Relatório sobre fogo em Monchique trouxe pouca novidade, diz autarca

Sobre a questão de a linha eléctrica pode estar na origem do fogo, como o relatório sugere, Rui André diz que “o maior número de ignições em Monchique é resultante das linhas de energia”.

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VIRGILIO RODRIGUES

O presidente da Câmara de Monchique considerou nesta sexta-feira que o relatório do Observatório Técnico Independente sobre o incêndio de 2018 no concelho “não traz muita novidade” e é necessário analisar melhor o que se passou “para evitar repetir erros”.

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O presidente da Câmara de Monchique considerou nesta sexta-feira que o relatório do Observatório Técnico Independente sobre o incêndio de 2018 no concelho “não traz muita novidade” e é necessário analisar melhor o que se passou “para evitar repetir erros”.

“Apesar de não ter feito uma leitura integral do documento, pelo que pude ver este relatório não traz muitas novidades àquilo que já tinha percebido no terreno, e como estive bastante próximo das acções, quer de combate, quer de rescaldo, muitas das conclusões a que este relatório chega eu já tinha percebido”, afirmou Rui André à agência Lusa.

Os dados do relatório que apontam para a causa provável do fogo ser uma linha eléctrica, mas ainda não estar definitivamente estabelecida, as demoras na entrega da informação sobre a actuação da GNR por parte da tutela ou a necessidade de auditar as fases de rescaldo e extinção, levam o autarca a pedir que “sejam realmente apurados os erros cometidos, para que se possa corrigir e em situações futuras não voltem a acontecer”.

Sobre a questão de a linha eléctrica pode estar na origem do fogo, como o relatório sugere, Rui André lembrou que é uma matéria “ainda em investigação” e considerou “prematuro tirar conclusões”, mas disse que “o maior número de ignições em Monchique é resultante das linhas de energia”.

“A verdade é que a questão das linhas eléctricas no nosso concelho tem sido uma situação frequente e que temos falado várias vezes nas nossas reuniões da Comissão de Protecção Civil, e alertado as entidades responsáveis por essa infra-estruturas, no sentido de haver um controlo maior do contacto com as árvores, concretamente da baixa tensão”, afirmou.

O autarca disse ainda que, sobre média e alta tensão, “apesar do esforço de fazer as faixas” de contenção, há linhas que “passam em áreas de muitas árvores” e “convinha apurar quem chegou primeiro, se as árvores ou a linha”, para depois “aproveitar essa oportunidade para corrigir alguns erros do passado” e “reformular a paisagem”.

Rui André não percebe também como o Observatório Técnico Independente (OTI), criado pelo Parlamento para acompanhar os incêndios florestais, aponta demoras na recepção da informação à actuação da GNR por parte do Ministério da Administração Interna, porque se trata de “um relatório que pretende ser o mais transparente possível” e “devia abranger todas as realidades”.

Se a actuação da GNR foi importante para salvar vidas, observou o autarca, houve também casos em que as pessoas “foram retiradas das suas casas sem necessidade” e é necessário no futuro pensar na capacitação de cidadão para “prestar ajuda activa aos bombeiros” e “poderem ser uma mais-valia” em caso de incêndio”, com “capacidade de combate e autodefesa”, a par da protecção de casas ou aglomerados.

Auditoria às fases de rescaldo

O autarca qualificou ainda como “fundamental” a proposta do relatório do OTI para que seja feita uma auditoria às fases de rescaldo e extinção, após terem sido detectadas falhas no combate inicial.

“No Algarve, temos estratégia de combate inicial muito interessante, com a triangulação e o ataque musculado, o que neste caso até resultou, porque houve logo uma afectação de meios muito grandes, e o fogo chegou a estar quase dominado, mas quando houve uma alteração do dispositivo a situação complicou-se e saiu de controlo”, recordou.

O autarca também considerou que os rescaldos às vezes são “feitos de forma deficitária” e contou ter visto militares “a bater com pés na linha ardida”, numa situação de “desconsideração para os próprios militares”, que actuam “sem ferramentas, meios de protecção individual e são colocados em situações ridículas e ineficazes”.

O incêndio de Monchique esteve activo entre 3 e 10 de Agosto de 2018 em Monchique e consumiu mais de 27 mil hectares.