Utentes da Feirense e Albano Martins podem deixar de ter acesso ao passe único em Janeiro

Empresas não compraram validadadores e não vendem o passe intermodal Andante aos seus clientes. Área Metropolitana diz-se enganada e ameaça retaliar.

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Todos os operadores do Andante têm de ter validadores para os cartões Joana Goncalves

Os utentes de dois operadores de transporte de passageiros que servem Santa Maria da Feira, Porto, Gaia, Gondomar, Arouca, São João da Madeira e Paredes podem deixar, a partir de Janeiro, de usufruir do passe único, foi hoje revelado. Em causa, explicou hoje o presidente da Área Metropolitana do Porto (AMP), Eduardo Vítor Rodrigues, estão duas empresas que oito meses depois da implementação do passe único nos 17 concelhos ainda não adquiriram os validadores necessários para integrar a rede intermodal Andante.

Na reunião do Conselho Metropolitano desta manhã, o autarca disse que a AMP se sente “enganada”, uma vez que, desde abril deste ano, as empresas Albano Esteves Martins e Feirense têm reiterado o compromisso de adquirir estes equipamentos, mas até ao momento não o fizeram. “O problema não é comprarem os validadores. O problema é que estão a usar os validadores como pretexto para ter uma dupla receita e canibalizar o mercado”, afirmou.

Para aquele responsável, depois destes meses todos em que a AMP “co-financiou o pagamento” dos validadores, não há outra alternativa, defendeu, se não propor que a partir de 1 de Janeiro se ponha um fim a esta situação. Eduardo Vítor Rodrigues diz que as empresas em causa estão a arrecadar “uma dupla receita”, dado que para além do financiamento “liquido” que a AMP transfere, a receita do serviço de transporte que obtêm não está a ser partilhada, como pressupõe a integração no Andante.

Para o autarca, esta situação não só, não é sustentável do ponto de vista financeiro, como representa um risco de desintegração do sistema, com as empresas cumpridoras começam a acreditar que o “crime compensa”. “Não vejo alternativa, quem não tiver validadores sai”, afirmou.

Esta situação levou a presidente da Câmara de Arouca, Margarida Belém, a solicitar que a AMP desenvolvesse um último esforço junto destes operadores, por se tratar de um serviço essencial aos munícipes. Já o autarca de Paredes, Alexandre Almeida, um dos concelhos que pode vir a ser afectado por esta tomada de posição, admitiu estar disponível para contribuir financeiramente para uma solução. O que não pode acontecer, frisou, que é uma parte substancial do concelho fique sem cobertura. Outros municípios que pode vir a ser mais penalizado é o de Santa Maria da Feira, cujo seu presidente, Emídio Sousa, não esteve hoje presente na reunião do AMP.

Actualmente, explicou Eduardo Vítor Rodrigues aos jornalistas, os utentes que utilizam estes dois operadores dispõem de um passe monomodal, que não permite a circulação nos diferentes meios de transporte existentes, pagando no máximo, como acontece em toda a área metropolitana, 30 ou 40 euros conforme optem pelo título concelhio ou metropolitano. A manter-se esta situação, as duas empresas deixarão de estar integradas no Programa de Apoio à Redução Tarifária nos Transportes (PART), deixando a AMP de as financiar.

“Eu bem sei que este processo vai acabar, de uma forma ou de outra, com o novo concurso que nós lançamos e que implica a obrigatoriedade dos concorrentes terem estes validadores, mas até lá não podemos pactuar com esta discriminação negativa, e sobretudo a por em causa o próprio modelo, porque a certa altura se toda a gente decidir fazer a mesma coisa, acaba-se o passe único”, afirmou em declarações aos jornalistas.

“Aquilo que eu quero deixar claro é que continuaremos a reunir até ao fim do ano, mas sabendo que do fim do ano não passa sem uma solução definitiva e depois as empresas assumirão junto da comunidade as suas responsabilidades. O que me está a preocupar é o cidadão que tem duplo bilhete e que corre o risco de ter de pagar dupla bilhética”, concluiu.

A Lusa noticiou no dia 3 de Maio que a Feirense que opera em Santa Maria da Feira, Arouca, São João da Madeira, Gaia e Porto, não tinha intenção de comprar os validadores que permitem a integração na rede Andante e o uso pleno do passe único. À data, a empresa esclareceu que “não pondera, nem nunca ponderou” adquirir os validadores necessários para integrar a rede intermodal Andante, sublinhando mesmo que, após o término da sua concessão, em Dezembro, não sabe se vai continuar a operar ou em que condições o vai fazer.

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