Edgar Martins fotografou o vazio na prisão de Birmingham

O artista plástico e fotógrafo português acaba de lançar o seu novo projecto, What Photography & Incarceration have in Common with an Empty Vase, uma incursão no mundo da prisão e do encarceramento. Por agora, é um livro; em Novembro, será uma exposição na Galeria Filomena Soares, em Lisboa.

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Projecto What Photography & Incarceration have in Common with an Empty Vase Edgar Martins
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DR

O que a fotografia e o encarceramento têm em comum com um vaso vazio (What Photography & Incarceration Have in Common with an Empty Vase, no original) é o enigmático título do novo projecto artístico de Edgar Martins (n. Évora, 1977), o fotógrafo e artista plástico português que esteve radicado em Inglaterra quase duas décadas, depois de ter crescido em Macau. Por agora, dá apenas nome a um livro já disponível para compra online. A partir do próximo mês de Novembro, será uma exposição na Galeria Filomena Soares, em Lisboa, que abrirá uma digressão internacional com escalas já agendadas em Bruxelas e Pequim, regressando em 2020 à capital portuguesa para uma exposição mais alargada no Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado.

Depois de um projecto anterior dedicado ao tema da morte – Silóquios e Solilóquios sobre a Morte, a Vida e outros Interlúdios, que lhe valeu um dos Sony World Photography Awards, na categoria de Natureza Morta, em 2018 –, Edgar Martins concluiu agora um trabalho realizado ao longo de três anos na prisão de Birmingham, numa parceria com esta instituição prisional do centro de Inglaterra e com a editora Grain Projects.

“Quis trabalhar com presidiários porque estava interessado em repensar a imagética associada ao mundo das prisões, mas também porque queria explorar como é que os presidiários e as suas famílias lidam com a ausência de um ente querido”, explicou o artista e fotógrafo ao PÚBLICO, por telefone.

Este projecto, Edgar Martins vê-o em continuidade com o que anteriormente desenvolveu com o Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses de Lisboa e de Coimbra e que resultaria no trabalho Silóquios e Solilóquios sobre a Morte, a Vida e outros Interlúdios , retomando a sua opção por “uma linguagem de contenção e de subtracção, em vez de adição”, nota. Do mesmo modo que, no projecto anterior, não quis “fazer uma abordagem gráfica ou sensacionalista da morte e do corpo morto”, o artista fez questão, também agora, de evitar “imagens cujo único propósito é confirmar a ideologia dominante sobre o crime e o castigo: a violência, a criminalidade, a droga, a raça…”, explica.

Nos últimos três anos, o fotógrafo visitou regularmente a prisão de Birmingham – uma das poucas no país cuja gestão está a cargo de uma empresa privada, mas também “uma das mais problemáticas e tumultuosas”, nota. Durante esse processo, contactou com o quotidiano dos reclusos e dos seus familiares, mas também com o dos diferentes responsáveis pelos serviços prisionais. Mas Edgar Martins quis sobretudo registar o contexto social do encarceramento, e optou por fazê-lo à luz do conceito filosófico de “vaso vazio”, tal como formulado pelo psicanalista francês Jacques Lacan (1901-1981): “A arte é quase como um vaso vazio, no sentido em que cria a ausência”, explica.

Simultaneamente, quis questionar o papel da fotografia documental: “Como se representa um sujeito que está ausente ou oculto?”; “Como é que a fotografia documental, na era das fake news, pode reconhecer a dimensão imaginativa e ficcional da nossa relação com as imagens?”, pergunta-se o autor no texto de apresentação de What Photography & Incarceration Have in Common with an Empty Vase.

“Dando voz aos presidiários e às suas famílias e abordando a prisão como um conjunto de relações sociais, em vez de uma mera entidade física e geográfica, o meu trabalho propõe repensar e combater o tipo de imagem normalmente associada ao encarceramento”, responde Edgar Martins, cujo trabalho vem sendo exposto e publicado regularmente na última década e meia em Portugal e vários outros países. A sua exposição mais recente foi a que apresentou, no ano passado, no Centro Internacional de Artes José de Guimarães (CIAJG), em Guimarães, Destinerrância: o lugar do morto é o lugar da fotografia; presentemente está representado, no Museu Colecção Berardo, em Lisboa, na exposição colectiva Constelações: uma coreografia de gestos mínimos, patente até 30 de Setembro.

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