Salvador Sobral: “Sinto-me leve e solar e queria mostrar, através da música, que estou bem e feliz”

Os hospitais, a gestão da fama e a Eurovisão já lá vão. Agora Salvador Sobral quer é olhar em frente. Para já existe um novo álbum, Paris, Lisboa.

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Tomás Monteiro

Há muitas formas de qualificar o disco. Uma espécie de renascimento, com o primeiro tema a abordar os dias de hospital quando foi sujeito a um transplante de coração. Uma obra entre amigos e familiares, entre eles a irmã Luísa Sobral, a companheira e esposa Jenna Thiam, o cantor António Zambujo, o pianista Júlio Resende ou o produtor do disco, Joel Silva, baterista do grupo paralelo de ambos, os Alexander Search. Ou um álbum sobre o amor, com a maior parte das canções a aludir a esse tema.

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O novo disco é um registo diverso, cantado em português, inglês, francês e castelhano, cujo pilar é a canção jazz, mas povoada por outras inspirações, ou não estivéssemos perante alguém que gosta de se mover por entre diversos projectos e direcções Tomás Monteiro

Paris, Lisboa, o novo disco assinado por Salvador Sobral, depois de Excuse Me, em 2016, e da vitória, em 2017, no festival Eurovisão da Canção com Amar pelos dois, é tudo isso. É um registo diverso, cantado em português, inglês, francês e castelhano, cujo pilar é a canção jazz, mas povoada por outras inspirações, ou não estivéssemos perante alguém que gosta de se mover por entre diversos projectos e direcções. Um disco que será apresentado ao vivo em Abril com vários concertos na Polónia, Alemanha e Espanha, para chegar a 10 e 11 de Maio aos Coliseus de Lisboa e Porto. É também uma obra inspirada no filme preferido de Salvador Sobral, Paris, Texas, o clássico do alemão Wim Wenders, realizado em 1984, por onde começamos esta conversa.

O que há em Paris, Texas que acaba por seduzi-lo tanto?
A minha relação com o cinema é igual à que tenho com a literatura, ou seja, totalmente descomprometida. Não percebo de teoria ou técnica. Mas sou tocado por diálogos ou imagens belas. No Paris, Texas existem as cores fortes, que é uma marca do Wim Wenders — no Amigo Americano (1977), por exemplo, também existe isso — e que me seduz muito.

As personagens são poéticas e ao mesmo tempo complexas.
O filme é especial. Os diálogos são preciosos. Não só entre eles, mas os diálogos intersubjectivos, a procura interior. E é curioso porque a minha relação com o filme começa, por assim dizer, antes de nascer porque o meu pai viu o filme quando ele estreou. Tinha casado com a minha mãe, estavam naquela fase de iniciar uma família, ele viu o filme e aquilo abalou-o, pensando que agora tinha era de fugir... [risos]. No filme uma das personagens principais desaparece. O meu pai diz que o filme lhe andou a bater mal durante uns dias. Não devia estar a dizer estas coisas. Depois a minha mãe fica chateada.

O título, as imagens e ideia para o álbum surgem a partir do filme?
Queria incluir Paris e Lisboa na ideia do álbum, porque foram as cidades onde concretizei o disco, onde pensei os arranjos e composições. Paris foi também a primeira cidade para onde viajei depois de estar curado. E então juntei-as, Paris e Lisboa. Foi uma homenagem.

Paris é indissociável de uma mulher. A sua companheira. Tem sido reticente em falar dessa relação, o que é compreensível. Mas o álbum está impregnado dela.
Pois é... [risos]. Ela está, inclusive, na capa do disco. É daquelas coisas... Digo que sou contra a exposição e depois vou à Eurovisão. Sou a contradição em pessoa. Digo, não, não vou falar da minha namorada e depois ela está na capa do disco e há uma canção com uma letra dela.

