Ghosts of Port Royal: rock para levar nas trombas e aguentar

Esta semana fizeram chegar à plataforma VIDEOCLIPE.PT, responsável pelos destaques no P3 desde 2013, um videoclipe dos Ghosts of Port Royal. Logo, era inevitável lembrarmo-nos do vídeo de 2014 que aqui teve espaço expositivo, na única galeria online em Portugal dos videoclipes nacionais. Era afinal uma banda com um nome curioso e distinto, um som potente e marcante, ao qual a vibração visual desse vídeo reforçava a devida memorização. Porém, destes praticantes de um som abrasivo no qual se forja um pesado blues rock garagista — que se dizem fantasmas da cidade maldita do século XVI onde aportava a pirataria da pior espécie —, já não lhes sentíamos arrepios há uns bons anos. De facto, foi há precisamente cinco anos que editaram o seu primeiro álbum: 1962.

Com este vídeo The Rampart, que é também o baluarte da apresentação do novo álbum Hostis Humani Generis, os músicos interpretam personagens desoladas e martirizadas, mas estoicas quanto a manter o espírito do rock. Como que a dizer-nos: um pirata pode levar nas trombas, mas aguenta-se. E o pior deles todos (pelo menos, o que leva a mais valente “pala” no olho), o vocalista Augusto Lado, é quem dirige esta narrativa sem dramaturgia. Aliás, já era ele o autor do vídeo acima mencionado, uma animação em motion-graphics. Agora, apesar de não ser uma ficção estruturada, importa aplaudir como esta simples solução fictícia (caraterização criativa) permite criar um universo visual para a banda, que serve ao mesmo tempo de metáfora da música e dá ainda espaço à sua performance musical. Ou seja, não é um vídeo em que os músicos estão a tocar o vídeo todo, como infelizmente tanta banda rock continua a insistir, julgando que isso ainda seja a melhor forma de se apresentar e gerar empatia com o espetador nesta era digital.

Texto escrito segundo o novo Acordo Ortográfico, a pedido do autor.