Continua a rota bizarra do “Jonas” de Rui Vitória

O cenário de Rui Vitória na Champions asiática não está promissor, mas poderia estar bem pior se não fosse Hamdallah.

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Abderazzak Hamdallah DR

É o “abono de família” do Al Nassr, de Rui Vitória, e os quase 50 golos marcados na temporada passada – 34 só na Liga saudita – levaram o treinador português ao título. Chama-se Abderazzak Hamdallah e é o “Jonas” de Rui Vitória, no médio-oriente.

Se, em 2015/16, Hamdallah apontou 26 golos em 31 jogos, em 2017/18 - regressado de uma lesão que o tinha impedido de jogar na época anterior - assinou 22 golos em 27 jogos. Um instinto goleador que se refinou na temporada passada, quando apontou 46 golos em 33 jogos, fazendo com que este ponta-de-lança apresente uma impressionante média de 31 golos por época nas últimas três temporadas.

Aos 28 anos, o avançado marroquino tem tido uma carreira bizarra. É verdade que o golo “está caro” e que as equipas pagam cada vez mais pelos jogadores capazes de valer 20 golos por época, mas também é verdade que Hamdallah não tem entrado nessa rota de mercado.

A tremenda média de golos é um cartão-de-visita de respeito, mas o jogador tem optado por jogar em campeonatos periféricos, fazendo prevalecer o conforto de estar na cultura norte-africana e o rechear da conta bancária em vez da competitividade do futebol europeu.

Hamdallah já se aventurou, no entanto, pela Europa. Depois de aparecer no OC Safi, de Marrocos – com muitos golos, claro –, o jogador foi contratado pelo Aalesund, da Noruega. A aventura começou mal, ou não estivéssemos a falar da adaptação de um rapaz proveniente do sol marroquino ao frio escandinavo.

Ainda assim, Hamdallah contrariou os obstáculos e justificou, largamente, o milhão de euros que o clube investiu para o contratar – este “humilde” milhão foi a transferência mais cara de sempre do emblema norueguês. Foram 20 golos em 30 jogos e o aguçar do “apetite” de Sven-Goran Eriksson, que o levou para a China.

A adaptação foi rápida e o jogador somou quase tantos golos como jogos, no Guangzhou Evergrande. Posteriormente, lesões na perna e conflitos com outro treinador, Cosmin Contra, levaram o jogador a abandonar a China.

Tudo pronto para um regresso à Europa, desta vez para uma aventura mais ambiciosa. Certo? Talvez não...

O jogador optou por regressar à zona de conforto: Qatar, primeiro, e Arábia Saudita, depois, permitiram a Hamdallah tornar ainda mais impressionante a média de golos por jogo e ainda mais incompreensível a ausência deste avançado num campeonato de maior reputação.

Pouco apreciado pelos marroquinos

Um dos lados bizarros da aventura de Hamdallah pelo futebol mundial é o facto de, apesar de ser um goleador de respeito, não ser apreciado pelos adeptos marroquinos. E tem tudo que ver com a parca disponibilidade de Hamdallah para a selecção marroquina, com expoente máximo há poucos meses.

Hervé Renard, seleccionador de Marrocos, convocou o jogador para dois jogos em Março: um particular e um de qualificação para a CAN, com a equipa já apurada para a competição.

Hamdallah invocou “motivos familiares” para recusar a chamada de Renard, algo que espoletou, desde logo, alguma desconfiança por parte da opinião pública marroquina, crentes de que o jogador apenas não queria participar em dois jogos sem qualquer importância competitiva.

A ira com Hamdallah aumentou poucos dias depois, quando o jogador actuou no importante Al Nassr-Al Ahli. Os alegados “motivos familiares” pareceram já estar resolvidos, para o avançado poder actuar no jogo do título, e Hamdallah até marcou um golo na vitória do Al Nassr, por 3-2. Na altura, este jogo, resolvido aos 90'+7’, permitiu a Rui Vitória subir à liderança da Liga saudita.

Apesar do feitio irascível, Hervé Renard “passou um pano” por esta polémica e deu a Hamdallah uma nova oportunidade de fazer, por Marrocos, o que tem feito pelo Al Nassr

O jogador foi convocado para a CAN 2019, algo que desagradou a alguns adeptos, mas que deu a Renard e à selecção marroquina um goleador para se juntar, no ataque, a nomes como Ziyech, Belhanda, Boufal, Idrissi ou En-Nesyri.

Plot twist: apesar de ter sido chamado para a CAN 2019 e de ter sido o avançado mais goleador entre todos os que Renard chamou, Hamdallah não fez um único minuto numa CAN fraca para a selecção de Marrocos. Mais uma bizarria no estranho percurso de Hamdallah.

Restou-lhe voltar ao clube - com renovação de contrato e um salário principesco - e ser, novamente, o “Jonas” de Rui Vitória: nesta segunda-feira, na primeira mão dos oitavos-de-final da Liga dos Campeões asiática, o Al Nassr empatou em casa com o Al Wahda, a um golo. Resultado pouco “simpático” e que poderia ter sido bem pior. Valeu “Jonas” Hamdallah, como sempre.

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