No filme também existe uma história de amor de final aberto. Imaginamos o que terá acontecido, mas não sabemos ao certo.
Duas relações. Com o filho. E com a mulher. Não sabemos o que vai acontecer, mas a minha história de amor, pelo menos até agora, parece mais feliz do que a do filme. Espero que continue assim, leve. Antes dizia: a chave da minha relação com a Jenna é a distância. Ela está sempre a trabalhar como actriz algures e eu também com as minhas coisas. Agora, por exemplo, está em digressão e vai fazer um filme em Itália. Neste momento acho que o segredo da nossa história é o reencontro. Cada vez que ele se dá é lindo. A fuga à rotina é o que faz a relação estar tão bem, mas haverá um dia, se houver família, em que temos de estar mais juntos. Mas por enquanto funciona bem assim e adoro ter saudades dela. Na canção Paris, Tokyo II isso é nomeado. É sobre os reencontros.

E porquê Tóquio?
Na noite em que nos conhecemos, acabámos no bar Tóquio, em Lisboa, que tinha musica funk ao vivo. Nessa noite escrevi uma canção que se chamava Paris, Tóquio, mas era a versão primeira, que lhe enviei por e-mail nesse mesmo dia. E agora escrevi a II. Por outro lado, tanto eu como ela, não utilizamos WhatsApp, Skype, redes, e esse tipo de coisas. Quando falamos passo o tempo a imaginar o sítio onde ela está. Gosto disso.

Como se foi desenrolando a feitura do álbum?
Comecei em Fevereiro do ano passado. Depois do transplante, ainda no hospital, meio a tremer, comecei a escrever já a pensar em ideias. Foi a minha forma de lidar com aquilo: sobrevivi e tinha de pensar num disco. Falei com o Joel Silva, liguei a uma data de compositores, pensou-se nos arranjos e depois escolhemos o reportório de doze canções. Entretanto eu ia muito a Paris ter com a Jenna também. E as gravações foram dois dias em Novembro e dois dias em Dezembro. Foi uma coisa muito orgânica, rápida e entre amigos. Não existe nada melhor do que isso.

A primeira canção do álbum distingue-se sonoramente das restantes e parece ter sido propositado, até pelo espaço que é deixado na ficha técnica do disco. É catártica, mas também projecta esperança.
É uma espécie de canção zero. Daí esse espaço. É como se significasse o espaço zero, antes do renascimento, do regresso ao mundo. Sou eu a tentar arrumar o passado, tudo o que aconteceu, a doença, a operação, toda aquela loucura, a fama, a parte má da dita. Embora saiba que existem coisas que serão difíceis de ultrapassar, como a operação. São vivências marcantes, que estarão sempre presentes. Mas com o disco pensei em arrumar tudo isso a um canto, para me lançar na prenunciação de um bom futuro. Nesse sentido esse tema funciona como catarse sim. Foi a forma que encontrei do resto do disco soar como uma coisa alegre.

Canta em várias línguas, o jazz é o centro, mas existem também alusões à canção francesa ou à valsa. Essa diversidade não é novidade, mas dir-se-ia que desta vez a concentrou num só disco.
É aquilo a que chamo a minha hiperactividade artística. Sou disperso no que toca a estilos. Já vivi atormentado por isso, imaginando que o disco não era nada coerente. Mas depois percebi que a coesão está na banda, que tem um som próprio, e em mim que estou a interpretar as canções. E depois ouve-se um disco como o do António Zambujo, cheio de estilos também, mas que tem a sua coerência também. Sou apaixonado por tantas coisas — por música da América Latina ou pela chanson, que neste último ano e meio me tem perseguido, com o Jacques Brel, o Yves Montand e todos esses gajos. Quero poder mostrar às pessoas aquilo de que mais gosto, sendo que o jazz acaba por ser o pilar, o mais importante, até porque somos todos do jazz, ali, a tocar.

Não receia que possa ser encarado como um álbum de intérprete, mesmo quando se lhe reconhece talento para fazer suas as canções, e menos como um registo de autor e compositor?
O que interessa é se as coisas que faço são feitas com verdade. A música é honesta. Quanto à composição, já o disse por diversas vezes: as minhas capacidades enquanto compositor da música não estão à altura das minhas capacidades enquanto intérprete. Não tenho de compor música só porque sim. Mas é verdade que talvez exista esse preconceito de que todos os cantores deviam compor música. Mas depois pensamos na Billie Holiday ou no Chet Baker e isso não é uma questão. Adoro interpretar coisas de outras pessoas. Tenho cinco letras no disco da minha autoria e estão lá porque senti que eram honestas. Mas não me preocupo muito com isso.

