Nem todos os alunos têm computador para aulas. O Student Keep quer mudá-lo

O Student Keep liga alunos carenciados a “padrinhos”, que doam material tecnológico para facilitar as aulas à distância neste período de pandemia. Qualquer um pode ajudar.

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LUSA/EDUARDO COSTA

O Student Keep é projecto solidário, promovido pelo movimento tecnológico português Tech4Covid19, que tem como objectivo apoiar alunos carenciados que tenham aulas à distância durante a pandemia de covid-19. Qualquer um se pode tornar padrinho – ou keeper, seja em nome próprio ou através de uma empresa – e doar material tecnológico, novo ou usado, que será oferecido a um estudante da sua área de residência. Lançado a 23 de Março, o projecto já respondeu a necessidades em todo o Portugal Continental.

A ideia partiu do empresário Rui Nuno Castro, actualmente director de inovação do grupo Somitel e presidente da associação AlphaCoimbra, ao observar a situação da turma da sua esposa, professora do ensino básico. “Foi evidente, de imediato, que havia um conjunto de alunos bastante significativo que não tinha recursos para acompanhar a actividade escolar e pareceu-me um problema que com alguma facilidade se iria replicar pelo país todo”, explica ao P3. E “em menos de uma semana”, sempre em contacto permanente com o Tech4Covid19, lançou-se o Student Keep.

A princípio, o modelo previa ajudas por via de empréstimos, o que acabou por ser abandonado “por questões legais, já que se colocavam demasiados obstáculos e zonas cinzentas”. Agora, a funcionar exclusivamente a partir de doações, o projecto já conta com mais de 450 keepers individuais – entre os quais Seferovic, jogador do SL Benfica – e 30 empresas, disponibilizando-se sobretudo computadores, mas também tablets e telemóveis.

Numa semana, recorda Rui Nuno Castro, foram recolhidos mais de mil pedidos de ajuda, o que também obrigou a repensar a organização da estrutura. Em contacto com o Ministério da Educação, perceberam que “todas as escolas estavam a fazer o levantamento dos alunos que não tinham condições”, o que “permitiu que se estabelecesse uma parceria operacional”, selada pela procura de uma triagem “rigorosa e transparente”.

São agora as escolas que comunicam as necessidades – “porque ninguém conhece melhor o aluno do que a escola” – e o Student Keep concentra-se na angariação do “máximo de equipamento possível” e do encaminhamento dos materiais. Ainda assim, o projecto continua a analisar os pedidos de ajuda recebidos na fase inicial junto dos agrupamentos escolares, “para ajudar também a sinalizar casos que possam ter escapado”.

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Rui Nuno Castro, fundador do Student Keep DR

“A questão geográfica é um aspecto muito importante para nós”, revela Rui — “defendemos que o resultado de angariação de um determinado local deve ser replicado na mesma área geográfica de onde provém.” Por questões logísticas “e porque é muito mais fácil mobilizar as pessoas se perceberem que o esforço que estão a fazer se vai aplicar às comunidades em que estão inseridas”. Desta forma, muitas vezes é somente solicitado aos “padrinhos” que deixem o equipamento numa determinada escola da sua área de residência.

Quando tal não é viável devido ao estado do material é accionada a bolsa de voluntários da Tech4Covid19 (com mais de cem membros), a que se juntam colaboradores da parceira EDP, todos com formação em tecnologia. O equipamento pode ser recolhido em qualquer ponto do país para ser formatado e/ou actualizado e é depois deixado no local desejado — a gestão é feita em articulação com a Direcção-Geral dos Estabelecimentos Escolares, que designou uma equipa para o efeito. “Tudo é feito para salvaguardar a identidade do aluno”, salvaguarda Rui, “não há contacto entre o ‘padrinho’ e quem recebe a ajuda”. Mas quem doa o material é sempre avisado que a entrega foi feita em determinado agrupamento.

Em breve, será lançada uma operação de angariação de fundos, “em modelo a determinar”, para “financiar a compra de equipamentos” para serem disponibilizados. Para lá do surto do novo coronavírus, pouco se sabe. “Este projecto nasceu para responder uma necessidade muito objectiva, mas é uma discussão que ainda está em aberto”, ressalva. Por agora, deixa a garantia: “Vamos estar em actividade até ao final do terceiro período”.

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