Identificar bem os factores críticos do desporto português

Seria relevante haver um projecto direcionado apenas para a realidade do futebol profissional distinto das reformas a concretizar sobre o desporto português.

A crise do desporto português tem características estruturais, de longo prazo. Uma das suas características é ser endémica onde a pobreza de um parceiro prejudica todas as organizações. O futebol tem sido um factor de sucesso e a influência do seu comportamento em todo o desporto tem impactos através dos clubes que produzem futebol e as outras modalidades cujas condições de trabalho se tornaram cada vez mais difíceis por causa da actuação lateral dos governos.

A crise sanitária da covid-19 é um factor externo poderoso na destruição das condições de prática e de produção e que actua sobre um tecido desportivo enfraquecido por condições adversas que existem por via da inexistência de uma resposta de política desportiva competente, eficaz e definitiva para cada um dos problemas surgidos.

Face à crise crónica do desporto português é relevante identificar bem os factos, os contextos e as relações que se querem resolver, sob pena de não conseguir alcançar as causas e promover bons objectivos da política desportiva.

Sem querer identificar os protagonistas toma-se o verde e o vermelho como ponto de partida de um sector que abrange 36 clubes e mais de meio milhar de jogadores profissionais.

Ao longo de décadas, o vermelho sobrepôs-se ao verde. A alternância seria razão de cultura e competitividade desportiva e sucesso económico. Apesar dos factos adversos à cor verde os seus intelectuais e personalidades, no uso dos seus direitos e poderes, aceitam a menoridade imposta sem escrutinarem a sua origem no já velho Modelo de Desporto Português.

O mesmo se poderia dizer dos intelectuais e parceiros dos restantes clubes que aceitam a sua menorização como se o Modelo de Desporto Português fosse inamovível e imperscrutável.

O verde tem ultrapassado todos na descida aos infernos desportivo e económico e social. A morte repetida de adeptos verdes não os levou a irem à fonte do inaceitável. A sova aos jogadores por adeptos do clube é um facto do deslaçamento do clube e afinal da política do desporto de Portugal.

Os parceiros íntegros, inteligentes e activos são fundamentais. Mas, a que aspira esta nação? A corruptela do vizinho para conseguir ser campeão, como sugerem as manifestações contra a direcção legítima em todos os jogos no seu estádio?

Em relação a todos os outros intervenientes compreende-se que organizações de menor dimensão tenham receio de agir por não verem os seus direitos defendidos por quem de direito. Ou seja, poderem beneficiar da actuação de líderes capazes de antecipar politicamente as consequências do que de mal os factos sugerem estar a acontecer no desporto português, como sejam as derrotas desportivas, os lugares secundários e, por causa disso, a falência dos clubes concretizarem as suas missões estatutárias e do desporto promover o bem-estar dos portugueses. Estas organizações perdem importância, algumas desapareceram e outras defrontam-se com barreiras à sobrevivência impossíveis de ultrapassar.

A nação portuguesa fracassa onde a espanhola e tantas outras se impõem com integridade, doa a que parceiro doer. Por inúmeras vezes os governos de Espanha, e de outros países europeus, resolveram os desafios dos seus maiores clubes em consenso desportivo, económico e político e com medidas públicas cujos princípios nunca são aplicados em Portugal. Independentemente da boa vontade das suas gentes, os maiores clubes estão entregues aos actos nocivos do bem comum por quem os domina.

Seria relevante haver um projecto direcionado apenas para a realidade do futebol profissional distinto das reformas a concretizar sobre o desporto português.

Por tradição os governos e a Assembleia da República focaram apenas os estádios para o Euro 2004 e o financiamento do futebol através das apostas do Placard. Parcialmente outros sectores beneficiaram mas no todo houve desconformidade de política desportiva. Estes projectos pontuais, por meritórios que tenham parecido, têm tido resultados a prazo que se verifica introduzirem factores de disrupção no futebol e em todo o desporto, cerceando as hipóteses de sucesso que antes tinha sido prometido pelos partidos políticos que os aprovaram e os fizeram cumprir.

Nem todo o país é vermelho, nem é verde, nem de outra cor qualquer. Há sectores sociais com enorme disponibilidade de meios que infligem vexames ao sistema judicial, aos próprios adeptos, aos dos outros clubes, aos patrocinadores e empresários e ao país pela actuação libertária de agentes que, incumprindo as leis e o estar em sociedade, permanecem impunes e impantes da sua força. A par encontram-se as políticas públicas incipientes e conciliadoras da razão da força.

As hipóteses de reforma serão muitas: primeira sugestão, reformar o Modelo de Desporto Português, distinguindo o futebol das restantes modalidades; segunda sugestão, colocar questões do futebol profissional num pacote próprio e assumir a sua prática amadora com as restantes modalidades desportivas; terceira sugestão, fazer como habitualmente a reforma por inteiro cujos resultados já se saberá quais serão; quarta sugestão, uma outra reforma que se considere útil prosseguir.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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