenmo diz que a ligação de Amarante ao Porto será sempre mais rápida via Livração, mas que a linha Amarante-Felgueiras se justifica “para assegurar o fecho da rede, dando resposta a uma forte procura interna e contribuindo para uma flexibilidade da rede”. 

Linha rentável

Quanto aos custos de funcionamento desta nova linha, o estudo diz que não serão um encargo para o país. “Esquecendo” a amortização do investimento, a linha terá um saldo de exploração positivo. Entre Valongo e Felgueiras a exploração e manutenção, tanto da linha como dos comboios, custarão 5,2 milhões de euros por ano, para receitas estimadas de 9 milhões de euros, o que dá um “lucro” de 3,2 milhões. Valor que subiria para 4,1 milhões na segunda fase, com o prolongamento da linha até Amarante.

O estudo evidencia que “o território do Tâmega e Sousa apresenta nos municípios de Felgueiras, Paços de Ferreira, Penafiel e Lousada tendências de crescimento económico capazes de alavancar a dinamização desta região, que no seu conjunto representam 84% do VAB da indústria no Tâmega e Sousa, constituindo um cluster do calçado, vestuário e mobiliário”. E acrescenta: “Felgueiras e Paços de Ferreira (em conjunto com Viseu) encontram-se entre os três maiores municípios em Portugal continental sem serviço ferroviário de passageiros.”

Por outro lado, estes dois concelhos geram um número de empregos superior à população residente empregada, originando dificuldades na contratação de mão-de-obra qualificada, pelo que a via-férrea permitiria um “movimento pendular razoável para uma regularidade diária” para quem viesse trabalhar na região.

Para além do saldo positivo na exploração da futura linha, a equipa da Trenmo identifica grandes ganhos sociais e ambientais ao nível das externalidades do projecto. O estudo procurou quantificar o impacto da via-férrea na redução dos acidentes rodoviários, poluição do ar, ruído, congestionamento, entre outros, e chegou à conclusão de que a transferência modal do transporte individual para a ferrovia (CP e Metro do Porto) tinha um balanço positivo de 4,6 milhões de euros por ano com a construção da linha até Felgueiras, e de 5,3 milhões com o seu prolongamento até Amarante.

A estes valores, juntam-se ainda 3,4 milhões de euros resultantes do cálculo das externalidades económicas resultantes do ganho do tempo gerado pelo comboio face ao transporte individual e ao autocarro.

O documento diz que, só com a linha até Felgueiras, a CP ganhará mais 7,2 milhões de passageiros por ano e o Metro do Porto mais 800 mil. Em contrapartida, estima-se que os autocarros percam 9,3 milhões de clientes e o transporte individual 4,9 milhões de pessoas. Aparentemente, a nova infra-estrutura fará com que “desapareçam” viagens em mais do que um modo de transporte porque muitos passageiros que hoje vão de autocarro ou de carro até uma estação para apanhar o comboio acabarão por fazer a viagem directa para o Porto. 

 Por fim, e para responder ao aumento da procura motivada pelos passageiros do Vale do Sousa, o estudo considera prioritária a quadruplicação da linha entre Campanhã e Contumil (que está no limite do congestionamento) bem como o aproveitamento do ramal de Leixões para transporte de passageiros.

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