Em spray ou ponto cruz, Figueiró dos Vinhos convida a Fazunchar

Há arruada, piquenique, visitas guiadas seguindo as artes. Este é o ano em que Figueiró dos Vinhos se posiciona em força no circuito de arte urbana com o seu próprio festival. De 24 de Agosto e 1 de Setembro, a ordem é para Fazunchar. E, na terra do Casulo de Malhoa, até os idosos grafitam.

Fotogaleria

O município queria ser falado “por algo além dos incêndios, das tragédias ou das desconfianças”. Em conjunto com a Mistaker Maker - Plataforma de Intervenção Artística, fez nascer o Fazunchar, “onde a arte se faz festa”. 

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O município queria ser falado “por algo além dos incêndios, das tragédias ou das desconfianças”. Em conjunto com a Mistaker Maker - Plataforma de Intervenção Artística, fez nascer o Fazunchar, “onde a arte se faz festa”. 

O nome vem de um antigo dialecto local ligado à produção e comércio de têxteis (o laínte). Fazunchar significa “fazer”. E há muito para fazer, de facto, no festival que junta “vários tipos de arte, em diálogo constante entre elas, com a comunidade e o território”. 

A terra em que José Malhoa se fixou, onde produziu grande parte da sua obra e que escolheu para mandar construir a sua casa (o tal Casulo, onde viria a morrer em 1933) recebe agora quatro artistas/coletivos para lhe tratarem dos murais. De Marrocos vem Mohamed L'Ghacham, com as suas cenas realistas da vida diária pintadas em empenas. De Espanha, Julio Anaya Cabanding, que é “convidado a reproduzir peças de José Malhoa, pelas mesmas ruas e recantos que as inspiraram”. Portugal é representado pelo Halfstudio, especialista em lettering, e por Aheneah, projecto de Ana Martins que “borda” paredes em ponto cruz. 

Quem tiver curiosidade sobre esta técnica em particular pode participar num workshop (dia 31, às 10h e 16h, no Museu e Centro de Artes). Outras aprendizagens se farão na oficina da Lata 65, o projecto que tem andado, por Portugal e outros países, a desafiar cidadãos seniores a saírem à rua de spray em riste e mostrarem (aos outros e a si próprios) que a criatividade não tem limite de idade (dias 28 e 29, às 14h30 e 18h30, na Rua Dom Sancho I, 15). A oferta de workshops completa-se com Quantas contas contas?, feita de “muitas histórias, muitos contos, muitos sonhos e encantos, muitos riscos e rabiscos” e dirigida a “solitários e famílias dos seis aos 80 anos” (dia 1, às 15h e 17h, no Parque Vale da Pipa).

A vila será também uma verdadeira vitrina de arte urbana através do comércio local, cortesia das intervenções artísticas de Monk nas suas montras.

Entretanto, estão patentes duas exposições: uma dedicada à Memória Fotográfica de Figueiró dos Vinhos, baseada no espólio recolhido por Margarida Lucas, uma das suas habitantes (e apaixonadas); e outra apostada em Ilustrar Malhoa com trabalhos de seis ilustradores portugueses: Ana Seixas, André da Loba, André Letria, Mariana Rio, Margarida Girão e Tiago Galo. 

O lugar do cinema é o espaço exterior no Museu e Centro de Artes, onde será exibido, dia 29, às 21h30, o filme Olhares Lugares, que regista o encontro entre Agnès Varda, cineasta recentemente desaparecida, na altura com 89 anos, e JR, fotógrafo e street artist, de 34.

Fazunchar traduz-se também em residências artísticas de Nuno Sarmento (desenho), Rute Ferraz (fotografia), Vasco Mendes (vídeo) e Homem em Catarse (músico também conhecido como Afonso Dorido), ele que fez um disco em forma de road tripViagem Interior – pelo coração do país. A essas canções, com títulos como Tua, Portalegre, Vila Real ou Évora, promete juntar outra chamada Figueiró dos Vinhos. O resultado da sua residência é apresentado em concerto, dia 30, às 21h30, no Casulo. A música segue com outro convidado: Noiserv, que toca no dia seguinte, à mesma hora, na Praça da República.

O programa desta primeira edição contempla ainda uma arruada, um piquenique comunitário, conversas com os artistas participantes e visitas guiadas “para todos, para crianças e a locais improváveis”, ao ritmo do novo mapa desenhado pelo festival.