Bolsonaro manda espiar o Vaticano, desconfiado do Sínodo da Amazónia

Bispos escrevem carta em que lamentam que as suas “lideranças sejam criminalizadas como inimigos da Pátria”, em resposta a suspeitas de que estão a conspirar contra soberania brasileira, levantadas pelo Governo de Bolsonaro.

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Protestos no Rio de Janeiro no passado dia 25 de Agosto Reuters/SERGIO MORAES

Os bispos que participam no Sínodo da Amazónia – uma reunião no Vaticano, durante o mês de Outubro – divulgaram uma carta em que dizem lamentar que o Estado brasileiro os “criminalize” e os trate como “inimigos da pátria”. A Igreja Católica responde desta forma a declarações do Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, que confirmou que a Abin, a Agência Brasileira de Informação, está a “monitorizar” o Sínodo, por considerar que o interesse do Vaticano pode pôr em causa a soberania do Brasil.

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Os bispos que participam no Sínodo da Amazónia – uma reunião no Vaticano, durante o mês de Outubro – divulgaram uma carta em que dizem lamentar que o Estado brasileiro os “criminalize” e os trate como “inimigos da pátria”. A Igreja Católica responde desta forma a declarações do Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, que confirmou que a Abin, a Agência Brasileira de Informação, está a “monitorizar” o Sínodo, por considerar que o interesse do Vaticano pode pôr em causa a soberania do Brasil.

Participam no Sínodo da Amazónia, entre 6 e 27 de Outubro, bispos de nove países da América do Sul, 57 dos quais brasileiros, diz o portal UOL. Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname, Venezuela e Guiana Francesa enviam igualmente representantes a este encontro com o Papa Francisco, para discutir a acção da Igreja Católica nesta vasta área. Estas reuniões realizam-se periodicamente desde 1952.

Uma das questões em cima da mesa será a possível ordenação de homens casados na Amazónia – uma medida que será circunscrita a esta região, e de preferência a anciãos “indígenas, respeitados e aceites pela sua comunidade, ainda que já tenham uma família constituída e estável, com a finalidade de assegurar os sacramentos que acompanhem e sustentem a vida cristã”, nas áreas mais remotas daquela região.

O encontro, no entanto, está a suscitar enorme burburinho na administração Bolsonaro, de exaltado nacionalismo e grande preocupação com ataques à soberania na Amazónia – exacerbada pela preocupação e indignação internacional com a dimensão dos incêndios florestais na Amazónia, potenciados pelas decisões de cortar fundos para a fiscalização na floresta tomadas por este Governo brasileiro.

“A nossa expectativa é de que não haja problema para o Governo nem nenhum desentendimento com a Igreja”, disse o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, ao jornal O Estado de S. Paulo. O diário diz que o Palácio do Planalto está a tentar conter o que considera ser um avanço da Igreja Católica em temas de esquerda – aí inclui as alterações climáticas, a situação dos povos indígenas e a desflorestação da Amazónia.

Daí a carta dos bispos, preparada numa reunião em Belém do Pará. “Lamentamos imensamente que hoje, em vez de serem apoiadas e incentivadas, nossas lideranças são criminalizadas como inimigos da Pátria. Junto com o Papa Francisco, defendemos de modo intransigente a Amazónia e exigimos medidas urgentes dos Governos frente à agressão violenta e irracional à natureza, à destruição inescrupulosa da floresta que mata a flora e a fauna milenares com incêndios criminosamente provocados”, escrevem.