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Conta que ainda existe quem vá à espera, nos concertos, “do cantor melancólico, deprimido, doente” e por isso leve “uma bofetada” quando o vê a improvisar imenso. “Muita gente só conhece a canção do festival e isso é legítimo. O meu trabalho é dar-lhes outras coisas” Tomás Monteiro

Apesar dessa multiplicidade sonora, as canções têm de lhe fazer sentido. O que o levou a escolher estas e não outras?
É verdade. Tinha imensas canções. Não se pode dizer que exista uma linha contínua. Escolhi as que me diziam mais. O Grandes ilusiones é um chá-chá-chá e eu queria imenso ter um bolero assim. Havia muitas baladas para escolher porque quando pedi canções escreveram-me muitas. Acham que sou um baladeiro. E talvez tenham razão. Mas queria ter várias energias no disco. E acima de tudo queria que fosse um álbum meio leve, solto e arejado, com excepção do primeiro tema.

Esse desejo terá algo a ver com a vontade de superação sobre o momento complicado de saúde pelo qual passou?
É possível. Mesmo Amar pelos dois é algo soturno. Queria algo mais leve. Mais solar. Porque é o que sinto agora. Sinto-me leve e solar e queria mostrar, através da música, que estou bem e feliz.

Estas canções já haviam sido tocadas ao vivo. Esse facto também acabou por ter influência na selecção?
Sim, completamente. O meu processo é inverso. Tocar e depois gravar. Não é o típico método de compor, gravar e depois tocar. Agora temos tocado três novas canções que ainda nem gravámos. Há muitos músicos de jazz que operam assim. Quando vão gravar já têm a canção tão interiorizada que depois podem escolher imensos caminhos. Já tocamos Benjamin ou Presságio desde 2016.

Curiosamente, em algumas canções pressente-se essa tentativa de captar em estúdio a energia em bruto do palco.
O single Anda estragar-me os planos tem muito dessa energia: essa coisa da sessão meio improvisada, da felicidade de estarmos a tocar todos juntos. Isso sucede por termos as canções tão interiorizadas. No mano a mano com o Zambujo, gravámos à primeira. Antes tínhamos tentado gravar de outra maneira, mas não deu. Então, fomos todos para dentro de uma sala e gravámos com o Júlio Resende ao piano ao mesmo tempo e ficou à primeira. Promete não prometer foi também muito natural.

Essas duas canções em duo são as que se aproximam mais do registo balada. Os duetos levam-no para essa direcção?
Não foi intencional. Fiz também um dueto com a Márcia que é outra balada. É o que  digo: a malta só me chama para as baladas!.. [risos] Com o Caetano Veloso, na final da Eurovisão, foi também assim. Sou baladeiro. Mas depois, sozinho ou com o grupo, vou sendo outras coisas. De qualquer forma a canção com o Zambujo assenta-lhe mesmo bem. Com aquela cadência alentejana fazia todo o sentido tê-lo a cantar. E com a minha irmã o mesmo. Ela faz parte da minha história e tinha que estar presente, não só a escrever, como a cantar.

Das colaborações aos músicos, passando pelo produtor Joel Silva, fica a ideia que esteve sempre entre amigos.
É isso sim. Não há nada melhor do que poder pagar aos amigos... [risos]. Admiro o seu trabalho e agora que lhes posso pagar fico feliz. O produtor, Joel Silva, é o baterista dos Alexander Search e quando tocávamos sentia que ele tinha um ouvido e uma sensibilidade particulares ao nível das ideias e arranjos. E às tantas dei por mim a pensar que quando fizesse um disco gostava de o convidar para a produção, mesmo nunca tendo produzido nada. Existe uma história curiosa, que nunca contei. Íamos assinando um contrato com uma grande editora, a Decca. Mas era um contrato daqueles em que tinha de vender a alma e este coração. Tivemos quase vai-não-vai porque era uma grande oportunidade...

