Na Índia, meninos e homens encarnam tigres por um dia

©Pradeep KS
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Nos subúrbios de Mangalore, em Karnataka, Índia, em Setembro e Outubro de cada ano, meninos e homens transformam-se em tigres. Durante o período de cinco anos, o fotógrafo indiano Pradeep KS acompanhou este ritual hindu, de nome Hulivesha, na esperança de captar a sua essência – que tem raiz na reverência e temor que os habitantes de Karnataka sentem pelo tigre-de-bengala, o animal que acreditam ser um veículo da deusa Durga, relacionada com a guerra e a retribuição.

Pelo caminho, Pradeep formou amizade com um dos grupos que há mais tempo participa nesta cerimónia, Gopala Krishna Bhajana Mandali. Nem todos os homens podem integrar o ritual, só aqueles que fizeram um pedido no ano anterior e a quem esse foi concedido. "Um dos membros pediu bençãos divinas para a construção de uma casa; outro para encontrar um marido para a sua filha", contou ao P3 o fotógrafo indiano, por email. "Um menino com um problema na perna pediu uma cura, prometendo que voltaria no próximo ano se o seu pedido fosse atendido."

Antes de dar início à cerimónia, um grupo de homens oferece um coco a Krishna. No interior do templo da aldeia, junto a um conjunto de máscaras de tigre, juntam-se homens mais velhos do grupo. O líder pinta uma lista amarela no braço de cada um dos participantes e só depois se oficializa a abertura da cerimónia, que tem início com a pintura de 30 a 40 corpos. A pintura de cada um pode durar até 12 horas, devido aos longos períodos de espera entre cada espessa camada de tinta. "A espera pela secagem da tinta é parte do teste de paciência", explica ao P3. "As suas mãos não podem tocar no corpo e os corpos têm de estar esticados, por vezes apoiados sobre uma linha de arame que atravessa a sala, para que a tinta seque."

O que se segue é uma espécie de desfile e baile de veneração e penar que acaba já depois da meia-noite. "Até ao amanhecer, os homens removem a tinta dos seus corpos com recurso a querosene e terebintina. Não podem dormir com ela, é demasiado desconfortável. Muitos ficam com irritações cutâneas, mas no ano seguinte tornam a repetir a experiência." A ideia de incorporar o poder do respeitado tigre é demasiado sedutora. 

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