Interdição de trânsito na serra de Sintra provocou protestos de “tuk-tuk” e polícia ferida

O condutor do “tuk-tuk” que atingiu a polícia foi detido no local, tendo depois ficado em liberdade, mas com obrigação de apresentação ao Ministério Público no prazo de 48 horas.

Foto
O presidente da câmara de Sintra, Basílio Horta Nuno Ferreira Santos

A interdição do trânsito na serra de Sintra, entre esta sexta-feira e domingo, excepto a transportes públicos e moradores, devido ao “alerta laranja” para risco de incêndio, levou ao protesto de operadores turísticos, provocando ferimentos numa agente da Polícia Municipal.

Segundo uma fonte oficial da Câmara de Sintra, uma agente da Polícia Municipal, de 37 anos, foi esta sexta-feira atropelada por um “tuk-tuk” no bairro da Estefânea, pela hora de almoço, na sequência de uma concentração de operadores de animação turística em protesto contra a interdição de circular nos acessos à serra.

Num despacho de quinta-feira, o presidente da câmara, Basílio Horta (PS), após uma reunião da Protecção Civil municipal, determinou que, desde as a meia-noite de 31 de Maio às 23h59 de 2 de Junho, “é interdito o trânsito nas vias municipais que integram o perímetro da serra de Sintra”.

De fora da proibição ficaram os “veículos de moradores e de empresas” ali sediadas, “transportes públicos de passageiros, veículos de socorro, de emergência e das entidades integrantes do Sistema Municipal de Protecção Civil”.

A agente atingida numa perna por um “tuk-tuk” foi transportada ao Hospital Fernando Fonseca (Amadora-Sintra), onde recebeu assistência por “ferimento ligeiro” e teve alta horas depois.

O condutor do “tuk-tuk”, de 39 anos, foi detido no local pela Polícia Municipal e após elaboração do auto de notícia ficou em liberdade, mas com obrigação de apresentação ao Ministério Público no prazo de 48 horas, referiu a mesma fonte oficial do município.

Basílio Horta explicou à Lusa, na quinta-feira, que a medida, adoptada pela primeira vez nas vias municipais de acesso ao perímetro florestal de Sintra, visa criar as condições para prevenir qualquer risco devido às elevadas temperaturas previstas até ao fim de semana.

“Se houver um problema sério na serra temos de acorrer a um incêndio imediatamente e não podemos fazê-lo se o trânsito se mantiver como está”, frisou o autarca, acrescentando que “só podem aceder os transportes públicos, incluindo os táxis”, com a proibição a abranger veículos turísticos, como jipes.

Para Luís Vieira, 54 anos, a interdição do trânsito na serra “foi uma jogada política” do presidente da câmara e representa “uma discriminação injusta, porque podem subir os autocarros da Scotturb, táxis e TVDE [transporte de passageiros em veículo descaracterizado a partir de plataformas electrónicas], que são todos privados”.

“Nota-se perfeitamente que isto é para acabar com os “tuk-tuk”, mas isto insere-se em algo mais amplo, que é o projecto de alteração do regulamento de trânsito e estacionamento no concelho, que está em discussão pública”, acusou o proprietário de uma empresa de “tuk-tuk”.

Este operador turístico em Sintra e Lisboa considerou que três dias de interdição são “para testar e depois vai ser o verão todo com “alerta laranja"”, penalizando “centenas de pessoas, das quais 99% vivem e trabalham em Sintra”.

“Não podemos trabalhar. Hoje ninguém trabalhou, ninguém fez nada. Não se pode levar as pessoas à Pena, à Regaleira, a Monserrate ou Seteais. O que é que andamos aqui a fazer? Andamos para aí a gastar combustível ou energia”, vincou Luís Vieira.

O empresário adiantou que vários operadores já têm “um escritório de advogados para responder à situação”, mas querem “diálogo e que digam o que pretendem fazer”, para não haver discriminação e não usarem o “estratagema durante o verão todo”, quando há “mais trabalho”.

Os vereadores da coligação “Juntos Pelos Sintrenses”, em comunicado, repudiaram “as reacções e atitudes extremadas provocadas pela iniciativa de interdição das viaturas particulares no acesso ao perímetro da serra”.

“Os motivos de risco de incêndio podem justificar medidas extraordinárias em nome da preservação da integridade da paisagem e segurança das pessoas e bens”, admitiu a coligação liderada por Marco Almeida (PSD/CDS-PP/MPT/PPM), mas criticou que “munícipes, turistas e operadores” se vissem confrontados com a interdição até ao fim de semana, sem quaisquer alternativas.

A decisão decorre de uma declaração, pela Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil, da passagem “ao estado de alerta especial laranja nos distritos de Beja, Castelo Branco, Évora, Faro, Leiria, Lisboa, Portalegre, Santarém e Setúbal”, face às previsões meteorológicas que apontam para “um significativo agravamento do risco de incêndio florestal”.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários