Força internacional na Guiné-Bissau foi desmantelada

Forças da Ecomib deixaram de fazer a segurança das residências dos juízes do Supremo, do primeiro-ministro e de Domingos Simões Pereira. Ministro da Defesa do autoproclamado Presidente diz que agora são eles a guardar os seus adversários.

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A casa do primeiro-ministro, Aristides Gomes, foi cercada por militares durante a madrugada Inácio Rosa/Lusa

Bissau acordou esta quarta-feira sem a presença das forças da Ecomib a guardar edifícios públicos e a garantir a segurança das principais individualidades da política e da justiça guineenses. O Governo de Nuno Nabiam levava a cabo o que o autoproclamado Presidente, Umaro Sissoco Embaló, lhe tinha ordenado: desmontar o dispositivo e acantonar os soldados da força de interposição da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), cujo mandato termina a 30 de Março.

O primeiro-ministro, Aristides Gomes, escreveu no Facebook durante a madrugada que a sua residência estava “cercada de militares fortemente armados”, perguntando se se tratava do plano para o silenciar que vinha denunciando nos últimos dias. Mas também os elementos da Ecomib que estavam junto às residências dos juízes do Supremo Tribunal de Justiça, do presidente da Assembleia Nacional, Cipriano Cassamá, e do candidato presidencial e líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira (DSP), deixaram os seus postos.

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Durante a tarde, o ministro da Defesa do Governo de Nabiam, general Sandji Fati, revelava que se tratava apenas de uma mudança, as tropas da missão internacional tinham sido substituídas pelos militares guineenses, garantindo que estes iriam continuar a “proteger essas individualidades e as instituições”.

“Foi só isso que aconteceu e é normal que quando as pessoas não têm informação que se entre em pânico”, afirmou ainda Sandji Fati, citado pela agência Lusa.

A manobra é vista pelo lado do PAIGC e dos apoiantes de Domingos Simões Pereira como mais uma forma de intimidação, já que a força internacional, mesmo nada tendo feito para impedir que o golpe de Estado se consumasse, servia como o mínimo de escudo protector perante a demonstração de força e as ameaças dos partidários de Embaló.

O plano do autoproclamado Presidente segue assim o seu curso, depois de ainda na terça-feira, à partida para uma visita a três países (Senegal, Níger e Nigéria) ter garantido que tinha ordenado ao primeiro-ministro Nuno Nabiam para acantonar os militares da Ecomib, tendo em conta o cessar da missão internacional no final do mês.

“Ordenei ontem [segunda-feira] ao primeiro-ministro o acantonamento das forças da Ecomib. Uma pessoa não está em guerra e hoje é a última vez que vão ver uma caravana da Ecomib na minha escolta pessoal”, afirmou Embaló.

A CEDEAO, que cancelou uma missão de especialistas que deveria chegar segunda-feira a Bissau para resolver o diferendo eleitoral, não reagiu ao acantonamento forçado das suas forças e tem-se mostrado ziguezagueante na sua resposta à crise guineense. Será fruto das divergências entre os 15 Estados-membros, com uns a trabalhar para que a tomada de poder de Embaló seja um facto consumado e outros procurando recuperar a legalidade constitucional violada pelo autoproclamado Presidente.

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