A sobrevivência de Jeremy Corbyn

Que país vai sair — se sair — da União Europeia ainda é uma coisa que se está para perceber.

O acordo de Theresa May para o "Brexit" chumbou no parlamento britânico, o seu governo não. May sobrevive, ainda que ligada à máquina do caos em que o "Brexit" transformou o Reino Unido. Corbyn jogou tudo na convocação de eleições antecipadas, mas não as vai ter para já. Está a ser chamado, agora sem apelo nem agravo, a definir uma estratégia para uma pergunta onde joga a sua liderança: se os conservadores se estão a sair mal da trapalhada do "Brexit", como conseguir fazer com que o Labour se saia bem? 

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O acordo de Theresa May para o "Brexit" chumbou no parlamento britânico, o seu governo não. May sobrevive, ainda que ligada à máquina do caos em que o "Brexit" transformou o Reino Unido. Corbyn jogou tudo na convocação de eleições antecipadas, mas não as vai ter para já. Está a ser chamado, agora sem apelo nem agravo, a definir uma estratégia para uma pergunta onde joga a sua liderança: se os conservadores se estão a sair mal da trapalhada do "Brexit", como conseguir fazer com que o Labour se saia bem? 

Corbyn foi contra a permanência do Reino Unido na então Comunidade Económica Europeia no referendo de 1975, convocado dois anos e meio após a adesão, em Janeiro de 1973. Em 2016, esteve bastante silencioso na campanha pelo "remain". Agora, está confrontado em escolher entre duas correntes opostas que coexistem dentro do Partido Trabalhista - manter o Brexit, tendo por base a legitimidade popular do primeiro referendo e a certeza que as políticas de esquerda são difíceis de impor na União Europeia; aderir ao movimento pelo segundo referendo e lutar pela permanência na União, na base do Remain and Reform, uma posição que será maioritária nas bases do Partido Trabalhista e também já agora do eleitorado britânico.

Ontem, num artigo na New Statesman, o jornalista Paul Mason, autor do Pós-Capitalismo, que abandonou a ITV para se juntar ao "The Movement" que apoia Corbyn, escrevia que a única saída vitoriosa para Corbyn da salganhada do "Brexit" (e que teria apoio popular) ​era anunciar ao eleitorado: "Fizemos o nosso melhor, mas agora é tempo de acabar com o pesadelo do "Brexit" com um decisivo voto popular para ficar na Europa e reconstruir o Reino Unido". Para Mason, é isto que o Partido Trabalhista tem que fazer: "Ter a coragem de voltar à posição de 'remain' e 'reform'". 

Mas irá Corbyn por aí? Ontem, o líder do Labour recebeu vários apelos para apoiar um segundo referendo, já depois da moção de censura na qual assentou a sua estratégia de combate ter sido chumbada. Ao princípio da noite, dezenas de deputados trabalhistas juntaram-se aos Liberais de Vince Cable e ao Partido Nacional Escocês em defesa do "People's vote". O problema é que se o "Brexit" faz sangrar o Partido Conservador, o Labour não é menos atingido por violentas divisões internas, mesmo dentro do governo sombra. Que país vai sair - se sair - da União Europeia ainda é uma coisa que se está para perceber.