Tesla, Apple e Microsoft acusadas de usar trabalho infantil em minas de cobalto

Seis das 14 crianças referidas na acção judicial submetida este domingo morreram em desmoronamentos de túneis; as outras sofreram lesões graves.

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Mina de cobalto na República Democrática do Congo David Lewis/Reuters

Cinco das maiores tecnológicas do mundo foram acusadas de serem cúmplices na morte de crianças forçadas a trabalhar nas minas de cobalto da República Democrática do Congo (RDC) — o cobalto é utilizado nas baterias de telemóveis e computadores.

A queixa, em nome de 14 famílias da RDC, foi submetida no domingo por uma organização não-governamental norte-americana, a International Rights Advocates, e tem como alvos a Tesla, a Apple, a Alphabet (empresa-mãe da Google), a Microsoft e a Dell.

Segundo a acção judicial, as empresas faziam parte de um sistema de trabalho forçado que as famílias dizem ter levado à morte ou causado lesões graves nos seus filhos.

Esta é a primeira vez que a indústria tecnológica enfrenta uma acção legal conjunta por causa da mineração do cobalto. Imagens nos documentos entregues no tribunal, em Washington D.C., mostram crianças desfiguradas e amputadas. Seis das 14 crianças referidas no processo morreram em desmoronamentos de túneis e as outras sofreram lesões graves.

“Estas empresas — as mais ricas do mundo, estas empresas sofisticadas que fazem gadgets — permitiram que crianças fossem mutiladas e mortas para conseguir cobalto barato”, disse Terrence Collingsworth, um advogado que representa as famílias, à Thomson Reuters Foundation.

O cobalto é essencial para fazer as baterias de lítio recarregáveis usadas em milhões de produtos vendidos pela indústria tecnológica. E mais de metade do cobalto mundial é produzido na RDC.

O processo diz que as crianças, algumas com apenas seis anos, foram forçadas pela extrema pobreza das famílias a abandonar a escola e a trabalhar em minas de cobalto da empresa britânica Glencore, uma empresa que já tinha sido acusada de usar trabalho infantil. Algumas crianças ganhavam um dólar e meio por dia e trabalhavam seis dias por semana, diz a queixa.

Um porta-voz da Glencore disse que a empresa já tomou conhecimento da acção judicial e negou as acusações. “A produção de cobalto da Glencore na RDC é um subproduto da nossa produção industrial de cobre. Não compramos ou processamos minério extraído artesanalmente. A Glencore não tolera qualquer forma de trabalho infantil, forçado ou obrigatório.”

A Dell respondeu por email dizendo que “nunca recorreu com conhecimento” a empresas que usam trabalho infantil e que vai investigar estas alegações. A Tesla, a Apple, a Google e a Microsoft não responderam até ao momento.

A acção judicial argumenta que as empresas têm todas a capacidade de mudar as suas cadeias de fornecimento de cobalto para garantir condições de segurança.

“Nunca encontrei ou documentei uma assimetria mais severa na distribuição de rendimento entre o topo da cadeia de abastecimento e o fundo”, disse Siddharth Kara, um investigador que estuda a escravatura moderna e é testemunha no caso. “É essa quebra que torna este provavelmente o pior caso de injustiça e exploração infantil que encontrei em duas décadas de investigação”, acrescentou.

Estima-se que mais de 40 milhões de pessoas sejam sujeitas a formas de escravaturas modernas, de trabalhos forçado a casamentos forçados, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho.

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