Entre pombos, anjos e estátuas, o Curtas 2019 premiou as aves raras

No ano em que Gabriel Abrantes leva três prémios com as aventuras da sua estátua do Louvre, Vasco Saltão venceu a competição nacional e um concurso columbófilo espanhol arrecadou o Grande Prémio.

Foto
Los que desean, de Elena López Riera, Grande Prémio do Curtas Vila do Conde 2019 DR

A Vitória de Samotrácia que vai batendo as asas pelos corredores do Louvre à noite era capaz de achar graça ao palmarés do Curtas Vila do Conde 2019. Não só porque o filme onde tem honras de personagem secundária, Les extraordinaires mésaventures de la jeune fille de pierre, de Gabriel Abrantes, foi o título mais premiado do festival, onde arrecadou três galardões (melhor curta de ficção, prémio do público na competição nacional e candidato do Curtas à estatueta de melhor curta-metragem nos Prémios Europeus do Cinema), mas porque é de asas também que falam os vencedores das principais secções competitivas. Ave Rara, de Vasco Saltão, sobre o caçador que uma surpreendente presa parece transformar num pária, ganhou a competição nacional; Los que Desean, em que a espanhola Elena López Riera filma com discrição uma competição columbófila em Espanha (com ecos do Inebriante Canto dos Tentilhões que preenchia grande parte do terceiro capítulo de As Mil e Uma Noites, de Miguel Gomes), foi o melhor filme a concurso na competição internacional.

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A Vitória de Samotrácia que vai batendo as asas pelos corredores do Louvre à noite era capaz de achar graça ao palmarés do Curtas Vila do Conde 2019. Não só porque o filme onde tem honras de personagem secundária, Les extraordinaires mésaventures de la jeune fille de pierre, de Gabriel Abrantes, foi o título mais premiado do festival, onde arrecadou três galardões (melhor curta de ficção, prémio do público na competição nacional e candidato do Curtas à estatueta de melhor curta-metragem nos Prémios Europeus do Cinema), mas porque é de asas também que falam os vencedores das principais secções competitivas. Ave Rara, de Vasco Saltão, sobre o caçador que uma surpreendente presa parece transformar num pária, ganhou a competição nacional; Los que Desean, em que a espanhola Elena López Riera filma com discrição uma competição columbófila em Espanha (com ecos do Inebriante Canto dos Tentilhões que preenchia grande parte do terceiro capítulo de As Mil e Uma Noites, de Miguel Gomes), foi o melhor filme a concurso na competição internacional.

O júri, formado pelos cineastas Aya Koretzky, Konstantina Kotzamani e Kleber Mendonça Filho, pelo programador Alejandro Díaz Castaño e pelo crítico Leo Soesanto, não terá tido tarefa fácil, com a grande quantidade de bons títulos presentes na competição internacional. Mas as suas escolhas acabaram por reflectir o que de melhor se mostrou no festival este ano. A maior surpresa terá sido a presença de títulos da competição nacional na habitual premiação por géneros, fazendo deste um palmarés particularmente português. Se o fascinante documentário da australiana Pia Borg, Demonic, levou o prémio de Melhor Documentário (este ano em homenagem a Manoel de Oliveira), foi a única animação portuguesa a concurso, Purpleboy, de Alexandre Siqueira, a receber o galardão de Melhor Animação. Purpleboy recebeu ainda o prémio de aquisição de uma curta portuguesa pela plataforma espanhola Movistar+. A Melhor Ficção, como já referimos, foi a curta de Gabriel Abrantes sobre uma estátua que ganha vida e consciência política, na Quinzena dos Realizadores de Cannes.

Ainda na produção nacional, foram premiados Mariana Gaivão (melhor realização, pelo intrigante Ruby) e, no concurso de filmes de escola Take One!, Tomás Paula Marques (melhor filme por Em Caso de Fogo, produção da Escola Superior de Teatro e Cinema) e Maria Teixeira (melhor realização por Inside Me, animação produzida na universidade alemã Babelsberg Konrad Wolf). Em qualquer destes casos, saúde-se a aposta do júri naqueles que foram, claramente, os mais interessantes dos filmes nacionais seleccionados para este 27.º Curtas.