O que o levou a recusar a oferta então?
Era uma cena assassina. Era para gravar um disco por ano. Uma coisa louca. E depois os direitos, sei lá... E então, estamos em reunião em Londres, e eles perguntaram-me às tantas: “Who is your producer?” Esperavam que eu fosse dizer um americano  conhecido ou assim. E eu respondi que o meu “producer” era o Joel Silva. “Who?!”, exclamaram, e aquilo acabou por cair felizmente. Acabámos por assinar com a Warner Music em Espanha. Gente diferente, músicos, não tocaram numa única nota do disco, respeitaram tudo. Fiquei muito feliz pela escolha do Joel porque é cheio de sensibilidade e percebe-me enquanto artista, inclusive nas minhas incoerências. E é também alguém que conhece na perfeição a minha voz, acabando até por compor duas canções — o Grandes ilusiones e o Paris, Tokyo II.

No seio da indústria existe quem diga que possui um grande talento em bruto, mas que necessitaria de maior direcção artística. E há quem exponha que se esse talento fosse domesticado se perderia algumas qualidades. Os primeiros devem estar e interrogar-se porque recusou a Decca.
A verdade é que as coisas vão acontecendo. A cena da Warner Music espanhola, com distribuição para a Europa, é uma oportunidade incrível. Vamos lançar o disco físico em imensos países e eles estão com óptimas perspectivas. Não quero é sucumbir à coisa de ser refém da indústria, perder a minha liberdade e de cumprir não sei quantas obrigações contratuais. Mas a minha forma de estar, no fio de navalha, também pode ser medo de me comprometer. Interiormente não sei  bem o que é. Só sei que vou fazendo as coisas e elas vão acontecendo. Existe um lado instintivo meu a funcionar. E no fim de contas eu quero é tocar!

Nos últimos tempos tem tocado assiduamente fora de Portugal.
Sim, é verdade. E não o faço mais por enquanto porque não convém exagerar. Mas por agora haverá várias datas e lá mais para o Verão vamos tocar pela Europa, da Alemanha à Escandinávia.

Como é que as pessoas se relacionam com a sua música nesses países?
É muito engraçado porque não entendem as letras, mas percebem quando a música é verdadeira e ficam tocadas. Estive agora em Macau e senti que os chineses sentiram a música. Quando estive na Lituânia coloquei as pessoas a cantar uma frase do Benjamin. Eles não percebiam nada, mas repetiam a frase com deleite. É muito engraçado.

Como caracterizaria o público nesses países?
São pessoas mais velhas do que eu, seja aqui ou lá fora, aliás. Entre os 35 e os 40 ou coisa que o valha. Quando fui cantar com o Tiago Nacarato fiquei a pensar: Porra! Só miúdas muito jovens. Mas, pronto, aceito. Mas há nuances. Em Espanha o público é muito variado.

E ainda estão à espera, exclusivamente, do cantor da Eurovisão?
Aqui já não. Lá fora, depende. Ainda existe quem vá à espera do cantor melancólico, deprimido, doente. Quando me vêm aos gritos, em ambiente de loucura e a improvisar imenso, as pessoas levam uma bofetada saudável. Gera-se um efeito de surpresa. Muita gente só conhece a canção do festival e isso é legítimo. O meu trabalho é dar-lhes outras coisas.

Dizer-se que foi o vencedor da Eurovisão abre portas, mas em alguns contextos também pode encerrar. Como tem sido comunicado?
A minha agência internacional tem feito um excelente trabalho. Em Espanha tocamos nos festivais de jazz mais importantes e na Lituânia ou na Estónia também tocámos em excelentes eventos. Temos ido a sítios que nada têm a ver com a Eurovisão. Há sempre esse cuidado, felizmente. E lá andamos eu, o Júlio Resende no piano, o André Rosinha no contrabaixo e o Bruno Pedroso na bateria. Depois temos técnico de som e um road manager. Somos muito baratos. Não há luzes ou maquilhadores. Nada.

