Raios nos partam

Teremos nós tal abundância de peixes do mar que nos podemos dar ao luxo de deitar fora peixinhos tão saborosos como os peixes-agulha?

Hoje almocei uns peixinhos que se deitam fora e cujo nome popular é uma obscenidade que serve para exprimir a revolta de quem involuntariamente o pesca ou compra, escondidos entre as sardinhas.

Chamam-se peixes-agulha e não têm valor comercial. Não se vendem. Não se podem comprar. É incrível. Valha-nos o sempre excelente Luís Pontes, cujo blogue Outras Comidas é tão bem escrito, divertido, sábio e informativo, cheio de fotografias explicativas e apetitosas, que deveria ser publicado em livro para pôr ao lado dos clássicos da cozinha.

Luís Pontes também é autor de receitas sublimes para boquerones de biqueirão e em 2013 mostrou-nos como fazer o mesmo com os peixes-agulha. O sabor delicioso do peixe-agulha é, de facto, muito parecido com o do biqueirão. O bico é ideal para segurar o peixe para trincar. O único problema é ter as vísceras amargas, pelo que se devem deixar o cachaço (e já agora a cabeça) do bicho. Ou então pode ser mal só daqueles que comi que, de resto, estavam uma maravilha.

Teremos nós tal abundância de peixes do mar que nos podemos dar ao luxo de deitar fora peixinhos tão saborosos como os peixes-agulha? Tendo a sorte de pescá-los sem querer, porque havemos de praguejar com palavrões o "azar" de vê-los nas redes?

Já alguém deu oportunidade aos consumidores de provar o peixe-agulha e sei lá quantos outros peixinhos que não temos maneira de conhecer? É tratando assim o peixe que mostramos merecer a nossa costa? É assim que enfrentamos a pesca excessiva?

Metemos nojo.

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