Governo israelita considera boicote à Airbnb após exclusão de anúncios nos colonatos

Plataforma de arrendamento de casas e quartos anuncia que vai retirar cerca de 200 anúncios nos colonatos em território ocupado.

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O Governo israelita está a estudar como pode responder à decisão da plataforma de arrendamento de quartos e casas Airbnb depois de esta anunciar que vai retirar anúncios de habitações em colonatos judaicos em território palestiniano ocupado.

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O Governo israelita está a estudar como pode responder à decisão da plataforma de arrendamento de quartos e casas Airbnb depois de esta anunciar que vai retirar anúncios de habitações em colonatos judaicos em território palestiniano ocupado.

Até agora, quem procurasse um quarto ou casa na plataforma Airbnb em Israel podia encontrar várias hipóteses em “comunidades tranquilas” no “coração da Samaria”. Alguns anúncios diziam explicitamente que estes se localizavam em colonatos judaicos, outros não.

No início desta semana, o Airbnb anunciou que vai retirar os anúncios existentes e deixar de aceitar novos, reconhecendo que o problema dos colonatos na Cisjordânia ocupada “está no centro da disputa entre israelitas e palestinianos”. A lei internacional proíbe colonatos em território ocupado.

“Não somos peritos no que toca a conflitos históricos”, dizia o comunicado da empresa. Mas “como plataforma global a operar em 191 países e regiões e mais de 81 mil cidades, temos de considerar o impacto que temos e agir de modo responsável”. A decisão afectará cerca de 200 anúncios que estão actualmente a ser removidos.

A Human Rights Watch congratulou-se com a decisão – há muito que vinha a apelar à Airbnb que alterasse esta política e a decisão da Airbnb foi tomada na véspera da divulgação do relatório Bed and Breakfast em terra ocupada, sobre a acção das plataformas Airbnb e Booking.

A HRW sublinha que estes são locais em território palestiniano mas em que os palestinianos são proibidos de entrar, o que faz com que quem arrenda tivesse de discriminar os utilizadores. “Israelitas e estrangeiros podem arrendar propriedades nos colonatos, mas quem tenha um bilhete de identidade palestiniano é barrado”, aponta a HRW.

Os palestinianos argumentam que ao contribuir para a economia dos colonatos, empresas como o Airbnb estão a ajudar a que estes se mantenham. 

Em Israel, a decisão foi recebida com desagrado, críticas, e mesmo apelos a boicotes ao Airbnb. O ministro do Turismo, Yariv Levin, disse estar a analisar a possibilidade de agir contra a empresa em Israel.

Já o ministro da Segurança Pública e Informação, Gilad Erdan, classificou a decisão como “anti-semita” e sugeriu que os lesados por esta decisão considerassem iniciar acções legais contra a empresa por esta se envolver no que classificou como um boicote a Israel. Seria no âmbito da lei israelita para lutar contra este boicote que poderiam ser levadas a cabo as acções contra a plataforma.

No entanto, o movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), que Israel vê como uma especial ameaça, defende um boicote total ao país, e não apenas aos colonatos como esta acção do Airbnb. 

Já foram feitas tentativas para que quem quisesse boicotar bens de colonatos judaicos mas não de Israel o pudesse fazer - há três anos, a União Europeia fez uma proposta para uma rotulagem diferente dos produtos vindos dos territórios ocupados, mas não conseguiu.

Existem actualmente cerca de 140 colonatos judaicos na Cisjordânia ocupada, incluindo Jerusalém Oriental, com cerca de 600 mil habitantes. Foram construídos depois da guerra de 1967 em que Israel ocupou a Cisjordânia e Jerusalém Oriental, em terras que os palestinianos reivindicam para um futuro estado.

Alguns destes colonatos, como Ariel ou Ma’aleh Adumin, são autênticas cidades. Em Ariel, por exemplo, há uma universidade. Sucessivos governos israelitas encorajaram a construção dos colonatos onde vivem tanto pessoas convictas de que toda a Cisjordânia (a que chamam Judeia e Samaria) devia pertencer a Israel como pessoas atraídas pelos baixos preços das casas.

A decisão do Airbnb não incluiu, no entanto, casas judaicas em Jerusalém Oriental, que Israel recusa classificar como colonatos apesar de estarem do outro lado da “Linha Verde” de 1949, a linha do armistício após a Guerra da Independência de Israel e que é a base internacional da demarcação do território.