Seiva Trupe anuncia cancelamento de peça por falta de apoio

Exclusão da companhia portuense da lista de candidaturas elegíveis pelo júri da DGArtes vai impedir a encenação de O Crime da Aldeia Velha, de Bernardo Santareno, que deveria estrear em Julho em Matosinhos.

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Júlio Cardoso e António Reis na produção Espectros de Henrik Ibsen, em 2016 Fernando Veludo/ NFACTOS

A companhia Seiva Trupe anunciou esta terça-feira o cancelamento da peça O Crime da Aldeia Velha prevista para estrear em Julho em Matosinhos, justificando a decisão com a exclusão do programa de apoio sustentado da Direcção-Geral das Artes.

Em comunicado, a companhia teatral diz-se "forçada" a cancelar a peça de Bernardo Santareno, a qual contava com "um elenco de mais de 20 elementos de primeiríssima água do panorama teatral".

"Ao fim de 45 anos de trabalho diário, constante, com provas mais que dadas no panorama cultural deste país, somos agora obrigados a tal absurdidade", refere a Seiva Trupe.

Contactada pela Lusa, fonte ligada a esta companhia acrescentou que a peça em causa deveria estrear-se em 18 de Julho no Cine-teatro Constantino Nery, em Matosinhos, sendo uma co-produção com a câmara deste concelho do distrito do Porto.

De acordo com a programação daquele espaço, a peça, com encenação de Júlio Cardoso, iria ficar em cena até 29 de Julho.

A mesma fonte apontou que os ensaios foram cancelados e a peça não se realiza "apesar de os cenários já estarem desenhados e de os actores estarem contratados".

Já no comunicado, a Seiva Trupe refere que por esta companhia "passaram grandes espectáculos, com autores reconhecidos da dramaturgia universal, com elencos de elevado mérito, bem como jovens actores".

"Conscientes de um programa quadrienal por nós apresentado de uma forma honesta e bem definida, em que constam autores como Ibsen, James Joyce, Bernard Shaw, Shakespeare, Thomas Bernhard e, de autores nacionais, Bernardo Santareno e António Pedro, entre outros, diz-nos o júri que é uma candidatura vaga e pouco explícita no que concerne à descrição das actividades", critica a companhia.

Na semana passada foi anunciado que 68 entidades das 71 candidaturas elegíveis para apoios ao teatro iriam ser apoiadas no âmbito do programa de apoio sustentado às artes 2018-2021. Ficaram de fora do financiamento as associações Primeiros Sintomas e Liberdade Provisória e o teatro A Bruxa. Entre as companhias e festivais considerados inelegíveis encontram-se, da cidade do Porto, além da Seiva Trupe, o também histórico Teatro Experimental do Porto (TEP) e o Festival Internacional de Marionetas do Porto (FIMP).

Na sequência desta decisão, o director artístico do TEP, Gonçalo Amorim, anunciou o pedido de audiências ao Ministério da Cultura e à Câmara do Porto, admitindo recorrer a "todos os mecanismos jurídicos" contra os cortes de financiamento da DGArtes. Também o director do FIMP, Igor Gandra, disse que estavam a ser "estudadas todas as possibilidades" para enfrentar a perda de financiamento da DGArtes, lamentando que o júri defenda, assim, que o festival acabe.

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