O Movimento e a sua lição

Bolsonaro, Salvini, Bannon: todos estão associados à criação do “The Movement”, uma conjugação internacional de “soberanistas”, que procura agregar vontades e representação, pensando desde logo nas próximas eleições europeias, e que quererá (re)apresentar-se publicamente no início do próximo ano.

O que têm em comum o candidato brasileiro Jair Bolsonaro, o norte-americano ex-conselheiro trumpista Steve Bannon ou Matteo Salvini, vice-primeiro ministro italiano?

Todos estes nomes têm sido associados à criação do “The Movement”, uma conjugação internacional de “soberanistas”, que procura agregar vontades e representação, pensando desde logo nas próximas eleições europeias, e que quererá (re)apresentar-se publicamente no início do próximo ano.

Bannon, o estratega de extrema-direita que queria ser o presidente material dos EUA atrás da máscara Donald Trump — e falhou nesse intuito —, voltou-se para a Europa, que os americanos sempre viram como um laboratório interessante, mas impossível de compreender. Pensou assim em algo novo e feito à americana, uma “internacional populista”, nascida das franjas dos descontentamentos com a Europa, algo a meio caminho entre partido político, grupo de lobby e clube de auto-ajuda para nacionalistas no caminho do poder.

No entanto, na verdade, Bannon, Bolsonaro e Salvini não partilham grande coisa em comum. Depois de afastarmos meia dúzia de palavras vazias, mas que pretendem ocupar muito espaço, fica bem à vista que, ultrapassado o oportunismo e a exploração demagógica dos maus sentimentos e dos medos colectivos mais ou menos mitificados, pouco resta. Um clube de não-alinhados que servirá principalmente, se chegar a existir, para alimentar notícias nos jornais e normalizar conceitos e um discurso que é, no mínimo, anti-europeu e segregacionista.

Em todo o caso, é ironicamente significativo que a necessidade de união se sinta mais entre nacionalistas e populistas de extrema-direita do que entre democratas pró-União Europeia. A falta de pudor que os primeiros demonstram é inversamente proporcional à dos segundos, amedrontados pelas consequências eleitorais e outras da defesa de uma integração política europeia ainda marcada pelas consequências da crise económica e financeira e pressionados pela extrema-esquerda que vive do discurso de crítica e da irresponsabilidade perante as alternativas que propõe.

Faria falta um “Movimento” pró-União Europeia? O que seguramente faria falta era uma defesa pela positiva da integração europeia, transnacional, assumida colectivamente por políticos e não só. Quando a Europa se tornar na palavra que não pode ser dita, já será tarde demais.

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