EUA e Reino Unido acusam Rússia de dificultar investigação a ataque químico

Militares podem ter adulterado provas e os inspectores ainda não chegaram ao local. Londres diz que há registo de 390 incidentes com armas químicas na Síria desde 2014.

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A Organização para a Proibição de Armas Químicas reuniu-se de emergência para discutir o suspeito ataque químico em Douma KOEN VAN WEEL/EPA

Num encontro à porta fechada da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ), os Estados Unidos acusaram a Rússia de ter adulterado provas no local onde se suspeita que houve um ataque químico em Douma, e os britânicos de não haver sequer ainda acesso da equipa dos inspectores ao local do ataque. Moscovo negou ambas as afirmações.

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Num encontro à porta fechada da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ), os Estados Unidos acusaram a Rússia de ter adulterado provas no local onde se suspeita que houve um ataque químico em Douma, e os britânicos de não haver sequer ainda acesso da equipa dos inspectores ao local do ataque. Moscovo negou ambas as afirmações.

Depois do ataque de 7 de Abril em Douma, em que terão morrido mais de 75 pessoas, a cidade, que estava cercada, rendeu-se, e os rebeldes foram levados para outros locais da Síria.

As tropas russas estiveram no terreno e negaram ver qualquer indício de ataque. Mais tarde, responsáveis de Moscovo disseram que o Reino Unido estava por trás de uma encenação de ataque, algo que Londres rejeitou como uma ideia “absurda” e a “notícia falsa mais óbvia da propaganda russa”.

O enviado norte-americano disse na sessão da OPAQ, em Haia, que “os russos podem ter visitado o local do ataque” e que os EUA estão preocupados com a possibilidade de o terem feito com “o objectivo de dificultar os esforços da missão da OPAQ conduzir uma investigação eficaz”.

A embaixada da Rússia negou que Moscovo tenha interferido na investigação, acusando os EUA, Reino Unido e França de terem levado a cabo o ataque da madrugada de sábado contra instalações ligadas a armas químicas na Síria como tentativa de dificultar o apuramento dos factos. Os EUA, Reino Unido e França lançaram mísseis contra três instalações ligadas a armas químicas e não contra qualquer alvo em Douma, onde ocorreu o suspeito ataque químico.

O embaixador do Reino Unido na OPAQ, Peter Wilson, disse que a organização já registou mais de 390 incidentes de uso ilícito de munições proibidas na Síria desde 2014, a data em que o regime de Bashar al-Assad teria completado a destruição do seu stock de armamento químico após um acordo patrocinado pela Rússia no ano anterior. A Síria aderiu então também ao tratado que proibiu o uso de armas químicas e à OPAQ.

Também indicou que os inspectores da OPAQ, que deveriam ter começado o trabalho no local no sábado, ainda não tinham tido acesso a Douma. Peritos alertam que a janela de tempo para encontrar vestígios de químicos é apertada e já passou mais de uma semana sobre o ataque. A Rússia diz que os inspectores poderiam ter tido acesso se não tivesse acontecido o ataque dos três aliados.

A União Europeia apelou aos países que apoiam Assad com meios militares no terreno, ou seja à Rússia e ao Irão, para “usarem a sua influência para impedir o uso futuro de armas químicas”.