Não há no mundo inteiro melhor caderno do que os da Smythson: eu sei porque experimentei-os todos

Os Moleskines foram uma moda - um falso renascimento dos verdadeiros Moleskines do princípio do século XX. Os cadernos Smythson não são uma moda. São clássicos. E são imbatíveis.

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Sou um maluco por papel, cadernos, agendas e tudo aquilo em que se possa escrever. Os meus avós também eram, os meus pais também. Não se pense que tem alguma coisa a ver com escrever. Não tem. Tenho resmas de papel em que nunca escrevi - a marca Conqueror é boa mas a Tomoe River, japonesa, é mais fascinante - e dezenas de cadernos por estrear mas não me choca nada armazená-las sem prever qualquer utilização.

Açambarcá-las (antes que deixem de existir) parece-me sensato.

É preciso dizer que escrevo com canetas de tinta permanente, embora também goste muito de todas as outras canetas de todas as espécies. É sempre um prazer pegar num pauzinho e ver que ele deixa uma impressão, deixando-se manipular para formar letras.

Se tivesse de escolher só uma marca no grande mundo dos cadernos seria a Smythson. Existem desde 1887 mas foi em 1916 que Frank Smythson inventou o papel Featherweight e uma encadernação em cabedal que é mole, manuseável e infinitamente resistente.

Os cadernos são muito caros mas valem a pena pelo prazer que dão e pela resistência aos maus tratos. Estão em saldos durante o mês de Janeiro com descontos de 60%. Uma das dicas que recomendo é comprar cadernos com títulos estúpidos ou cores horríveis: por dentro são todos iguais e igualmente excelentes.

Os cadernos em saldos são aqueles que não pegaram. Mas a qualidade é sempre a mesma. Todos os anos estragam milhares de cadernos com títulos estúpidos que em Janeiro do ano seguinte vendem mais barato.

Este ano o erro do ano anterior foram os cadernos Soho e Portobello em papel liso (sem ser pautado). Consegue-se comprar um Soho de capa verde por 70 euros em vez dos 175 euros que costuma custar. Uma agenda para 2019, a preço inteiro, custa 60 euros.

Tenho muitos cadernos chamados "Gardening Notes" e "Travel Notes".

Ficam como títulos surrealistas, inteiramente apropriados aos meus apontamentos. O que interessa é o caderno em si e o papel. O caderno pode andar num bolso ou na mão, inteiramente portátil, indestrutível e bonito. A encadernação, como todas as boas encadernações em couro, melhora com cada ano que passa, tornando-se mais bonita e mais floppy.

O papel Featherweight só pesa 50 gramas e é deliciosamente macio. Pode-se escrever com pesada tinta permanente dos dois lados sem que passe para o outro lado. A legibilidade é total.

O papel é levemente pautado, de um azul claro irresistível com marca de água. Absorve a tinta sem borrar. Cada caderno deveria vir com um rectângulo de mata-borrão mas não vem, ficando da responsabilidade do comprador.

A Smythson peca por ter todas as iterações possíveis do caderninho original e eu, como doentinho fiel, tenho caído em todas as esparrelas, desde os microcadernos aos grandes volumes A4 intitulados "Manuscript". Passados estes anos todos, o caderno que tenho usado todos os dias é do tamanho de bolso - é, de longe, o mais prático e é o que sai mais barato.

Como parece uma agenda, as pessoas pensam, quando estou a escrever, que eu estou a apontar uma reunião ou um encontro. Isto ajuda muito. Os cadernos maiores chamam muito a atenção e são, por isso, contraproducentes.

A Smythson - seja na loja em Bond Street seja no site - vende muitas coisas caríssimas mas é no papel que é inexcedível. Não é só nos cadernos. Os cartões para correspondência, por exemplo, são maravilhosos. São muito pesados e a superfície é macia, ideal para o aparo de uma caneta de tinta permanente.

Quase todas as marcas tentam imitar a Smythson - algumas até pedem um preço mais elevado, para enganar os tontos - mas nenhuma delas chega perto. Quando veio a moda dos Moleskines também fui na onda - mas arrependi-me. Os Moleskines são duros, rascas e mal feitos.

Deterioram-se rapidamente, esvanecendo-se o que está lá escrito. Os Moleskines foram uma moda - um falso renascimento dos verdadeiros Moleskines do princípio do século XX. Os cadernos Smythson não são uma moda. São clássicos. E são imbatíveis.

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