Denis Mukwege, o Nobel que trata mulheres violadas na guerra, vai estar no Estoril

Tratar as feridas do corpo e do espírito das mulheres que são alvo de violência sexual em conflitos armados é o trabalho deste ginecologista congolês, um dos convidados das Conferências do Estoril deste ano.

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Denis Mukwege já ganhou vários prémios internacionais Vincent Kessler/REUTERS

O ginecologista congolês Denis Mukwege, Prémio Nobel da Paz em 2018 pelas décadas de trabalho a tratar mulheres vítimas de violação, dando-lhes força para voltarem a gostar de si, vai estar nas Conferências do Estoril deste ano, a 27 de Maio. “Violência Sexual: uma arma de guerra e conflito armado” é o tema a que dedicou a sua vida e sobre o qual vai falar.

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O ginecologista congolês Denis Mukwege, Prémio Nobel da Paz em 2018 pelas décadas de trabalho a tratar mulheres vítimas de violação, dando-lhes força para voltarem a gostar de si, vai estar nas Conferências do Estoril deste ano, a 27 de Maio. “Violência Sexual: uma arma de guerra e conflito armado” é o tema a que dedicou a sua vida e sobre o qual vai falar.

Mukwege fundou e é o director clínico do Hospital de Panzi, em Bukavu, na República Democrática do Congo, um país muitas vezes dilacerado pela guerra. A guerra civil na década de 1990 começou a levar-lhe à mesa de operações vítimas de violação em estado muito grave.

Há uma história que o médico tem contado e repetido sempre que é entrevistado. Certo dia levaram-lhe uma mulher que tinha sido violada várias vezes “por homens vestidos com uniformes”. “Mas ela não tinha sido apenas violada. Eles tinham disparado contra os seus genitais”, contou Mukwege, que ficou horrorizado com o que viu.

Disse ter pensado que era obra de um louco, algo absolutamente anormal: “Não imaginava que iria passar a fazer esse trabalho o resto da minha vida.” Afinal, muitas outras mulheres são e continuam a ser alvo desse tipo de violência.

Por causa do seu trabalho, o Hospital de Panzi tornou-se num dos poucos lugares onde as mulheres congolesas podem sentir-se seguras. Tão importante como o trabalho clínico de Mukwege é a dimensão psicológica. “Posso ser a única pessoa a quem elas contam o que sentem”, dizia o médico numa entrevista à CNN, perto da altura em que foi premiado com o Nobel (que partilhou com Nadia Murad,  uma iraquiana yazidi que foi raptada e escravizada pelo Daesh e que se tornou uma destacada activista contra a violação sexual em contexto de guerra).

Enfrentar a questão do uso da violência sexual como uma arma de guerra continua a ser difícil e tingida de preconceitos religiosos – como ficou demonstrado esta semana com a recusa dos Estados Unidos em aprovarem qualquer referência à “saúde sexual e reprodutiva” numa resolução do Conselho de Segurança sobre o tema. A Administração Trump, onde há várias figuras ligadas à direita religiosa mais conservadora, recusa qualquer alusão que possa fazer pensar, ainda que remotamente, em aborto.

A atribuição do Nobel da Paz a Mukwege e a Murad recordou não só os abusos cometidos contra mulheres nos conflitos africanos e no Médio Oriente, como também inúmeros casos que envolvem missões de capacetes azuis da ONU em várias zonas do planeta, desde a República Centro-Africana ao Haiti. Em 2016, quando foi revelado que membros da missão de pacificação na República Centro-Africana pagavam a crianças por sexo, o então secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, disse tratar-se de “um cancro no sistema”.