Ministro do Interior apresenta demissão em conflito com Merkel

Em causa está o diferendo entre Horst Seehofer e a chanceler alemã em torno da política germânica de imigração e de acolhimento de refugiados.

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Reuters/MICHAELA REHLE

O ministro alemão do Interior, Horst Seehofer, anunciou este domingo que irá abandonar o Governo e a liderança da União Social Cristã (CSU), o partido bávaro aliado da CDU de Angela Merkel. 

Se o fizer, este pode ser o modo de pôr uma pedra sobre a discussão interna sobre imigração e asilo que tem dominado as últimas semanas.

O jornal Die Zeit sublinhava que não era clara a resposta da liderança da CSU ao pedido de demissão. Segundo o Le Monde, Merkel e Seehofer têm encontro marcado para esta segunda-feira, em Berlim, às 17h (menos uma em Portugal).

Os responsáveis do partido conservador, que só existe na Baviera, reuniram-se durante sete horas para discutir os resultados da cimeira europeia de quinta e sexta-feira, em que foram discutidas políticas de asilo e imigração.

A questão era se os resultados da cimeira, com várias medidas para evitar um aumento do número de chegadas irregulares à Europa, seriam suficientes do ponto de vista do partido. 

Merkel conseguiu uma série de acordos bilaterais, com 16 países (incluindo Portugal), em que estes se comprometem a receber os refugiados que lá pediram asilo, mas que entretanto seguiram para a Alemanha.

Seehofer queria decidir que as forças de segurança alemã pudessem impedir a entrada ou expulsar imediatamente requerentes de asilo que se tivessem registado primeiro noutros países europeus (o país de registo deverá ser, segundo o regulamento de Dublin, o de acolhimento).

Seehofer é ministro há pouco mais de 100 dias e ocupa a liderança da CSU desde 2008, tendo perdido no final do ano passado para o seu rival Markus Söder o cargo de governador da Baviera.

O estado federado terá eleições em Outubro, e muitos viram o endurecimento da posição em relação à imigração e asilo de Seehofer como uma tentativa de ficar em melhor posição, mas segundo as sondagens, isso não parece estar a acontecer e a CSU desceu nas últimas sondagens.

Ao ameaçar implementar a medida sozinho contra a opinião da chanceler, Seehofer pôs-se numa posição em que só tinha três possibilidades: voltar atrás e declarar suficientes os compromissos que Merkel obteve na cimeira, demitir-se e evitar uma crise no Governo, ou levar as medidas avante e ser demitido por Merkel.

Tudo dependeria também do apoio dentro do seu partido - uma saída do partido da coligação no governo e um rompimento com a CDU teriam consequências imprevisíveis -, e relatos da interminável reunião davam conta de muitas discordâncias, a última das quais seria em relação a aceitar o seu pedido de demissão, ameaçando arrastar a instabilidade.

Esta não é a primeira vez que Seehofer tem um forte desentendimento com Merkel. Em 2004, demitiu-se de vice-presidente do grupo parlamentar da CDU/CSU depois de Merkel, então chefe do partido e da oposição ao Governo de Gerhard Schröder, ter aceitado um compromisso de política de saúde a que o bávaro se opunha. Um ano depois, Merkel ganhava as eleições.

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