Na Aldeia Viçosa, há quatro séculos que chovem castanhas no Magusto da Velha

Aldeia do concelho da Guarda volta a cumprir a tradição, que será “única no mundo”: logo a seguir ao Natal, há vinho em terra, 150kg de castanhas assadas lançadas pelos ares a partir da torre da igreja. E já se fala em candidatura a Património da Humanidade.

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O Magusto da Velha: castanhas lançadas para todos a partir da torre do sino da igreja de Aldeia Viçosa DR
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Depois do Natal, o Magusto da Velha, uma tradição considerada única no mundo e que a junta de freguesia pretende candidatar a Património Imaterial. Em Aldeia Viçosa, há mais de quatro séculos que se cumpre esta tradição: dia 26 assam-se castanhas depois do almoço. Com uma particularidade: são lançadas da torre sineira da Igreja Matriz.

Cá em baixo, junto ao madeiro ainda fumegante, a população colhe-as enquanto saboreia o vinho oferecido e as torradas cumprimentadas pelo azeite local, com artesanato e animação musical a acompanhar.

Tudo em honra de uma benfeitora desta freguesia da Guarda. Antes do magusto, vale a pena passar com a família pela sede do concelho, onde está a funcionar até 25 de Dezembro a Cidade Natal, com a sua árvore de 12 metros de altura abeirada de uma pista de gelo, um carrossel ao estilo parisiense, um mercadinho e a casa do Pai Natal.

O Magusto da Velha remonta ao século XVII e terá origem numa doação feita por uma mulher abastada, cujo nome se desconhece, para que os habitantes daquela localidade pudessem comer castanhas e beber vinho uma vez por ano.

“No dia 26 de Dezembro vamos novamente cumprir a tradição - como eu costumo dizer, cumprir a obrigação. Esta obrigação que já é secular, já tem mais de quatro séculos, em que o povo tem de recordar o gesto benemérito de uma velha que ofereceu as castanhas e o vinho”, disse à agência Lusa o presidente da Junta de Freguesia de Aldeia Viçosa, Luís Prata.

O programa da iniciativa, que promete “um dia de festa e de envolvimento da população”, inclui também actividades de animação, o lançamento de castanhas e de rebuçados (para as crianças) do cimo da torre da igreja e a degustação de pão torrado com azeite, entre outras iniciativas.

O evento, que é único no país e está devidamente documentado, “poderá dar muito à cultura e ao turismo do concelho da Guarda”, considerou Luís Prata.

A Junta de Freguesia ambiciona mesmo inscrever a tradição no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, tendo já manifestado essa intenção junto da Câmara Municipal da Guarda, no âmbito da candidatura da cidade a Capital Europeia da Cultura 2027. “Estamos piamente convictos de que a candidatura do Magusto da Velha a Património Imaterial da Humanidade poderá também beneficiar este desiderato do município”, disse.

Luís Prata considera que a tradição de Aldeia Viçosa “merece” ser reconhecida: “É um evento que existiu, que se repete todos os anos, que simboliza só coisas positivas. Não há, no mundo, outra coisa igual. Há documentos que comprovam os factos”.

Segundo o autarca, o Magusto da Velha, organizado pela junta e pela autarquia, tem origem na herança que é mencionada no “Livro de Usos e Costumes da Igreja do Lugar de Porco [antiga designação de Aldeia Viçosa] - Ano de 1698”. “Desde então, o povo tem organizado esta festa que recorda o gesto benemérito de quem deu de comer aos pobres em plena época medieval, uma época caracterizada por fomes, guerras e doenças”, acrescentou o responsável.

Ainda hoje, a Junta de Freguesia de Aldeia Viçosa recebe uma renda anual perpétua de “cerca de 12 cêntimos de euro”, que é “meramente simbólica”.

Na quinta-feira a tradição volta a ser cumprida, a partir das 14h30, com uma missa pela alma da “velha”, seguindo-se, às 15h, o cortejo das castanhas e do vinho. As castanhas (150 quilos) são içadas para a torre da igreja e depois atiradas para cima das pessoas que assistem.

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