CGD? "Não consigo responder nem sim nem não"

Esta comissão terá mais condições do que as anteriores para que se perceba como algumas decisões de concessão de crédito foram tomadas. Será mesmo?

“Não podemos afirmar que qualquer evolução negativa dos indicadores operacionais da Caixa Geral de Depósitos se deveu unicamente ao efeito da crise gerada a partir do chamado subprime. Ao não ter sido possível aceder à lista dos maiores devedores à Caixa Geral de Depósitos, e ao não ter sido possível apurar as datas de produção dos créditos que geraram e/ou geram mais imparidade ou perdas, não é possível escrutinar que outros factores impactaram negativamente nos resultados da Caixa nestes ou em anos futuros.” Esta foi umas das principais conclusões (e muro, ao mesmo tempo) a que chegou o inquérito à recapitalização da CGD em 2017.

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“Não podemos afirmar que qualquer evolução negativa dos indicadores operacionais da Caixa Geral de Depósitos se deveu unicamente ao efeito da crise gerada a partir do chamado subprime. Ao não ter sido possível aceder à lista dos maiores devedores à Caixa Geral de Depósitos, e ao não ter sido possível apurar as datas de produção dos créditos que geraram e/ou geram mais imparidade ou perdas, não é possível escrutinar que outros factores impactaram negativamente nos resultados da Caixa nestes ou em anos futuros.” Esta foi umas das principais conclusões (e muro, ao mesmo tempo) a que chegou o inquérito à recapitalização da CGD em 2017.

Todos os partidos (à excepção do PCP) colocaram-se de acordo para avançar com o terceiro inquérito à Caixa Geral de Depósitos e o Presidente da República já garantiu que promulgará a lei que obriga à divulgação da lista de devedores dos bancos que beneficiaram de ajudas públicas. Isto significa que, em Maio, se o prazo for cumprido, o Banco de Portugal fará chegar aos deputados a lista dos devedores bem como todas as ajudas públicas concedidas a bancos nos últimos 12 anos. Será bem a tempo dos 120 dias que a nova comissão parlamentar terá para reunir e produzir resultados.

À partida, esta comissão terá mais condições do que as anteriores para que se perceba como algumas decisões de concessão de crédito foram tomadas. Será mesmo? Esperemos que a próxima comissão parlamentar de inquérito não contagie com o mesmo vírus que as anteriores: uma súbita falta de memória.

Lembra-se do que aconteceu em Janeiro de 2017 quando o ex-presidente da CGD, Carlos Santos Ferreira (mandato de 2005-2007), foi ouvido ao longo de três horas e 44 minutos? Respondeu várias vezes com um desconcertante: “Não consigo responder nem sim nem não, porque me arriscava a mentir”. Ou “tenho a profunda convicção de que todos os financiamentos foram aprovados de acordo com os procedimentos estabelecidos”. Ou “não tenho a memória concreta, mas tenho a convicção de que em nenhum destes financiamentos, as garantias eram inferiores aos créditos”.

Como será o novo round? Será que ficaremos a perceber melhor como foi possível que, em 46 créditos, a CGD tenha perdido 1,2 mil milhões de euros, como revela a auditoria da EY (antiga Ernst & Young) à CGD entre 2000 e 2015? Mas, já agora, sem perder de vista o que aconteceu também com outros bancos que tiveram ajudas do Estado. Entre 2011 e 2015, por exemplo, a CGD, o BCP, o BES/Novo Banco e o BPI contabilizaram imparidades de 25.500 milhões de euros relativas a crédito e a participações financeiras. O valor mais alto de imparidades foi registado pelo BES/Novo Banco (9500 milhões de euros) seguido do BCP (7800 milhões). Neste período, o banco público, aquele que até tem a maior quota de mercado no crédito, ficou em terceiro lugar com 6000 milhões. Será o TPC seguinte, senhores deputados?