Merkel e o seu ministro do Interior esticam a corda, mas a coligação pode resistir

O futuro imediato do Governo alemão ainda está em aberto, mas vários responsáveis da CSU vieram demarcar-se da posição do seu líder, Horst Seehofer. "Estamos prontos para fazer compromissos", disse o primeiro-ministro da Baviera.

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O Governo alemão parece estar, pelo menos por agora, a salvo de uma sentença de morte que deixaria o país mais influente da União Europeia (UE) numa grave crise política, numa altura em que vários países europeus estão cada vez mais de costas voltadas por causa das políticas de imigração.

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O Governo alemão parece estar, pelo menos por agora, a salvo de uma sentença de morte que deixaria o país mais influente da União Europeia (UE) numa grave crise política, numa altura em que vários países europeus estão cada vez mais de costas voltadas por causa das políticas de imigração.

Esta segunda-feira, à medida que decorre uma maratona de reuniões entre os três partidos do governo liderado por Angela Merkel, vários responsáveis da formação que está no centro da divisão, a CSU, foram passando a ideia de que essas divergências não chegam para derrubar a coligação.

"Estamos prontos para fazer compromissos. Para nós, não está em causa uma saída do governo", disse Markus Söder, primeiro-ministro da Baviera pela CSU – o partido de centro-direita que opera apenas nesse estado federal do Sul da Alemanha mas que está coligado com a CDU, de Angela Merkel, desde 1949.

O seu colega de partido e líder do grupo parlamentar da CSU, Alexander Dobrindt, foi um pouco mais vago, mas apontou para o mesmo desfecho, ao elogiar as sete décadas de coligação entre a CSU e a CDU e a afirmar que "um destino em comum só prova o seu valor quando é posto em causa".

E em causa estão as diferenças de opinião sobre políticas de imigração entre a chanceler alemã e o seu ministro do Interior, Horst Seehofer, que é também o líder da CSU.

Enquanto Merkel defende que a entrada de migrantes e refugiados na Europa deve ser coordenada entre todos os membros da UE, Seehofer tem vindo a pressionar a chanceler para que ela assegure uma de duas coisas: ou promove esse acordo comum em Bruxelas, ou permite que ele, como ministro do Interior, dê ordens para que os refugiados cujos processos foram tratados noutros países europeus sejam proibidos de entrar na Alemanha.

Apesar de concordar com o princípio de que um refugiado deve permanecer no país onde pediu asilo (e é isso que diz a lei internacional), a chanceler alemã rejeita a proposta do seu ministro do Interior porque antecipa consequências negativas para a UE se a Alemanha fechar as suas fronteiras de forma unilateral. Outros países seguiriam esse exemplo e a política de livre circulação seria posta em causa.

Na semana passada, entre quinta e sexta-feira, os países da UE reuniram-se para tentarem encontrar uma solução comum, mas o resultado final não fez nada para aproximar as posições de Merkel e de Seehofer. A chanceler fez ainda acordos bilaterais para a devolução de refugiados registados pela primeira vez noutros países - inclusivamente com Portugal. Mas são acordos de adesão voluntária, de carácter insuficiente para quem se mantém firme contra a possibilidade de novas vagas de migrantes.

De volta à Alemanha, no fim-de-semana, tanto a CDU de Angela Merkel como a CSU de Horst Seehofer reuniram-se para discutirem os resultados da cimeira europeia. E no domingo à noite, o ministro do Interior alemão decidiu apresentar a sua demissão por considerar que estes acordos europeus não respondem às suas exigências.

Mas outros responsáveis no seu partido têm uma opinião diferente. Para estes, os resultados da cimeira europeia são suficientes para fazerem Seehofer recuar. Por isso, convenceram-no a suspender a sua demissão e a voltar a reunir-se com Merkel esta segunda-feira

Coligação em jogo

Para além de reuniões na CDU e na CSU, também o SPD se reuniu para debater a guerra entre Merkel e Seehofer. O partido do centro-esquerda, que também faz parte da coligação de governo, considera que "o ego da CSU embarcou numa perigosa viagem". Defende que o ministro do Interior deve retirar a sua exigência para que a Alemanha trave a entrada de refugiados de forma unilateral.

Se se confirmar o cenário que vários jornais alemães foram avançando ao longo do dia – o de que Seehofer acabará por sair, sem que isso leve ao fim da coligação –, a CSU deverá indicar um novo ministro do Interior.

Esta medida também poderá não afastar de forma definitiva as tensões entre os dois partidos, já que as sondagens indicam que a CSU pode não renovar a sua maioria absoluta na Baviera nas eleições de Outubro, levando os democratas-cristãos a endurecerem as suas exigências de controlo da imigração face ao crescimento da AfD, de extrema-direita.