Steven Spielberg quer tirar o Netflix dos Óscares

Realizador de A Lista de Schindler quer que a Academia de Hollywood reveja os regulamentos que este ano permitiram a Roma, de Alfonso Cuarón, disputar os principais prémios da indústria cinematográfica.

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Steven Spielberg Mike Blake/ REUTERS

As produções do Netflix e de outros serviços de streaming devem concorrer aos Emmys, os prémios para programas e profissionais da televisão, e não aos Óscares. Esta é a opinião de Steven Spielberg, e o realizador de A Lista de Schindler, que este ano apoiou Green Book – Um Guia para a Vida​ na corrida às mais prestigiadas estatuetas de Hollywood, quer mesmo impedir que filmes como Roma, de Alfonso Cuarón, possam voltar a medir-se com as produções dos estúdios tradicionais da indústria de Hollywood.

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As produções do Netflix e de outros serviços de streaming devem concorrer aos Emmys, os prémios para programas e profissionais da televisão, e não aos Óscares. Esta é a opinião de Steven Spielberg, e o realizador de A Lista de Schindler, que este ano apoiou Green Book – Um Guia para a Vida​ na corrida às mais prestigiadas estatuetas de Hollywood, quer mesmo impedir que filmes como Roma, de Alfonso Cuarón, possam voltar a medir-se com as produções dos estúdios tradicionais da indústria de Hollywood.

No rescaldo dos últimos Óscares, em que Green Book e Roma disputaram os principais prémios da Academia, a “batalha” de Spielberg contra o Netflix está agora na ordem do dia, e a polémica parece estar ainda a dar os primeiros passos.

No dia 28 de Fevereiro, o site IndieWire dava conta da posição de Spielberg sobre esta questão, explicando que na opinião do oscarizado cineasta as produções feitas para o streaming deveriam estar sujeitas a regras mais restritivas para poderem concorrer em igualdade de circunstâncias com os filmes dos estúdios.

O site norte-americano especializado na indústria cinematográfica citava um porta-voz da Amblin Entertainment, fundada por Spielberg, que dizia que “Steven tem uma opinião muito clara sobre a diferença entre a situação do streaming e a dos cinemas”. E avançava mesmo que o realizador, que integra um dos órgãos mais importantes da governação da Academia, vai propor na próxima reunião anual, em Abril, a mudança dessas regras. “Ele ficarámuito feliz se outros se associarem [à sua campanha] na próxima reunião” do Academy Board of Governors – Spielberg, recorde-se, representa nesse órgão o sector dos realizadores, acompanhado pelas cineastas Kimberly Peirce (Os Rapazes Não Choram) e Susanne Bier (Serena).

O IndieWire acrescenta que a Academia já admitiu este tópico e que “as regras vão estar em discussão junto dos outros sectores” da indústria na reunião de Abril.

O facto de plataformas como o Netflix ou o Amazon não seguirem o percurso normal das produções dos estúdios – como a passagem dos filmes pelas salas de cinema antes de chegarem ao vídeo e/ou à televisão, ou a não divulgação dos números das audiências e das bilheteiras, por exemplo – cria uma situação de desigualdade contra a qual Spielberg já se vem manifestando desde há um ano.

“Os filmes que foram classificados de maneira testemunhal em alguns cinemas durante menos de uma semana não deveriam concorrer ao Óscar”, disse o realizador –​ citado pelo El País –​ em Março do ano passado, quando do lançamento mundial do seu filme Jogador 1. Manifestava-se já aí contra a estratégia dos produtores das plataformas de streaming, que se limitam a cumprir a regra actual da Academia que apenas exige, para aceitar a candidatura às nomeações, que um filme seja exibido, no ano anterior à atribuição dos Óscares, durante pelo menos uma semana em cinemas de Los Angeles e Nova Iorque.

Uma vez que a prioridade do streaming é o formato televisão, “trata-se de um tv movie”, defende Spielberg, justificando assim o seu envio para a cerimónia dos Emmys.

Quem já respondeu entretanto ao realizador de Guerra dos Mundos foi o Netflix, via Twitter, na noite de domingo. “Adoramos o cinema. Outras coisas que adoramos: [permitir] o acesso a pessoas que nem sempre podem pagar [um bilhete de cinema], ou que vivem em cidades sem cinemas; permitir a todos, e em todos os lugares, desfrutar do acesso às estreias ao mesmo tempo; dar aos realizadores mais caminhos para partilharem a sua arte. E estas coisas não são mutuamente exclusivas”.

No ano passado, a disputa entre o circuito convencional produção-distribuição-exibição e a nova lógica do streaming marcou já a agenda dos festivais de Cannes e de Veneza. O festival francês, recorde-se, manteve-se fiel à ideia clássica de cinefilia – e às exigências dos distribuidores e exibidores nacionais, sublinhe-se –, que continua a privilegiar a sala de cinema como palco natural da Sétima Arte. Já o seu congénere italiano decidiu apostar no pragmatismo e aceitar os novos tempos – por via disso, consagrou Roma com o Leão de Ouro, naquela que foi a estreia de um filme Netflix num prémio desta grandeza, e impulsionou-o para a corrida aos Óscares, onde arrecadaria três estatuetas (realizador, filme em língua estrangeira e fotografia), mas não a de melhor filme, que ficou para Green Book.

Já no festival de Berlim, no início deste ano, certamente tanto pela irrelevância da produção Netflix aceite a concurso, Elisa Y Marcela, de Isabel Coixet, como pelo facto de o festival estar a mudar de director, a questão streaming ficou-se pelo protesto pouco visível dos exibidores alemães.

A “batalha” passou agora para o outro lado do Atlântico. E se é verdade que a Amazon já não vai produzir os novos filmes de Woody Allen, o Netflix tem agendado para este ano o lançamento de The Irishman, de Martin Scorsese… um nome que pode muito bem rivalizar com Spielberg no combate que se avizinha.

Aguardam-se as cenas dos próximos episódios.