E gosta da dinâmica das viagens, dos hotéis e desse tipo de vida?
Gosto. Lembro-me da minha irmã me dizer — quando eu tocava apenas nos bares — que estava farta de hotéis e desejava era estar em casa com a família. E eu pensava que o ideal era estar feliz por esse mundo fora e nos hotéis e descobrir as cidades. Mas provavelmente quando tiver família vou ter o mesmo discurso. Até agora estou a adorar. Temos sido bem tratados. Comemos bem, tocamos, as pessoas adoram. Depois somos capazes de ir a uma jam-session num bar de jazz se houver ou bebe-se um copo. Gosto de estar com a banda depois do concerto, de falarmos sobre o que aconteceu, dessa troca.

Nunca lhe apetece, depois dos concertos, ir sozinho para o quarto de hotel?
Não. Odeio a solidão! Estive agora um mês na Suécia. Fui para lá viver. Estive lá a aprender sueco por causa dos filmes do Ingmar Bergman. Apaixonei-me pela língua. Há um ano atrás telefonei para toda a gente que trabalha comigo a dizer que iria fazer uma paragem durante um mês para um curso de sueco. E assim fiz. Voltei agora. Fiz lá o 1º nível e agora estou a fazer na Universidade Nova o 2º nível. É muito difícil. Mas sou obcecado por línguas. Na Suécia, depois das aulas, ia a jam-sessions conhecer músicos. A língua é muito melódica. Agora convidaram-me para ir lá tocar à Bergman Week. Ao mesmo tempo acabei por ir a um talk-show na TV e falei um pouco de sueco e foi muito engraçado. No fim de contas estive lá também a tentar perceber o mundo do jazz. Foi bom para respirar porque foi logo depois de ter finalizado o disco.

Falta pouco para mais uma final da Eurovisão. Há dois anos quando discursou na final, naquele contexto, era compreensível que desse a entender que a maior parte daquela música não tinha conteúdo. Mas pode discutir-se se a melhor maneira de o fazer era aludir à ideia de encenação, porque existe quem o faça com propriedade.
Na altura, naquele contexto, quando o disse tinha estado uma semana inteira a levar com aquilo. Os ensaios, os gritos, o fogo-de-artifício. E aquilo saiu-me. Se calhar fui demasiado radical. Todo o tipo de arte é legítima, como é por demais evidente. A única coisa que quis transmitir é que o importante ali não é a canção, a música, apesar de nesse ano, com a minha canção, isso ter vingado. Ali o que conta é o entretenimento. Foi apenas isso que quis transmitir. Agora passam o tempo a perguntar-me o que penso do Conan Osiris. É impactante e está mais do que legitimado. Só não é o meu estilo de música. Nada de mais. É a coisa mais normal do mundo. Eu tenho a certeza que ele não vai comprar o meu álbum também. E daí, quem sabe?

Há um ano dizia que lidar com a notoriedade não era nada fácil. Agora existirão menos holofotes. Está mais pacificado com tudo o que lhe aconteceu?
Sim. Mas às vezes continuo com receio que distorçam alguma coisa do que digo. Há um ou outro momento em que me retraio e digo para mim próprio que mais vale estar calado. Vivo neste conflito entre dizer tudo o que penso e depois chegar a casa e perceber que fui mal interpretado. Ainda agora a propósito do talk show na TV sueca isso aconteceu. Foi uma conversa muito engraçada, falei em sueco e tudo o que se reteve dessa conversa para alguma imprensa foi eu ter dito: “Eurovision was my prostitution”. Como é possível? Disse aquilo a brincar! Até disse aquilo em sueco, reforçando o lado de brincadeira e da ironia de tudo aquilo. Mas isso para algumas pessoas não serve e interpretam tudo o que digo de forma literal. E depois lá vêm os fãs da Eurovisão a chamarem-me pobre e mal-agradecido e coisas do género. É de loucos! Mas cada vez menos sinto esse peso. Durante muito tempo vivi só com a parte danosa da fama. Principalmente na altura da operação foi difícil. Mas agora as coisas acalmaram e recebo coisas boas.