Por que é que o Museu Nacional do Rio é parecido com o Palácio da Ajuda?

Historiador José de Monterroso Teixeira defende que os palácios carioca e lisboeta foram feitos pelo mesmo arquitecto.

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Por momentos, nesta segunda-feira de manhã, para quem olhasse distraído para os sites de notícias, parecia que a tragédia do incêndio que destruiu o Museu Nacional do Rio de Janeiro se passava em Lisboa. Havia uma estranha familiaridade nas imagens e não era só porque se tratava do Brasil. É que o Palácio de São Cristóvão, onde se instalou o museu destruído pelo fogo na madrugada de domingo para segunda, faz lembrar o Palácio Nacional da Ajuda. E por que razão há esta semelhança tão grande?

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Por momentos, nesta segunda-feira de manhã, para quem olhasse distraído para os sites de notícias, parecia que a tragédia do incêndio que destruiu o Museu Nacional do Rio de Janeiro se passava em Lisboa. Havia uma estranha familiaridade nas imagens e não era só porque se tratava do Brasil. É que o Palácio de São Cristóvão, onde se instalou o museu destruído pelo fogo na madrugada de domingo para segunda, faz lembrar o Palácio Nacional da Ajuda. E por que razão há esta semelhança tão grande?

“Porque com muita probabilidade o desenho inicial do Palácio de São Cristóvão é de José da Costa e Silva, que é o arquitecto principal do Palácio da Ajuda”, explica-nos o historiador de arte José de Monterroso Teixeira, especialista em arquitectura neoclássica, que defende exactamente esta perspectiva na sua tese de doutoramento dedicada ao arquitecto português que nasceu em Vila Franca de Xira e morreu no Rio de Janeiro em 1819. “Defendo essa autoria, para a qual não há documentos, porque estilisticamente a afinidade é bastante significativa. Há a circunstância de ele ter ido para o Rio de Janeiro em 1812 juntar-se à corte portuguesa que já tinha chegado em 1808 depois de ter trabalhado no Palácio da Ajuda e de ter feito o Teatro Nacional de São Carlos e o Erário Régio, este último já desaparecido. Era um arquitecto importantíssimo. Vai fazer projectos que permitem dotar a nova capital dos trópicos de equipamentos públicos. Na minha tese, eu admito que ele tenha sido o autor do risco do Palácio de São Cristóvão.”

D. João VI, que chega ao Brasil como príncipe regente fugido das invasões francesas em Portugal, deixa a sua mãe, a rainha D. Maria I, a viver num convento anexo ao Palácio dos Vice-reis, mudando-se para a Quinta da Boa Vista, propriedade que o comerciante Elias António Lopes disponibilizou. Até 1822, depois de uma grande remodelação, D. João VI habita sempre o Palácio de São Cristóvão, explica José de Monterroso Teixeira. “É a morfologia do modelo que José da Costa e Silva já tinha testado em Lisboa. Dois torreões avançados e um corpo central com uma entrada nobre classicizante.”

O edifício teve depois diversos usos, entre os quais de paço imperial brasileiro, tendo o actual museu aí sido instalado em 1892.