Tancos com nova comissão para saber quem mentiu

A esquerda refere a acusação ao ex-ministro da Defesa para avançar com mais um inquérito parlamentar. A direita tem na mira o primeiro-ministro.

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CDS quer subir de patamar com a mira em António Costa LUSA/MÁRIO CRUZ

O assalto aos paióis de Tancos vai ter uma nova comissão de investigação no Parlamento saído das urnas das eleições de 6 de Outubro. Tal não é novidade, já tinha sido confirmado pelos partidos após o despacho de acusação do Ministério Público de 27 de Setembro. A notícia é o enquadramento feito esta quarta-feira na Assembleia da República.

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O assalto aos paióis de Tancos vai ter uma nova comissão de investigação no Parlamento saído das urnas das eleições de 6 de Outubro. Tal não é novidade, já tinha sido confirmado pelos partidos após o despacho de acusação do Ministério Público de 27 de Setembro. A notícia é o enquadramento feito esta quarta-feira na Assembleia da República.

É reveladora a forma como os partidos da esquerda, que apoiaram as conclusões do deputado relator, o socialista Ricardo Bexiga, se situaram na reunião da comissão permanente convocada pelo PSD para abordar o mais incrível roubo de que foram alvo as Forças Armadas.

“A Comissão Parlamentar de Investigação não pôde aferir, para além do que foi apurado, se alguém faltou à verdade”, disse o deputado António Filipe, do PCP. “Faltar à verdade” é mentir e o “alguém” referido corresponde ao antigo ministro da Defesa Nacional, José Azeredo Lopes, que aos deputados apresentou uma versão que não corresponde aos factos que lhe são imputados pelo Ministério Público e que levaram, primeiro, à sua constituição como arguido e, depois, à condição de acusado.

“A responsabilidade do ministro Azeredo Lopes não tinha sido apurada, se houver novos factos deve ser alterada [a posição da comissão de inquérito]”, acentuou Pedro Filipe Soares, do Bloco de Esquerda, referindo-se ao antes e depois da acusação.

Os bloquistas retomaram um tema que lhes é caro: “Deve haver uma reflexão sobre a existência da PJM [Polícia Judiciária Militar, cujos responsáveis são acusados de burlar a Justiça e de conluio com os assaltantes para o achamento do material furtado]”. Foram os únicos a defender o fim da Judiciária Militar.

Para memória imediata e futura, o PS viu confirmado que os parceiros à esquerda apoiam a nova comissão e investigação, já solicitada pelo PSD e CDS, mal seja constituído o novo Parlamento. Mas, desta vez sem filtros, com a desconfiança plena à partida sobre Azeredo Lopes, e com a mira nas responsabilidades políticas de um ministro que, embora já tivesse apresentado a sua demissão quando falou aos deputados da comissão de inquérito em São Bento, não saiu de cena, porque o despacho de acusação tal não permite.

“Se uma nova Comissão Parlamentar de Inquérito vier, assim, a ser requerida, viabilizá-lo-emos”, anunciou, sem surpresa, o socialista Filipe Neto Brandão, presidente da anterior comissão de investigação.

O CDS, que propôs a primeira investigação no Parlamento, revelou o seu objectivo para a nova ofensiva. “Temos de subir de patamar em relação à anterior comissão”, propôs Telmo Correia. A mira é o primeiro-ministro, António Costa, através de uma pergunta trabalhosa. “O ministro da Defesa Nacional foi, ou não, leal”, interrogou um dos cinco parlamentares do CDS na próxima legislatura, sendo que a lealdade aludida era a devida ao chefe do Governo.

“A judicialização da política inclui os cidadãos políticos”, dissera antes Fernando Negrão, líder da bancada do PSD. “A ‘geringonça’ continua bem afinada”, rematou na última intervenção social-democrata Duarte Marques: “O Governo sabia de tudo desde a primeira hora.”

Está é, à direita, a fasquia. À esquerda, Bloco e PCP não escondem o incómodo de se sentirem enganados. Para memória futura e imediata, após a constituição do novo Parlamento.