Se escrito por uma mulher, o preço do livro desce para metade

Há autoras que optam por assinar as obras com pseudónimos, nomes andróginos ou apenas iniciais para contornar discriminação de género

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O estudo analisou os livros publicados na América de 2002 a 2012 Pexels

Um estudo que analisou mais de dois milhões de obras literárias concluiu que os livros escritos por mulheres são vendidos a quase metade do preço daqueles que são escritos por homens. A investigação, conduzida pela socióloga Dana Beth Weinberg e pelo matemático Adam Kapelner, analisou o autor, preço, género literário e tipo de edição dos livros publicados na América do Norte (EUA e Canadá) entre 2002 e 2012.

Os investigadores do Queens College, em Nova Iorque, no estudo publicado na revista científica online PLOS One, sustentam que os livros cujos autores são mulheres são desvalorizados a vários níveis: em média custam menos 45 por cento do que os títulos assinados por homens e estão pouco representados em géneros habitualmente mais prestigiados (e caros), como é o caso da ciência. O estudo refere ainda que, se tivermos em linha em conta apenas os autores dentro do mesmo género literário, as mulheres recebem menos nove por cento do que os homens.

Por sua vez, nas editoras independentes — onde os autores não retiram lucro praticamente nenhum e conseguem definir o preço dos seus próprios livros — as mulheres ganham menos sete por cento do que os autores masculinos. Apesar de mais igualitárias, as pequenas editoras reproduzem o comportamento observado nas grandes editoras, isto é, uma distribuição desigual de autores masculinos e femininos por género literário, uma desvalorização de géneros escritos predominantemente por mulheres e preços mais baixos de livros direccionados ao público feminino. Dentro do mesmo género literário, a diferença é de quatro por cento entre homens e mulheres, em comparação com os nove por cento das publicações tradicionais.

Para os autores, estes resultados reflectem a desigualdade salarial no mercado de trabalho, independentemente da profissão e abrem o debate para o facto de que são cada vez mais os autoras que optam por assinar os livros com pseudónimos, nomes andróginos ou apenas iniciais. Em 2015, a escritora Catherine Nichols usou um pseudónimo masculino para contactar editoras que tinham previamente rejeitado as suas propostas e verificou que a grande maioria das respostas que obteve eram positivas.

Ao longo da história, foram muitas as vezes em que as mulheres tiveram de ocultar o seu próprio nome para serem levadas a sério na indústria do livro. No século XIX, as irmãs Charlotte, Emily e Anne Brontë escreveram sob os pseudónimos de Currer, Ellis e Acton Bell, depois de lhes terem dito que "a literatura não é uma ocupação para a vida de uma mulher"; na mesma altura, Mary Anne Evans (que assinava George Elliot) publicou a tese Romances Palermas de Mulheres Romancistas; nos anos 70, Ann Rule, mestre do género policial, adoptou os nomes Arthur Stone, Chris Hansen e Andy Stack para conseguir ver as suas obras publicadas; mais recentemente, J.K. Rowling também admitiu ter optado pelas iniciais do seu nome para cativar os leitores masculinos. 

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