Directas do PSD: números que interessam para a segunda volta

É uma situação impossível [a do PSD Madeira], mas fico sempre triste quando se desperdiçam votos em democracia.

Acompanhei a noite eleitoral do PSD ao minuto, com algumas dificuldades logísticas porque o site do partido parecia não aguentar a tamanha curiosidade que os números iam suscitando. Foi uma novidade ter os resultados em directo, mesmo que nem sempre fosse possível aceder-lhes. Parabéns ao PSD por isso. Na era do imediatismo e da desinformação, é uma boa prática que outros partidos podem copiar.

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Acompanhei a noite eleitoral do PSD ao minuto, com algumas dificuldades logísticas porque o site do partido parecia não aguentar a tamanha curiosidade que os números iam suscitando. Foi uma novidade ter os resultados em directo, mesmo que nem sempre fosse possível aceder-lhes. Parabéns ao PSD por isso. Na era do imediatismo e da desinformação, é uma boa prática que outros partidos podem copiar.

Às 20h, Rui Rio surgia nos gráficos ligeiramente destacado, com 50,9% dos votos e a vitória parecia garantida à primeira volta. Tinham sido contados apenas 1200 votos. Luís Montenegro não estava muito afastado, ao contrário de Miguel Pinto Luz, que se manteve sempre em terceiro lugar. Uma hora depois, Rui Rio descia para os 50,3% e, pelas onze da noite, já rondava os 49,6%. Era uma premonição. Rio estava a perder terreno e podia perder a oportunidade de arrasar à primeira. Foi o que aconteceu. O conselho de jurisdição acabou por fechar os números à meia-noite: 49,44% para Rio; 41,26% para Montenegro, 9,3% para Pinto Luz - sem a Madeira.

Não há dúvidas sobre quem foi o vencedor e isso pode dar pistas para a eleição que se repete a 18 de Janeiro. Vale a pena destacar quatro números:

0,56%  Foi esta a “unha negra” que obrigou Rui Rio a uma segunda volta, de acordo com o próprio. Essa minudência de cerca de duas centenas de votos deixou Rio optimista. O discurso de vitória foi uma espécie de espectáculo de stand up comedy, em que o líder do PSD, confiante e bem disposto, chegou a dar lições de matemática aos jornalistas, sobre percentagens e mínimos denominadores comuns. Rio apresentou-se como gosta  ao ataque  e, ao contrário do que disse, fez a sua primeira acção de campanha para a segunda volta das directas. Não respondeu a Montenegro que lhe propôs um debate a dois, mas respondeu-lhe sobre as pessoas que pretende incluir no futuro do partido, se continuar a presidi-lo, nomeando ambos os adversários.

2887  Os votos de Miguel Pinto Luz chegariam para decidir as directas, caso caíssem todos para o mesmo lado. Montenegro ficou a pouco menos de 2500 votos de Rui Rio e, se herdasse integralmente a votação do vice-presidente da Câmara de Cascais — e se não perdesse nenhum voto nem houvesse mais nem menos votantes — podia aspirar a ser líder do PSD. Miguel Pinto Luz ainda não deu qualquer indicação aos seus fiéis sobre o sentido de voto na segunda volta das directas, mas anteriormente assumiu que não é dono dos votos de ninguém. Mas já há eleitores seus que admitiram votar em Montenegro. Por outras palavras: está tudo em aberto para dia 18. Eu é que não me esqueço que há um ditado sobre candeias que diz que é a que vai a frente que alumia mais.

1712  Os militantes do PSD-Madeira que foram às urnas, votaram e viram os seus votos anulados pelo conselho de jurisdição nacional, que já tinha avisado que responderia assim aos prevaricadores. E quem eram eles? Eram Miguel Albuquerque e Alberto João Jardim, mas também muitos outros madeirenses que se apresentaram nas mesas de voto sem ter as quotas em dia. Dos mais de 2200 militantes activos, 1712 votaram, mas os seus nomes não constavam do caderno eleitoral validado pela jurisdição. A Madeira queixava-se de ter de pagar a Lisboa as quotas para escolher o líder, como acontece no resto do país (mas nunca aconteceu na ilha), alegando que ainda há pouco tempo o líder do PSD-Madeira foi eleito por milhares de militantes que não tinham as quotas pagas. É uma situação impossível, mas fico sempre triste quando se desperdiçam votos em democracia.

77% A participação foi, desta vez, muito mais elevada do que em 2018 e do que noutras eleições directas, o que levou Rui Rio a dizer que este regulamento (que obriga os militantes a pagarem as quotas para votar) aproxima muito mais o acto eleitoral da realidade. O que talvez sejam verdade. O número de eleitores não foi dos mais elevados (em 2010 votaram 51.748 militantes), mas também não bateu nenhum recorde pela negativa. Em 2014, por exemplo, votaram apenas 19.711 sociais-democratas. Desta vez foram mais de 30 mil. E o interesse aumenta para a semana.

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