Rui Rio: “Vamos comprar uma guerra, daquelas que eu gosto, pela descentralização”

Na festa do Pontal, líder do PSD diz que o partido “merece ganhar as eleições” porque traz “esperança aos portugueses.

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“Ora zumba na caneca, ora na caneca zumba” – a música popular de Tonicha entoava no recinto destinado à festa enquanto os militantes chegavam, a conta-gotas, e se sentavam nas mesas e bancos corridos de madeira. O recinto da festa do Pontal, em Monchique, não encheu, mas Rui Rio puxou dos seus galões de autarca e tentou entusiasmar a plateia social-democrata com uma “guerra” – “daquelas que eu gosto” -  a favor da descentralização.

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“Ora zumba na caneca, ora na caneca zumba” – a música popular de Tonicha entoava no recinto destinado à festa enquanto os militantes chegavam, a conta-gotas, e se sentavam nas mesas e bancos corridos de madeira. O recinto da festa do Pontal, em Monchique, não encheu, mas Rui Rio puxou dos seus galões de autarca e tentou entusiasmar a plateia social-democrata com uma “guerra” – “daquelas que eu gosto” -  a favor da descentralização.

No palco, com os cabeças de lista atrás de si, o líder do PSD explicitou os motivos pelos quais o PS “não merece ganhar” as legislativas. Porque “usa” o Estado e as “próprias famílias” a seu favor e promove negócios “intoleráveis”. Mas isso – adiantou – “não é razão suficiente para um português não votar no PS”. Outro motivo mais forte para não votar PS é que o Governo “não aproveitou a conjuntura económica para relançar o país”. A terceira razão apontada é o recorde de carga fiscal. “Ouvi o primeiro-ministro dizer que baixou o IRS, é verdade, mas subiu outros impostos indirectos, pagamos mais impostos indirectos que são cegos ao rendimento de cada um”, disse, acrescentando: “É uma medalha de latão e o prémio é um balde de plástico”. A plateia aplaudiu um pouco mais forte. Mais uma vez, Rio recorreu à imagem do “circo” para acusar o Governo de António Costa de falta de sentido de Estado, em particular, na crise dos combustíveis.

Como alternativa, o líder do PSD coloca o partido como merecedor de ganhar as próximas eleições por “trazer esperança aos portugueses” a começar na economia (“um modelo de crescimento que assegure melhores empregos e salários”), mas também no ambiente (há “problemas sérios na Humanidade”) e ainda com uma justiça “eficaz”. Mas a maior bandeira – uma “guerra” como chamou o próprio – é a concretização da descentralização porque a concentração nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto que existe hoje “já é algo que toca a estupidez”. E em jeito de desafio, o antigo autarca do Porto apelou: “Vamos assinar aqui um contrato, vamos comprar uma guerra, daquelas que eu gosto, pela descentralização, pela desconcentração, contra os interesses instalados”. Uma frase a fazer lembrar as tensões públicas da época em que liderou a câmara do Porto. O líder social-democrata não concretizou o que seria essa “guerra” nem se referiu ao andamento do processo de transferência de competências para as autarquias, que foi alvo de um acordo entre o próprio Rio e o Governo, muito criticado internamente no partido.

Dos críticos assumidos de Rui Rio só um compareceu na festa do Pontal: Miguel Morgado. O deputado – que já não vai nas listas e que admite ser candidato à liderança do PSD  – sublinhou a importância da representação do partido “aconteça o que acontecer” a 6 de Outubro. “É importante que o PSD seja o baluarte de resistência do poder hegemónico do socialismo. Isso só se consegue se mantiver a representação política em todo o território”, afirmou ao PÚBLICO, justificando assim a sua presença na festa.

Miguel Morgado era dos poucos sociais-democratas que não trazia um púcaro de alumínio e uma fita laranja (para pôr ao pescoço), distribuído a todos os participantes à entrada do recinto. Com as alterações climáticas na agenda mediática, o PSD dispensou o plástico na sua tradicional festa de Verão. A festa também se fez nas banquinhas regionais – onde se promovia por exemplo “o primeiro gin tónico do Ribatejo” – representativas das distritais e estruturas do partido. Algumas estavam vazias à hora de início da festa, às 18h00.  

No palco, antes dos discursos de dirigentes locais, foram chamados, um a um, os cabeças de lista do PSD. “Mostrem o vosso apoio”, apelava o speaker. O ânimo parecia tardar em chegar a um partido que está surpreendido pelas sondagens. Os números não levam o líder do PSD a mostrar desânimo. De manhã, antes de participar num jogo de futebol, que abriu a festa do Pontal, o líder do PSD confirmou a notícia avançada pelo Expresso de que todos os candidatos a deputados assinaram uma declaração de honra, mas diferentes consoante sejam arguidos, acusados ou não tenham conhecimento de ter algum processo na justiça. Rio fez, mais uma vez, a defesa intransigente da “presunção da inocência” e lembrou que, como autarca, foi arguido “cinco ou seis vezes por tudo ou por nada”: “Já sei do que a casa gasta”.

No remate da intervenção e em jeito de humor, Rio tentou imaginar como seriam as quadras do poeta algarvio António Aleixo sobre a situação política. “O PS governa mal, só o presente lhe interessa, o futuro de Portugal é coisa que não tem pressa./ O circo monta e desmonta, dramatiza e sobressalta. Tem sempre a novela pronta, espectáculo não lhe falta. Não são dadas a rigor as políticas socialistas foi assim com os professores e agora com os motoristas”, declamou.​

O líder social-democrata não se referiu ao andamento do processo de transferência de competências para as autarquias – que foi alvo de um acordo entre o próprio Rio e o Governo – mas tinha um recado para António Costa. “O secretário-geral do PS vai fazendo a Estrada Nacional 2 mas quando se senta como primeiro-ministro vai se esquecendo de tudo o que vê. Não podemos continuar a atirar tudo para cima das áreas metropolitanas, esquecendo o interior”, afirmou. No final do discurso, os sociais-democratas puderam levantar-se dos bancos corridos de madeira e servir-se para o jantar, levando o púcaro de alumínio para as bebidas, que tinha sido distribuído à entrada. A festa do Pontal de 2019 baniu o plástico.