Esgoto a céu aberto em Monsanto causado pela “ruptura num colector público”

Denúncias nas redes sociais davam conta de esgotos a céu aberto, dejectos e luvas junto ao panorâmico de Monsanto.

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Estava o Festival Iminente (entre 19 e 22 de Setembro), junto ao panorâmico de Monsanto, em Lisboa, quase a terminar quando começaram a surgir denúncias nas redes sociais que davam conta de esgotos a céu aberto naquela zona. Conforme constatou o PÚBLICO, o local estava contaminado por água suja, vendo-se dejectos como luvas de plástico e bocados de comida. A poluição deveu-se, não a uma descarga voluntária, mas sim à ruptura de um colector público, informou a câmara.

A Câmara Municipal de Lisboa (CML) já se pronunciou, confirmando, numa nota publicada na página oficial da CML no Facebook, que “foi detectada ontem [domingo], cerca das 14h, a existência de uma ruptura num colector público, com a presença de resíduos e de um forte odor junto da encosta circundante ao parque de estacionamento”.

Já a organização garante, em comunicado, que o “Festival Iminente cumpriu rigorosamente todas as diligências, em sintonia com os órgãos da Câmara Municipal de Lisboa, mais especificamente os seus departamentos de ambiente e saneamento, para que todo o ecossistema fosse respeitado e as regras de funcionamento e de descargas cumpridas”.

À semelhança do que foi apontado pela CML, a organização do festival explica que, de acordo com as informações recolhidas até ao momento, a descarga se “terá ficado a dever a uma ruptura no colector público da estrutura da conduta de esgoto na zona exterior do festival”. “Assim que a organização teve conhecimento da situação alertou as entidades responsáveis para que se corrigisse o sucedido”, acrescentam, lamentando o sucedido.

Agora cabe às “equipas competentes” proceder à reparação da conduta e à limpeza do espaço afectado, tendo a própria organização do festival contratado uma empresa que se encontra no local a proceder à aspiração e limpeza dos terrenos de forma a reduzir “qualquer tipo de impacto ambiental que possa ter sido causado”.

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Limpeza no Parque Florestal de Monsanto. FRANCISCO ROMÃO PEREIRA/PÚBLICO

“A filosofia do festival pauta-se pelo respeito do espaço onde se insere, uma das causas que continuamos a abraçar é a do respeito para com o Parque Florestal de Monsanto”, conclui a nota da organização.

Resposta imediata

A direcção do festival garante ao PÚBLICO que foram reunidos todos os esforços para colmatar a situação e minimizar o impacto ambiental do sucedido. Segundo Tiago Silva, director do Iminente, no sábado a organização recebeu uma queixa durante o festival, tendo informado imediatamente as autoridades e mobilizado uma equipa de canalizadores (responsável pelo saneamento do evento) para “verificar se se encontrava algum tubo entupido ou algum problema no saneamento, o qual não se verificou”. À data, um camião dirigiu-se também ao local para sugar as descargas, tendo a organização sido informada de que “estava tudo ok” na rede de saneamento.

Já no domingo à noite, quando tomaram conhecimento da publicação de um vídeo no Facebook por um cidadão que denunciava um esgoto a céu aberto, a organização tomou “as devidas precauções” e chamou uma empresa para se dirigir ao recinto e proceder à limpeza do terreno. Operações que “irão possivelmente ser ainda complementadas com serviços disponibilizados pela Câmara Municipal de Lisboa”, afirma o director do festival.

“Este é já o segundo ano que realizamos o evento. A nossa canalização foi montada exactamente da mesma maneira. É uma co-organização com a Câmara Municipal e foi tudo aprovado previamente”, explica ao PÚBLICO Tiago Silva, adiantando que os trabalhos de limpeza e de avaliação do problema prosseguem no local com recurso a uma câmara “para perceber em que ponto é que houve a ruptura” e qual a causa da mesma.

O director do Iminente garante ainda que, ao contrário do que afirmavam alguns comentários nas redes sociais, não havia nenhum plástico na zona das descargas, mas sim resíduos de material de cozinha. “Até porque ia contra a nossa filosofia e a nossa comunicação muito em prol do ambiente”, afirma Tiago Silva, exemplificando com algumas medidas levadas a cabo pela organização como a utilização de copos reutilizáveis no recinto e a disponibilização de shuttles para que as pessoas não fossem obrigadas a utilizar o carro.

Tiago Silva explica que, ao que tudo indica, a origem do problema está mesmo numa “ruptura no colector público da estrutura de conduta do esgoto na zona exterior do festival”.

Ainda assim, segundo Tiago Silva, o balanço do festival é “bastante positivo”: “Atingimos cerca de 92% da lotação máxima, que eram 20 mil pessoas. Tivemos momentos e experiências únicas. O Common disse-nos que foi dos melhores concertos da tour da Europa, porque realmente é um espaço único, um espaço especial onde as pessoas se encontram felizes (…) Foram mais quatro dias de um festival único”.

No domingo, uma equipa da CML iniciou “os procedimentos para limpar o terreno através da remoção das terras afectadas, que se encontram numa zona de difícil acesso, garantindo que não há qualquer impregnação e contaminação do solo”. Esta segunda-feira, segundo confirmou o PÚBLICO, as operações de limpeza e inspecção prosseguiam no local, com elementos da protecção ambiental e da Câmara Municipal de Lisboa.

“Ao contrário do que tem sido referido, a presença de resíduos no terreno não está ligada ao uso das casas de banho, que são respeitadoras das mais elevadas normais ambientais, certificadas pela CML”, prossegue a nota da autarquia. Na origem estará então a ruptura de um colector, que tinha sido alvo de uma vistoria a 10 de Agosto, antes da realização do Festival Iminente.

Elementos da organização do Festival Iminente esclareceram ao PÚBLICO no local que estavam a averiguar as causas do sucedido, visto que o seu sistema não funciona por descargas. O objectivo era que este fosse um festival eco-friendly (inclusive sem plásticos, com o uso de copos reutilizáveis e com o acesso vedado a automóveis), não pretendendo causar qualquer impacto no ambiente.

Por sua vez, a Quercus pede, em comunicado, “actuação da Inspecção do Ambiente e da Câmara Municipal de Lisboa para responsabilização deste crime ambiental em pleno Parque Florestal de Monsanto em Lisboa, onde foram despejados efluentes domésticos”.

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