CDU antecipa congresso depois de derrota histórica em Hamburgo

Os democratas-cristãos sofreram o pior resultado dos últimos 70 anos na cidade-estado e aceleraram o processo de sucessão de Annegret Kramp-Karrenbauer, marcando uma conferência especial para 25 de Abril.

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AKK pediu ao SPD que pare com a "campanha suja" ou deixe a coligação governamental MICHELE TANTUSSI/Reuters

O Partido Social-Democrata (SPD) alemão venceu as eleições deste domingo na cidade-estado de Hamburgo e os democratas-cristãos da CDU sofreram o pior resultado dos últimos 70 anos, aprofundando a crise vivida no partido desde a demissão de Annegret Kramp-Karrenbauer (AKK). A escolha do sucessor foi acelerada com a convocatória de uma conferência especial para 25 de Abril e a CDU acusou o SPD de fazer uma “campanha suja” contra si. 

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O Partido Social-Democrata (SPD) alemão venceu as eleições deste domingo na cidade-estado de Hamburgo e os democratas-cristãos da CDU sofreram o pior resultado dos últimos 70 anos, aprofundando a crise vivida no partido desde a demissão de Annegret Kramp-Karrenbauer (AKK). A escolha do sucessor foi acelerada com a convocatória de uma conferência especial para 25 de Abril e a CDU acusou o SPD de fazer uma “campanha suja” contra si. 

Hamburgo é um dos últimos bastiões dos social-democratas e assim continuará a ser ao conquistarem 39% dos votos, de acordo com resultados provisórios, enquanto a CDU caiu para terceiro lugar, com 11%, superados pelos Verdes (24,2%). O Alternativa para a Alemanha, de extrema-direita, quase se viu fora do parlamento estadual ao conquistar 5,2%, pouco mais do limiar mínimo de 5% para eleger deputados.

Espera-se que o próximo governo estadual seja formado por uma coligação entre social-democratas e ecologistas, à semelhança do anterior executivo de coligação na cidade-estado alemã e com uma maior participação dos ecologistas. Os Verdes foram os grandes beneficiados nestas eleições ao duplicarem os votos das últimas eleições estaduais, em 2015, e continuam na trajectória ascendente que vem desde as eleições para o Parlamento Europeu, em Maio de 2019. Vistos como um bastião contra a extrema-direita, têm posto as alterações climáticas no centro da agenda política.

A prestação nas urnas da AfD atraía muito as atenções, depois de as sondagens publicadas na semana passada apontarem a possibilidade de o partido, que é a terceira maior força política a nível nacional, ficar de fora do parlamento estadual. Quebraria o ímpeto de crescimento e implantação nacional da AfD nos últimos anos. Porém, e apesar de ter perdido 0,8% dos votos, ainda conseguiu votos suficientes para ter deputados estaduais.

Diz a imprensa alemã que um importante factor para a descida de votos na extrema-direita em Hamburgo foi a crise na Turíngia e o atentado terrorista na semana passada em Hanau, quando um homem disparou, por motivações xenófobas, contra dois bares de shisha (cachimbo de água), matando dez pessoas. A AfD foi responsabilizada por o seu discurso de ódio contra minorias ter influenciado o terrorista.

No entanto, quem mais sofreu nestas eleições foram os democratas-cristãos, aprofundando a crise interna que o partido tem vivido nas últimas semanas. Tiveram o pior resultado dos últimos 70 anos em Hamburgo e a responsabilidade está a ser atribuída à mesma crise política na Turíngia, quando a CDU estadual se aliou à AfD para apoiar um candidato dos Liberais (FDP) como chefe do governo estadual e, assim, afastar o candidato do Die Linke.

O cordão sanitário em torno da AfD, imposto pela direcção nacional da CDU, foi rompido pela delegação do partido, mesmo depois da líder, Annegret Kramp-Karrenbauer (AKK) ter dado ordens explícitas para não haver concertação política com a extrema-direita. Sentindo-se desautorizada, AKK, que a chanceler Angela Merkel escolhera para a suceder, apresentou a sua demissão.

“Este resultado deve fazer-nos acordar um pouco e mostrar que há muito em jogo neste momento”, disse o ministro da Saúde alemão, o democrata-cristão Jens Spahn, citado pela Deutsche Welle. “É Hamburgo, é a Turíngia. São os resultados nas urnas. É a posição do partido”, acrescentou. Spahn, que pertence à ala conservadora da CDU, é visto como um dos três candidatos com mais hipóteses de suceder à líder demissionária.

Conhecidos os resultados, o secretário-geral do SPD, Lars Klingbeil, abriu as hostilidades contra a CDU, seus parceiros de coligação no Governo federal, acusando-os de não terem uma demarcação clara face à extrema-direita. “O comportamento da CDU na Turíngia está no limite do embaraço”, disse esta segunda-feira o político social-democrata.

AKK respondeu, dizendo que o SPD está a fazer “uma campanha suja” e garantindo que o seu partido estabeleceu uma “clara linha de demarcação” da AfD. A seguir, a líder demissionária chegou mesmo a pôr em causa o futuro da coligação, pedindo aos social-democratas que parem os ataques ou o melhor é abandonarem a coligação com a CDU. Uma jogada demasiado arriscada para os dois partidos que poderia ter um elevado preço nas urnas.

Há meses que AKK vinha sendo criticada internamente por uma série de gaffes e maus resultados eleitorais e a gota de água que ditou o seu afastamento foi a aliança com a AfD na Turíngia. A líder demissionária pretendia que a sucessão fosse decidida num congresso no final do ano, em Dezembro, para evitar uma luta interna que aprofundasse as divergências no partido, mas a direcção nacional da CDU decidiu-se esta segunda-feira pela conferência especial de 25 de Abril para escolher a nova liderança.

Os candidatos à sucessão devem apresentar-se esta semana e, até ao momento, apenas um dos democratas-cristãos apontados pela imprensa alemã se chegou à frente: o deputado federal Norbert Röttgen. Outros dos referidos, para além de Spahn, são Armin Laschet, chefe do governo da Renânia, e Friedrich Merz, antigo líder da bancada do partido no Bundestag.